Eis aí a "prova do crime": o gesso foi colocado em Caracas e retirado em Salvador (Bahia) (Foto no espelho: Jadson Oliveira) |
Belo Horizonte (MG) – Retornei a Caracas na última semana de julho/2012 para acompanhar a campanha eleitoral que resultaria na reeleição, no dia 7 de outubro, do então presidente Hugo Chávez. Já sem gesso na mão, agora teria de fazer a fisioterapia.
Iria passar dois meses aos cuidados da equipe de reabilitação do CDI (Centro de Diagnóstico Integral) do bairro (“urbanización”) de Montalbán, do serviço público de saúde da Venezuela, cujos médicos são todos cubanos (os técnicos e auxiliares são cubanos e venezuelanos).
Na mesma semana em que cheguei fui ao CDI. Me mandaram me apresentar na segunda-feira, às 6 horas da manhã, para a consulta. Quando cheguei, constatei um procedimento inusitado: os próprios pacientes se incumbiam de fazer uma lista com os nomes dos que iam chegando. Não me lembro se me avisaram antes: é que, no tocante à consulta com o médico (no meu caso foi uma médica), para a fisioterapia, só eram atendidas 15 pessoas. Me recordo que fui o número 12 na lista.
Onde funciona o CDI de Montalbán, em Caracas (Fotos: Jadson Oliveira) |
E recomendou: exercícios apertando uma bolinha de borracha e mergulhar a mão em água o mais quente possível, durante uns 5 minutos (ou 10, não me recordo), duas vezes por dia.
Para os exercícios lá no CDI eu chegava às 8 horas da manhã e saia por volta das 9:30/10 horas. Fazia toda vez uma aplicação com um aparelho (passa gel na parte afetada da mão, me esqueci o nome do procedimento) e, em seguida, três tipos de exercícios numa sala repleta de aparelhos para reabilitação e mais um tipo de exercício em outra sala.
(Esse prédio do CDI onde fiz o tratamento é bem grande, há vários setores, acho que dá pra notar numa foto que pretendo publicar nesta matéria. No pátio da entrada do setor que freqüentei, o da fisioterapia, se aglomerava no início da manhã – eu chegava às 8 horas - também o pessoal de cardiologia e odontologia, eram dezenas de pacientes. A partir daí, eram encaminhados às diversas salas).
Dois meses (24 sessões) de fisioterapia
Logo no primeiro dia eu aprendi meus exercícios: nos dias seguintes, eu chegava, cumprimentava, ia pegando os aparelhos à medida que outros pacientes iam liberando e tchau. Meu caso realmente parecia muito simples. Sempre havia uns 15 a 20 na sala maior, atendidos por dois técnicos, ambos cubanos (Na sala menor a técnica era venezuelana). Via lá eles se virando pra fazer os exercícios em pacientes mais necessitados de atenção do que eu – geralmente crianças e idosos.
(Uma vez perguntei a um deles – o que me ensinou os exercícios no primeiro dia, esqueci seu nome – se eles iriam embora se Chávez perdesse a eleição. Ele disse que achava que sim, mas acrescentou que acreditava que Chávez ia vencer).
Meu cartão ("tarjeta") de identificação na fisioterapia (recebi o papelzinho e mandei plastificar) |
A doutora María Julia me deu alta (veja a data: 3/10/2012) e a receita para o complexo de vitaminas B |
Findo o segundo mês de tratamento, nova consulta. Pensei: desta vez, adeus “fisioterápia” (como eles dizem por lá, botei o acento pra indicar a pronúncia), já estou perfeitamente bom do dedinho, digo à médica que já estou indo embora. Bem, não precisou, ela me deu alta, receitando umas vitaminas B. (Comentei que estava indo pra Cuba, ela me falou “ah! Varadero!”, que é uma praia turística badaladíssima de Havana).
Pois é, tenho boas recordações do tratamento recebido dos “médicos cubanos” da “Misión Barrio Adentro” inventada pelos chavistas. Hoje, aqui no Brasil, me quedo pasmado e indignado com tanta asneira e pedrada jogada por uma parcela privilegiada de brasileiros (inclusive médicos), diante da chegada de médicos cubanos para ajudar no atendimento a brasileiros carentes.
Poderia se dizer que se trata dum absurdo, mas não é absurdo: os interesses capitalistas, no fundo e por trás, explicam tudo, inclusive os preconceitos e os conceitos enviesados criados para respaldar os mesmos interesses capitalistas.
Se serve de consolo a esses brasileiros enganados, lá em Caracas também gente da classe média anti-chavista falava o diabo dos médicos cubanos. A família com quem morei lá (aluguei um dos dois quartinhos que mantinha para aluguel), por exemplo, me dizia, sempre que se tocava no assunto: “Não são médicos”, com aquele ar de escárnio.
O mesmo ódio, o mesmo preconceito, a mesma matriz ideológica.
(No próximo capítulo, o último, publico uma matéria falando de modo geral sobre os CDIs).
(A parte 2 deste relato foi postada no
dia 20/agosto)
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