Esta é a parte 5/final (divisão feita por este blog –
a parte 4 foi publicada no dia 03/junho) dum artigo intitulado “Defender os
médicos cubanos; denunciar as políticas de saúde no Brasil! (uma contribuição ao debate)”, datado de 11/05/2013, enviado pelo
jornalista Otto Filgueiras, baiano há muito radicado em São Paulo. O título
original desta parte é “Sobre Cuba e seu sistema de saúde”. O título
acima é deste blog.
Por
Otávio Dutra -
estudante da Escola Latino Americana de Medicina em Cuba, militante do Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e membro da Coordenação Nacional da União da
Juventude Comunista (UJC).
Sobre
Cuba e seu sistema de saúde
Em Cuba, desde o triunfo popular de 1º
de janeiro de 1959, conhecido como Revolução Cubana, o panorama da saúde no
país modificou-se completamente. Ao mesmo tempo em que se edificava uma nova
forma de organização social - com coletivização dos meios de produção, do
trabalho, das riquezas e do poder - se transformava profundamente o padrão de
saúde e doença do povo cubano. Passados 54 anos, hoje Cuba é
indiscutivelmente uma potência nas áreas da medicina e da biotecnologia. Sobre
a primeira basta dizer que tem os melhores indicadores de saúde de nosso
continente (mortalidade infantil de 4,6 por cada mil nascidos vivos; 78,9 anos
de expectativa média de vida ao nascer, entre outros), segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS), assim como uma das maiores proporções
médico/habitante do mundo (1 médico para cada 148 habitantes). Cuba hoje é
considerada, por um estudo da organização britânica Save the Children, como um dos melhores países para a
maternidade do mundo (o melhor da América Latina), pelo seu exemplar programa
materno-infantil e pelos direitos garantidas à mãe e à criança. Na área da
biotecnologia, mesmo sendo um país de apenas 11 milhões de habitantes, pobre em
recursos naturais e bloqueado economicamente pelo maior e mais sanguinário
império já existente na humanidade, produz mais de 80% dos medicamentos que
consome, exporta medicamentos e vacinas para mais de 50 países, desenvolve
pesquisas de ponta nas áreas de câncer, células tronco, úlcera diabética,
catarata, vitiligo e HIV/AIDS; para resumir alguns dos avanços
técnico-científicos na área da saúde.
E como se não bastasse, Cuba exporta
esse modelo de saúde para o mundo, seja através da missões médicas -
ininterruptas desde os primeiros anos da Revolução - em territórios devastados
por desastres e epidemias na Ásia, África e América Latina, seja pela formação
de profissionais de saúde em todos os continentes, principalmente pela Escola
Latino Americana de Medicina – ELAM. Hoje são mais de 30 mil médicos cubanos
colaborando em missões internacionalistas e um contingente de mais de 20 mil
estudantes de 116 países estudando em Cuba, a grande maioria nas áreas da
saúde. O programa educacional neste país equilibra um alto nível de preparação
técnico-científica (em todos os níveis de atenção em saúde) com a formação de
valores humanos e princípios, indispensáveis para uma formação integral dos
profissionais da área, fundamentados na saúde como direito universal e não
negociável, na atenção integral e na solidariedade entre os povos. Sobre as
missões internacionalistas, ainda que existam quase 30 mil médicos cubanos fora
do país, não existe um sequer consultório de saúde de família (unidade básica
da atenção primária em saúde no país) em que o médico atenda mais de 300
famílias. No Brasil, não seria fato incomum encontrar um só médico atendendo 3
ou 4 mil famílias em uma Unidade Básica de Saúde.
Para se ter uma idéia das diferenças
entre o sistema de saúde brasileiro em relação ao cubano basta analisarmos que
o número de médicos por habitantes em Cuba é de 1/148 habitantes[1], enquanto que a média do Brasil é de
1/555 distribuídos caoticamente, uma vez que no estado do Rio de Janeiro é de
1/295 e no Maranhão 1/1638[2]. Vale
ressaltar que no Brasil, diferentemente de Cuba, a assistência à saúde não é
igual para todos e tais proporções entre número de médicos por habitante ficam
ainda piores se considerarmos aqueles que não podem pagar por serviços privados
de saúde e dependem exclusivamente do SUS.
[1]
Organização Mundial da Saúde, “Cuba: Health Profile”, 2010. [2] Conselho Federal de Medicina/IBGE, 2010
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