Mujica: "Pobre é quem precisa de muito para viver"; segundo ele, sua vida austera tem como objetivo "manter-se livre" (Foto: Internet) |
Do Opera Mundi, de 20/05/2013 (enviado pelo companheiro Geraldo Guedes, de Brumado-Bahia)
O presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou em entrevista concedida na sexta-feira (17/maio) à rede estatal chinesa Xinhua que não concorda com o título que lhe foi atribuído pela imprensa internacional de “presidente mais pobre do mundo”, em razão de seu estilo de vida simples. Segundo ele, esse título é incorreto porque “pobres são aqueles que precisam de muito para viver”.
Segundo ele, sua vida austera tem como objetivo “manter-se livre”. “Eu
não sou pobre. Pobre são aqueles que precisam de muito para viver, esses são os
verdadeiros pobres, eu tenho o suficiente”, afirmou.
"Sou
austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo, porque para viver não preciso de
muito mais do que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é ter tempo para fazer
o que se gosta”, disse o presidente. Ele considera que o indivíduo não é livre
quando trabalha, porque está submetido à lei da necessidade. "Deve-se
trabalhar muito, mas não me venham com essa história de que a vida é só
isso".
Assim
como já fez com outros correspondentes internacionais, Mujica recebeu a equipe
de reportagem chinesa em sua modesta propriedade rural em Rincón del Cierro,
nos arredores de Montevidéu, ao lado dos cães e galinhas que cria e alimenta
todos os dias.
Aos
77 anos, Mujica doa 90% de seu salário de 260 mil pesos uruguaios (quase 28 mil
reais) a instituições de caridade. Não possui cartão de crédito nem conta
bancária. Sua lista de bens em 2012 inclui um terreno de sua propriedade e dois
com os quais conta com 50% de participação, todos na mesma área rural – diz ter
alma de camponês, e se orgulha de sua plantação de acelgas, e já pensa em
voltar a cultivar flores.
Possui
dois velhos automóveis dos anos 1980 (entre eles um Fusca com o qual vai ao
trabalho) e três tratores.
Segundo
o presidente uruguaio, essa opção de vida foi gestada durante os anos em que
viveu preso sob duras condições (1972-1985), em razão de sua atividade como
guerrilheiro como membro do MLN-T (Movimento de Libertação Nacional -
Tupamaru), movimento que lutou contra a ditadura militar.
"Por
que cheguei a esse ponto? Porque vivi muitos anos em que, quando recebia um
colchão à noite para dormir, já me dava por contente. Foi quando passei a
valorizar as coisas de maneira diferente”, disse ele sobre seus tempos de
cárcere, quando disse ter passado a conversar com rãs e formigas para “não
enlouquecer”.
Ele
afirmou duvidar que a próxima eleição presidencial, marcada para 2014, vá
atrapalhar sua gestão, e se diz animado com um projeto pessoal para quando
deixar o Executivo, em março de 2015: "Quando terminar esse trampo (changa
em espanhol, referindo-se à Presidência) que tenho agora, vou me dedicar a
fazer uma escola de trabalhos rurais nesta região”.
"O
governo funcionará até o último dia, mas já adianto que após as eleições os
governos uruguaios costumam tomar medidas de impacto”, quando se espera avançar
medidas de infraestrutura sobre portos em águas profundas e a renovação da rede
ferroviária, além da lei de regulação da mídia.
Perguntado
se após deixar o governo ele tentará acumular fortuna, ele disse: “Depois terei
de gastar tempo para cuidar do dinheiro e muito mais tempo da minha vida para
ver se estou perdendo ou ganhando. Não, isso não é vida”, enfatizou.
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