A delegação de negociadores das FARC, no sábado, antes de retomar as negociações em Havana (Foto: Página/12) |
Chegou a fase de discutir a
participação política na agenda do governo e da guerrilha: se trata dum ponto
crucial da negociação, já que poderá habilitar a incorporação da guerrilha à
vida política institucional através da formação dum partido. “Nunca se chegou tão
longe”, declarou o representante do governo.
Matéria do jornal argentino Página/12, edição de 11/08/2013, com o título “Nova rodada para a
paz na Colômbia” (o título acima é deste blog)
O governo
do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e as FARC (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) iniciaram ontem (sábado, dia 10) o diálogo sobre o
tema da participação política. Se trata dum ponto crucial da negociação, já que
poderá habilitar a incorporação da guerrilha à vida política institucional
através da formação dum partido. “Nunca se chegou tão longe”, declarou o líder
da equipe negociadora do governo, o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, ao
ressaltar que esperam lograr o acordo em relação direta com o fim do conflito,
assim como conseguiram sobre o desenvolvimento rural na primeira fase do
diálogo.
(...)
Concretamente,
os avanços na elaboração de acordos nesta fase têm que ver com o estabelecimento
de direitos e garantias para o exercício da oposição política em geral, e em
particular para os novos movimentos que surjam depois da assinatura do acordo
final. “As FARC, se fazem a transição a movimento político legal como
esperamos, requerem garantias especiais como ocorreu em todos os processos de
diálogo do mundo”, assinalou De la Calle, mas advertiu que após firmar um acordo
final se espera que deixem suas armas, se desmobilizem e se incorporem à
democracia.
As FARC
insistiram que entre as principais garantias que exigem do governo de Santos
estão o respeito à vida dos membros da oposição e uma reforma profunda do
sistema eleitoral e político, para o qual
apresentaram 10 propostas mínimas para debate. A guerrilha, que aspira a
que se produzam mudanças estruturais, legislativas e constitucionais profundas,
sustenta que não se trata somente do futuro papel político das FARC, mas do
conjunto da esquerda e dos movimentos democráticos e revolucionários do país.
O ponto da
participação política é o segundo dos seis temas da agenda geral pactuada para
as conversações e implica a incorporação da guerrilha ao sistema democrático. O
anúncio teve lugar no sábado no Palácio das Convenções de Havana, sede dos
diálogos desde seu início em novembro passado, e onde ambas delegações compareceram
para fechar o 12º. ciclo das negociações, que serão retomadas na próxima
segunda-feira, dia 19.
As FARC qualificaram
de significativos os avanços sobre este segundo ponto do diálogo numa declaração
lida por seu número dois e líder negociador, Iván Márquez, codinome de Luciano
Marín Arango. “Demos muitos passos porque sabemos que há uma identidade num
alto percentual das propostas que nós fizemos com as propostas do governo”, disse
em entrevista coletiva o guerrilheiro Jesús Santrich, codinome de Seuxis
Paucias Hernández.
Márquez
insistiu na necessidade de se convocar uma Assembleia Nacional Constituinte.
“Vamos participar e garantir que o povo
colombiano e todos os setores sociais tenham lugar na paz.” Ao mesmo tempo,
reiterou a vontade das FARC de reinventar a política diante do crescente
descrédito na democracia por parte dos setores mais excluídos, segundo sua visão.
“A paz deve ser uma política de Estado para que os eventuais acordos perdurem e
devemos buscar um modelo de democracia de inclusão, que não acabe com a
confrontação das ideias mas que tire de cena a guerra”, acrescentou.
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