Chegou a vez do povo organizado nos movimentos sociais, no movimento sindical e nas pastorais fazerem mobilizações
Por João Pedro Stédile (foto), no sítio do jornal Brasil de Fato, de 10/07/2013
Desde
a campanha das “Diretas Já”, na década de 1980, não tínhamos
mobilizações de rua tão vigorosas. Os protestos que eclodiram com a
indignação da juventude foram apenas a ponte de um iceberg dos graves
problemas sociais e econômicos que persistem na nossa sociedade.
De
um lado, as grandes cidades se tornaram um inferno, em que os
trabalhadores pagam caro por um transporte público de má qualidade. Além
disso, ficam de duas a três horas no trânsito, que é um tempo perdido
de suas vidas.
Quem se iludiu com as facilidades
para comprar um carro, financiado pelo capital financeiro internacional,
está se dando conta que pagou caro e não consegue andar. Já as
montadoras e bancos associados nunca enviaram tanto dinheiro para o
exterior como agora.
De outro lado, a vida
política do país é uma vergonha. Os parlamentares representam apenas
seus financiadores de campanha. O Poder Judiciário é um poder
oligárquico, sendo o último dos poderes ainda não republicano.
Todos
os dias saem notícias de suas falcatruas, que ficam impunes. Até o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, usou
recursos públicos para assistir um jogo da seleção brasileira… A Rede
Globo não denunciou e, coincidentemente, acaba de contratar o filho do
ilustre magistrado. Tudo a ver!
A mesma Globo que
foi multada pela Receita Federal por sonegação milionária de impostos,
na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002: a
empresa deve, segundo a Receita, R$ 650 milhões de reais aos cofres
públicos.
A emissora também recebeu do governo
estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro uma bagatela de R$ 20 milhões
para promover com dinheiro público um espetáculo de apenas duas horas
durante o sorteio dos jogos da Copa das Confederações, realizado no Rio
Centro no ano passado.
A Rede Globo se achava a
porta-voz do povo. Ledo engano. Mal consegue enganar os telespectadores
das novelas. Um dos gritos da juventude que mais se repetiram nas ruas
foi: “Fora a Rede Globo!” Com isso, pipocam atos de jovens contra o
monopólio da emissora e pela democratização das comunicações em todo o
país.
Diante dos protestos, o governo Dilma teve
que sair de seu pedestal para dialogar com as ruas, propondo uma reforma
política, uma assembleia constituinte e um plebiscito popular. E,
finalmente, a presidenta passou a se reunir com os setores organizados, o
que não fez ao longo de dois anos e meio de mandato.
As
elites tentam controlar as ruas e impor uma pauta de direita. No
entanto, não conseguiram. Sobrou-lhes o papel de atiçar uma polícia
despreparada e infiltrar grupos fascistas e serviços de inteligência das
polícias para provocar violência e descaracterizar o movimento. Não
conseguiram. Quanto mais reprimem, mais o povo se rebela.
Movimento sindical e popular nas ruas
Chegou
a vez do povo organizado nos movimentos sociais, no movimento sindical e
nas pastorais fazerem mobilizações. Pela primeira vez, depois da
derrota nas eleições de 1989, não se via uma unidade popular tão ampla.
Diversas
plenárias uniram partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos
sociais organizados em torno de uma plataforma política comum, que parte
da luta pelo transporte público gratuito e de qualidade e avança para
reformas estruturais que a classe trabalhadora precisa e luta há muito
tempo.
O primeiro dia de luta do conjunto das
organizações está marcado para 11 de julho. Serão realizadas
paralisações, greves e marchas em todo o país para enfrentar os setores
conservadores e empurrar o governo para a esquerda.
Um
dos pontos dessa plataforma comum é a reforma política. É preciso
passar a limpo as regras da política brasileira para democratizar e
criar mecanismos de efetiva participação popular.
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