Os donos da velha mídia e seus aliados querem ser os donos da liberdade de expressão: falam pela boca dos Datenas da vida (Foto: Internet) |
De Brumado (Bahia) - Mas com um adendo importante: é
fazer política DE DIREITA. Hoje é a coisa mais chique do mundo falar mal da
política e dos políticos: “Todo deputado é ladrão, todo político é corrupto”.
Isso você escuta a todo momento da boca do namorado/namorada, em casa na boca
do seu marido, da sua mulher, no trabalho, na rua, no balcão do boteco.
E, claro,
especialmente, nos meios de comunicação. Na TV então! Não precisa nem ser no
telejornal. Você vê e escuta em qualquer programa dito humorístico ou nos que
chamo “boletins policiais” dos Datenas da vida, naqueles que tratam pobres,
pretos, da periferia e desdentados sempre como bandidos. Volta e meia o
“animador de auditório”, geralmente gente muito escutada por pobres, pretos e
da periferia, dispara uma menção e outra sobre o quanto os políticos são
podres, não trabalham, ganham demais, têm mordomia demais, roubam, roubam e
roubam.
“Como é que
esse povo faz passeata em favor da maconha e não vai pra rua protestar contra a
corrupção?”, dizem com ar de salvadores da pátria, bastiões da moral e dos bons
costumes, usando como propriedade privada vitalícia a concessão pública de
rádio e TV.
Me lembro dum
deputado baiano, uma vez, comentando que quando estava num ambiente popular,
mais ou menos desconhecido, ele nunca se identificava como deputado, tinha medo
da rejeição. Fiquei escutando impressionado!
Óbvio que a
maioria deles é corrupta mesmo. Mas são somente eles? Eu gostaria muito de
ouvir desses anunciadores das verdades estabelecidas na tela da TV: “Esses
empresários, banqueiros, latifundiários, esses donos de TV e de jornais, esses
ricaços, especuladores, agiotas, esses políticos (também, por que não?) são
tudo um bando de corruptos”. E então? Que tal?
Esse “todo
político é ladrão” está a serviço de algum interesse obscuro, camuflado, mas
não tão camuflado assim, até eu que não sou um cara tão sabido, mato a charada:
simples, isso é fazer política, mas política DE DIREITA, repito, grito daqui
donde posso gritar, da blogosfera dita progressista (ou “suja”), daqui da Internet,
esta invenção fantástica de deus e do diabo.
Sei que pouca
gente vai escutar, mas a audiência da blogosfera vai sempre aumentando, e digo:
“eu também quero falar”, como disse a campanha do 1º. de Maio dos sindicalistas
brasileiros, os quais, em boa hora, embora tardia, acordaram para lutar contra
o assassinato do pluralismo, da verdadeira liberdade de expressão, assassinato
perpetrado de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, todo santo dia, pelos
monopólios da mídia hegemônica (leia-se TV Globo e companhia limitada duma meia
dúzia de famílias, donas da notícia e da verdade, pelo menos pra maioria da
classe média).
E tome
criminalizar: os movimentos democráticos e populares já de lombo arrebentado de
tanto apanhar; a política e os políticos; e até o governo, dito de esquerda,
mas nem tanto (tem lugar até pra Guilherme Afif, vice-governador do tucano
Geraldo Alckmin). Agora, me diga, pelo amor de Deus: como é que a gente pode
mudar esse mundo de injustiças sociais se não for através da política? Não
estou dizendo que é somente através de eleições, é também através de eleições e
outras formas de lutar e ser protagonista da vida, do sonho, da esperança, da
utopia de um mundo mais solidário.
E agora, mais
um aspecto (ou “aspeto” como deu pra falar, numa certa altura da vida, o velho
e “moderado” arcebispo Dom Avelar, “moderado” mas lutador a seu modo aqui na
Bahia na áspera década de 70, não sei por que meti ele aqui): na rabeira do
criminalizar, está na moda também o judicializar. A coisa já estava feia pra
nós, gente da esquerda, metida a falar em nome dos “interesses maiores” do
povo, o povo parece que não escuta, mas a gente fala, a gente é teimosa mesmo.
Estava feia e ficou mais feia. A farsa do mensalão que o diga. É um tal de
processar blogueiro “sujo”...
Criminalizar
e judicializar. É a santa aliança infernal perfeita contra a democracia
popular, a sonhada e nunca chegada em terras brasileiras, país de capitalismo
viçoso, sexta economia mundial. Não é à toa que o nosso João Pedro Stédile, do
MST, vem batendo ultimamente nessa tecla: a força da direita com a aliança da
mídia hegemônica com o Poder Judiciário.
Os argentinos
(leia-se governo e movimentos democráticos e populares), também com seu
capitalismo e apesar dele, continuam na nossa frente. Foram na sequência: primeiro,
luta pelos direitos humanos, botando torturador na cadeia; segundo, quebrar a
espinha dos monopólios da imprensa (leia-se Grupo Clarín, a Globo de lá), com
sua Ley de Medios; e terceiro, democratização da Justiça, o povo tem que votar
pra escolher os antes “intocáveis” senhores da toga.
Os “hermanos”
descobriram que sem democratizar o Poder Judiciário, as outras democratizações
não andam. E aí, como fazer política pra mudar a vida do povo pobre, isto é, da
grande maioria? Como fazer política DE ESQUERDA?
Mas, pela
santa barba dos profetas, de esquerda de verdade, por uma democracia
participativa, pelo socialismo. Este é o capítulo 3 das reflexões quiçá pretensiosas dum blogueiro. Até mais.
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