Por Heloisa Villela, de Nova York - reproduzido do blog Viomundo, de 20/07/2013
Afinal, onde está a revolta?
A pergunta é cada vez mais frequente nos blogs dos Estados Unidos. Richard Eskow já foi músico, consultor e executivo de Wall Street na área de tecnologia.
Com o título acima ele publicou, recentemente, na internet, um artigo comparando Estados Unidos e Brasil — no qual cita o brasileiro Paulo Freire várias vezes. Quando fala da crescente desigualdade na sociedade norte-americana, ele afirma que a retórica do consenso e da busca de acordo, uma constante na atuação política do presidente Barack Obama, é responsável por boa parte do acirramento dessa desigualdade. Conclui com palavras de Paulo Freire: “Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele”. Para explicar porque mudou de carreira para se dedicar ao jornalismo na internet, novamente cita o brasileiro, lembrando que a palavra transforma o mundo.
Eskow conheceu as ideias de Paulo Freire bem cedo, através do pai, que era educador. Ele acha que o momento pede a leitura e os pensamentos do pernambucano.
Apesar de se considerar um otimista, Eskow analisou o processo de concentração de renda nos Estados Unidos e concluiu que ele cria um círculo vicioso: dá ainda mais poder de fogo aos grandes grupos, que investem pesado nas campanhas eleitorais e nos lobbies, para garantir leis ainda mais vantajosas ao capital no Congresso.
Eskow também leva em consideração as denúncias recentes sobre espionagem doméstica. Elas refletem um estado policial cada vez mais opressor, que se une aos interesses financeiros para desmantelar qualquer movimento de massa nascente, como aconteceu com o Occupy. Ainda assim, acredita que é possível vencer toda essa máquina e vê, no temor dos poderosos, sinais de que o caldo eventualmente vai entornar.
Que medo é esse? Ainda bem conectado ao mundo das finanças, ele conta que um amigo economista voltou há pouco de uma reunião na Europa com 100 representantes de instituições financeiras mundiais e perguntou qual era o clima entre os banqueiros. “Eles estão aterrorizados”, disse o amigo.
Por quê? Segundo Eskow, eles analisam as estatísticas, os gráficos e dados econômicos. Sabem que a concentração de renda nas mãos de uma camada cada vez menor da população é uma receita desastrosa. Cria uma situação de instabilidade cada vez maior que pode, a qualquer momento, explodir. E nem por isso eles cedem: a ganância vicia.
Na pergunta do título vai implícito: quando essa panela de pressão vai dar sinal de vida? Enquanto a situação econômica da maioria piora, os norte-americanos continuam calados, trancados em casa, provavelmente achando que são uns fracassados.
Olham para os problemas de forma individual. Não conectam o que estão vivendo com o que se passa com o vizinho, com o colega de trabalho que também perdeu o emprego, com o conhecido que perdeu a casa porque não conseguiu mais pagar as prestações…
Eskow também responsabiliza a mídia norte-americana por essa alienação, já que ela não discute os problemas econômicos que a população enfrenta. “Limita-se ao trivial”, afirma.
Para Eskow — uma versão estadunidense de blogueiro sujo, já que o espaço dele se chama Crooks and Liars, Velhacos e Mentirosos — o Brasil ofereceu um bom contraste ao que se passa na terra de Tio Sam.
Enquanto todos os indicadores mostram que houve uma mudança positiva para os mais pobres e uma ascensão de muitos à classe média no Brasil, ainda assim os protestos explodiram. Ou seja, melhoria e mais protestos (no Brasil). Concentração de renda cada vez maior e silêncio (nos Estados Unidos). Na conversa com o Viomundo, ele analisou essa apatia.
Clicar aqui para ler a entrevista:
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