CAMELÔS VENDERAM CARTAZES EM MANIFESTAÇÃO NO RJ




Primeira noite do ciclo de debates: Arthur William (NPC/RJ), Joana Tavares (Brasil de Fato) e Rodrigo Vianna (repórter e blogueiro/SP) (Fotos: Jadson Oliveira)
De Belo Horizonte (MG) – Este detalhe atesta claramente o espírito espontâneo e desorganizado da maioria dos manifestantes que invadiram as ruas do Brasil nas jornadas de junho último. A informação, que parece ter surpreendido os presentes, foi dada por Arthur William, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), do Rio de Janeiro, um dos palestrantes no ciclo de debates Mídia, Hegemonia e Transformação Social, promovido pelo grupo que faz a edição mineira do jornal Brasil de Fato e que foi iniciado na terça-feira, à noite, dia 20, na sede do Sindicato dos Jornalistas em Belo Horizonte.


“Já escritos?”, ou seja, já com os protestos ou bandeiras de luta escritos nos cartazes? perguntou Rodrigo Vianna, jornalista e blogueiro que foi o outro palestrante da noite. William confirmou e deu mais um detalhe interessante: as manifestações chegaram a ser apelidadas de “self-service”. Quer dizer, cada um se servia a gosto, ia lá com um pedaço de cartolina ou papelão e escrevia e portava seu protesto. Ou até comprava em mãos do camelô o protesto que mais lhe apetecia.


Pincei esses detalhes mais picantes para registrar os debates que vão continuar até 17 de setembro, sempre nas noites das terças-feiras, no mesmo lugar. É pena que, ao que parece, a venda de cartazes não tenha sido objeto de matéria de algum órgão de imprensa. Aqui ficou quase unicamente como uma técnica jornalística para atrair leitores, pois carente de mais dados e imagens que registrassem o fenômeno.
William: "Manifestações self-service"
Rodrigo: força da democracia no Brasil e na América Latina
O tema de Arthur William foi “Comunicação popular e disputa de hegemonia”, já que o NPC no qual atua parece ter uma boa experiência nesse campo entre os movimentos populares do Rio. Ele abordou a questão num cenário em que grandes corporações – dum lado as de telecomunicações e do outro as da mídia hegemônica – travam uma disputa nos marcos da necessidade de regulação do setor. Um assunto – pelo menos para mim – bastante árido (Ontem mesmo, dia 22, li um artigo sobre isso no blog Viomundo: Gustavo Gindre: Só a Globo sobrevive a médio prazo).


Sobre isso, Rodrigo Vianna contou ter informação duma fonte do governo federal, segundo a qual gente da Globo já procurou o governo em busca de fazer andar a regulação da mídia, claro que de maneira a “puxar a brasa para sua sardinha”. (Nessa “briga de gigantes”, de acordo com seguidos comentários que circulam pela blogosfera, o ministro das Comunicações do governo Dilma, o petista Paulo Bernardo, funcionaria como lobista das teles).


Gramsci já sabia: a mídia é o partido da direita


Rodrigo, que tem o blog Escrevinhador, fez também uma palestra interessante sob o título “Mídia e poder hoje”. Deu uma visão geral da luta política atual, levando em conta o papel da mídia tradicional (hegemônica, já chamada “velha mídia”) e a entrada em cena da Internet (blogs, sítios, sites, portais), realçando a força e a importância da democracia no Brasil e na América Latina, ao contrário do que vemos hoje na Europa, por exemplo.
Sobre um fenômeno político, atualmente em grande evidência, de que os meios hegemônicos de comunicação se tornaram o verdadeiro partido da direita, ele chamou a atenção para um detalhe importante, do ponto de vista teórico: desde o início do século 20, o revolucionário italiano Antonio Gramsci, o “descobridor” da teoria sobre a disputa da hegemonia na sociedade, já tinha chegado a essa conclusão. Na época, claro, se tratava do papel dos jornais (impressos, de papel).


As exposições foram seguidas de perguntas e debates, tudo sob a mediação da jornalista Joana Tavares, responsável pelo Brasil de Fato – Edição MG. Na próxima terça, dia 27, será a vez de “Regulação dos meios de comunicação” no Brasil, na América Latina e em Minas, com Gésio Passos (Intervozes), Igor Fuser (professor da Cásper Líbero-SP) e a seção mineira do Fórum Nacional para Democratização da Comunicação (FNDC/MG).

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