HOMOSSEXUALIDADE E CASTIDADE



(Foto: Página/12)
O papa Francisco disse: “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para criticá-la?” Seria o caso de perguntar se tal declaração pode constituir uma mudança da posição da Igreja Católica a respeito da homossexualidade. E a resposta seria categoricamente “não”. Não haverá mudanças na doutrina da Igreja a este respeito.

Por Washington Uranga, no jornal argentino Página/12, edição de 30/07/2013

Em sua viagem de regresso a Roma depois de sua visita ao Brasil, o papa Francisco teve um descontraído diálogo com os jornalistas e sustentou na ocasião que “se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para criticá-la?” Seria o caso de perguntar se tal declaração do Papa pode constituir uma mudança da posição da Igreja Católica a respeito da homossexualidade. E a resposta seria categoricamente “não”. Porque Francisco não afirmou nada diferente daquilo que a Igreja vem sustentando. E ele mesmo esclareceu: “O catecismo da Igreja Católica explica isto de forma muito bonita”.

O que diz a respeito o catecismo?

Na terceira parte da segunda seção, sob o subtítulo “Castidade e homossexualidade”, no parágrafo 2358, pode-se ler que “um número apreciável de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente arraigadas. Esta inclinação, objetivamente desordenada, constitui para a maioria deles uma autêntica prova”. “Tendência” é a palavra que usou Francisco para qualificar a homossexualidade e esse é o mesmo vocábulo que figura no catecismo. O texto da Igreja acrescenta que os homossexuais “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e gentileza”. E aconselha que “se evitará, a respeito deles, todo sinal de discriminação injusta. Essas pessoas estão chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida, e, se são cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa da sua condição”. Francisco disse agora que “o problema não é ter esta tendência. Devemos ser irmãos”. Nada de novo debaixo do sol.

Qual é a proposta que o catecismo da Igreja Católica – ao qual Bergoglio remeteu – faz para os homossexuais? “As pessoas homossexuais estão chamadas à castidade. Mediante virtudes de domínio de si mesmo que eduquem a liberdade interior, e às vezes mediante o apoio de uma amizade desinteressada, da oração e da graça do sacramento, podem e devem se aproximar gradual e decididamente da perfeição cristã”. (Nº 2359).

São necessárias mais explicações?

Não haverá mudanças na doutrina da Igreja a respeito da homossexualidade. O que é possível é que, por influência de Bergoglio, a Igreja mude a atitude agressiva que teve a respeito dos homossexuais por uma conduta mais “pastoral”, ou dito de outra maneira, mais próxima e compreensiva daqueles que têm “esta tendência”. Pode haver diálogo e até respeito pela diferença, mas não modificações nos aspectos substanciais do ensino na matéria. Tampouco a aceitação pública de que a homossexualidade é uma realidade portas adentro da instituição católica.

E como se entende a afirmação de que “o problema é fazer um lobby (gay)”? É difícil saber o que passou pela cabeça de Bergoglio quando fez tal formulação ou a que está apontando quando assinala o “lobby” e diz que todo “lobby é ruim”. Mais difícil ainda de compreender quando, a partir da Argentina, se recorda a militância (política? lobby?) que o próprio Bergoglio e os bispos argentinos fizeram para impedir a aprovação da lei sobre o casamento gay (“matrimônio igualitário”, como se diz lá).

Poderia sintetizar então que Francisco aconselha que a atitude diante dos homossexuais deva ser caridosa, sem julgar esta “tendência” e sempre e quando os gays não façam política em defesa dos seus direitos.

Tradução: Jadson Oliveira

Comentários

Anônimo disse…
Parte 1

João Paulo II na carta Salvivici Doliris, afirma que podemos questionar Deus sobre nosso sofrimento e que Deus espera estes questionamentos. O que faço é exatamente isso trazer questões não respondidas..

