Manifestantes na Ponte Estaiada, em São Paulo |
Por Marco Aurélio Mello (ex-editor da TV
Globo em São Paulo), no blog DoLaDoDeLá,
de 17/06/2013
Em
São Paulo, a concentração se deu no Largo da Batata. Para quem não conhece a
cidade, o largo fica no início da Rua Teodoro Sampaio, uma importante ligação
entre a Cidade Universitária e a Faculdade de Medicina da USP, na Av. Dr.
Arnaldo, bem "na cara" da Av. Paulista.
Já no ponto de partida, o repórter Caco Barcellos, um dos
mais respeitados jornalistas da TV Globo em atividade e, talvez por isso,
escalado por Ali Kamel para cobrir o evento, foi expulso com sua equipe do
local, não pelo que ele representasse, mas pelo amargo significado que tem o
logotipo que ele ostentava no cubo que vai acoplado ao seu microfone.
A Globo se defendeu:
A Globo se defendeu:
A expectativa era a de que a marcha convocada na semana passada seguisse em direção à região central. Por isso, a maior parte do efetivo policial ficou concentrada no bairro de Pinheiros e adjacências, onde estava o ponto de partida, e em toda a subida, até a mais paulista das avenidas.
Só que ninguém esperava que o grupo se dividisse e marchasse em três frentes, uma parte em direção à Paulista, outra pela a Av. Faria Lima, em direção à zona Sul e mais uma em direção à Marginal do Rio Pinheiros, também sentido zona Sul. Na altura da ponte Cidade Jardim, havia a expectativa de que os manifestantes entrassem à direita e rumassem para o Palácio do Governo, no Morumbi.
Só que, surpreendentemente, eles seguiram em direção à zona Sul, mais precisamente no sentido do bairro do Brooklin, que é onde está a sucursal paulistana da TV Globo. Enquanto isso, o grupo que seguia pela Av. Faria Lima, entrou pela Av. Luis Carlos Berrini, também em direção à Globo.
Por volta das 20h30 eles estavam diante da sede da emissora, só que sobre a Ponte Estaiada. Foi quando a manifestação atingiu seu ápice. Aglomerados sobre os dois braços do novo monumento da cidade, todos entoaram o hino nacional.
Muitos gritavam palavras de ordem, como: o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo. Um sinal de que o descontentamento passa, não só pela forma como os governos agem, em benefício próprio, mas como a mídia perpetua as desigualdades sociais, quando cede aos seus próprios interesses, ou aos de seus patrocinadores.
Amedrontados, muitos assistimos pela TV, com o temor de que o "espírito de corpo" rompesse com o sentimento de civilidade e explodisse em cenas de fúria, vandalismo e destruição. Mas por incrível que pareça, sem Tropa de Choque e sem Rota, desta vez, o que se viu foi a mais autêntica e pacífica manifestação de cidadania.
São Paulo deu uma lição ao país, ao governador, ao prefeito e à maior emissora de TV do Brasil. E o recado foi claro: ou mudamos a maneira como fazemos política e democratizamos o acesso à informação, ou a insatisfação só tende a aumentar, e aí, bem amigos, aí ninguém garante.
Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil!
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