Obviamente que as palavras inesperadas do Papa Francisco causaram rebuliço e interpretações das mais diversas.
Para quem vive o problema e quem o encara com seriedade não mudou nada. As questões não respondidas permanecem. Os diversos sites católicos não ampliam a discussão, mas ficam apenas no texto do Catecismo, como se ele contivesse todas as respostas.
Primeira questão não tratada, o livre arbítrio. O Catecismo afirma que a homossexualidade é contrária ao plano de Deus. Esta afirmação leva a conclusão que o plano pressupõe um Criador e daí que tudo que existe decorre da ação Deste. Portanto, nada do que existe escolheu existir ou participar do plano. Assim ninguém escolhe as condições objetivas da existência; constituição genética, raça, cor, gênero, época histórica de nascimento, nacionalidade, condição social, família. Portanto, o arbítrio humano é limitado por condições objetivas que não escolheu.
Neste sentido se insere a condição homossexual. Tivera se alterado qualquer das condições objetivas a situação poderia ser outra? Mas ele não escolheu as condições objetivas, alias nem escolheu existir. É razoável e racional que qualquer pessoas ao adquirir um carro novo e perceber um defeito de fabricação, sem dúvida o devolverá ao fabricante para que entregue um modelo sem o problema. O homossexual ao descobrir o problema em sua existência não consegue se devolver ao Criador e pedir que o recrie sem problema.
Constatado problema, o Catecismo afirma que o problema não é pecado, mas que este problema vai limitar sua existência, ou seja, você terá que abrir mão da vivência de praticas sexuais. Voltando ao exemplo do carro, imagine você dizendo que o carro tem um problema e o fabricante te respondendo, olhe o problema do carro só será problema de fato se você andar com ele, caso o deixe parado não tem problema algum. Ok? Obviamente que o dono do carro esperava poder andar com o carro, assim como qualquer humano espera poder encontrar alguém, amar e ter vivências sexuais.
Quanto a castidade, única solução para o problema homossexual, quando é apresentada seja no Catecismo, seja nos diversos sites, não se faz um aprofundamento. Alguns citam a cruz, mas mesmo assim fica uma apresentação romantizada. De que cruz objetiva estamos falando? Sempre fui católico e acreditei que adotando a castidade seria feliz, uma vez que era o único caminho apontado pela Igreja. O que é necessário é que se seja verdadeiro, e seja dito que da castidade decorrerá a solidão. Isto é inevitável. Mesmo que a pessoa tenha uma vida intensa de oração, quando estiver em seu quarto a noite terá que saber que estará sozinha, Deus não vem para fazer companhia e se nas noites de solidão a pessoa chorar Deus também não virá enxugar as lágrimas. É uma romantização falar que a oração dará um jeito nisso tudo. Não dá! Rezo muito, leio a Bíblia todos os dias, vou a missa, me confesso regularmente, pratico caridade, mas a solidão não muda. A noite, penso nos meus colegas de trabalho, todos pessoas que estão de acordo com o “Plano” e os imagino “amando” suas esposas naquele. No momento por mais que eu reze não consigo afastar a inveja e a raiva do meu coração.
Daí você vai a Missa e não poucas vezes encontra um colega de escola e o vê com a esposa e filhos. Ou no dia dos pais, o padre chamará os pais a frente. Ou quando seu colega de trabalho comenta da viagem que fez com a família ou de um jantar com a esposa. A única coisa que você consegue fazer é perguntar a Deus “Por que eu não posso?”, mas não aguarde resposta porque não se tem. Apenas o silêncio.
Poderia enumerar diversas situações.
Anônimo disse…
Parte 2
Quanto ao acolhimento proposto pelo Catecismo. Isto não existe nas paróquias. Para haver um acolhimento é preciso empatia (colocar-se no lugar do outro). Devido a fatores culturais nenhum homem consegue se colocar na vivência de um homossexual. Isto porque aquela situação é a afronta mais temível para qualquer homem. Ele aprende isso desde pequeno. Quando um homem quer ofender um outro, do é que ele o xinga? Ele o xinga dos vários sinônimos que a condição homossexual ganhou no jargão popular. Lembro-me de quando mais jovem e me atrevia a jogar futebol e ouvia os colegas se xingando a todo momento. Pensava: eles se xingam daquilo que eu sou, então o que eu sou é uma coisa degradante para eles. Deixei de jogar era insupotável. Portanto, não pode haver acolhimento porque não existe um real conhecimento da vivência. A igreja tem apenas conceitos teóricos sobre o assunto, mas não conhece a pessoa de fato.
Depois de uma vida infeliz, na vivência da castidade, o que aguarda o homossexual. Será que uma eternidade infeliz? Porque por toda a eternidade ele se lembrará que foi homossexual e seus colegas não. Portanto, a eternidade não é capaz de apagar a discriminação. Será assim?
Quanto separar pecado e pecador. Explicando o pecado não é atração pelo mesmo sexo, mas a prática de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo É difícil separar uma coisa da outra, porque um ladrão só o é de fato se rouba, ou um assassino só o é se mata. Os atos nestes casos definem a condição. No caso homossexual a questão esta no ser e independe de atos.
Portanto, ao propor a castidade, lembrem de dizer que esta pessoa não será feliz, não será acolhida pela Igreja e que viverá sozinha para sempre. Não criem ilusões para pessoas que já carregam tanto sofrimento simplesmente porque o Catecismo diz assim.
Uma última questão. Jesus pode ter falado sobre a homossexualidade e ter reprovado tal pratica, mas não ficou registrado. Porém, fez severas condenações quanto as riquezas, alertando que elas impedem o acesso ao Reino de Deus. No Catecismo vemos o seguinte, a indicação de castidade aos homossexuais, ou seja, jamais praticar sexo. Porém, para as riquezas, condenadas por Jesus veementemente, a posição é bem mais branda, basta não se apegar as riquezas e estará tudo bem. Será que foi isso que Jesus desejou? É um caso para se refletir.
Sodoma e Gomorra precederão a muitos no reino dos céus, segundo Jesus. Uma boa reflexão para aqueles que acreditam ter toda a verdade. Mas certamente ela não está contida em dois ou três parágrafos do Catecismo.