“SE NÃO FOSSE POR CHÁVEZ, AS FARC NÃO TERIAM CONFIADO EM CHEGAR AO DIÁLOGO”



Santrich: "Os casos da Argentina e do Chile na época das ditaduras, terríveis casos que nós deploramos, são pequenos frente ao tema da violação dos direitos humanos na Colômbia" (Foto: Página/12)
Jesus Santrich, um dirigente das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que negocia a paz com o 
governo colombiano: tem 24 anos de clandestinidade, mas agora está em Havana como membro do Estado Maior da guerrilha participando nas negociações com o governo de Santos. Nesta entrevista repassa a situação das FARC, o atual processo de diálogo e defende o papel da Venezuela e Cuba nas gestões de paz.

Por Gustavo Veiga, de Havana (reproduzida do jornal argentino Página/12, edição de 11/03/2013)

– Como se gestaram as negociações de paz com o governo colombiano de Juan Manuel Santos, que não são as primeiras mas se pretende que sejam as últimas, para encerrar mais de 50 anos de conflito armado em seu país?


– Em meados de outubro de 2012 se anunciaram em Oslo, mas previamente houve conversações exploratórias em Havana, de maneira discreta e durante seis meses. Ao anúncio formal seguiu o recesso dum mês para começar aqui, em Cuba, um diálogo que aguardava por uma agenda. Isso se fez finalmente em novembro. Trabalhamos até 21 de dezembro, fundamentalmente aspectos de ordem metodológica e técnica, para logo mais passar a abordar o primeiro ponto da agenda final. Em dezembro começamos a tocar o ponto de política de desenvolvimento rural integral e territorial. Houve um descanso para o governo pelo Natal e fim de ano e voltamos em meados de janeiro. Estamos dando duro abordando o problema agrário na Colômbia, o problema da terra.


– Com que proposta as FARC chegaram a estes encontros em Cuba?


– Nós temos colocado o diálogo como um único bloco de conversações. O governo inventou que são três etapas. Uma que foi a exploratória que terminou em Oslo, a outra que, segundo eles dizem, é a de discussões e debates que está se desenrolando aqui, e uma terceira que supostamente é a de implementação e que começaria com nosso desarmamento. Porém esta é uma interpretação que o governo faz. Nós dissemos que queremos chegar a um acordo triangular sobre os problemas políticos, econômicos e sociais do país e, dentro deste acordo geral, há seis pontos duma agenda para tratar integralmente. Agora, por metodologia, abordamos o primeiro ponto, que é o das políticas de desenvolvimento agrário. Era um dos que geram maior controvérsia, porque no centro da confrontação na Colômbia está o problema do uso e posse da terra. Nós cremos que, se não superamos isso, se não há uma democratização da posse da terra e das definições do uso da terra, dificilmente vamos conseguir a paz na Colômbia, é quase impossível.


– Parece desalentador como prognóstico?


– É que a confrontação já leva mais de meio século e na raiz está esse problema da terra. Participamos de diversas tentativas de diálogo e é um dos nossos princípios tratar de encontrar saídas que não sejam pela via violenta. Sempre está aberta de nossa parte a possibilidade do diálogo. Com (Álvaro) Uribe foi impossível porque seu governo era extremadamente fascista e não podia abrir-se essa possibilidade. Juan Manuel Santos desde que começou seu governo nos mandou mensagens para ver se ocorria uma aproximação e nós estivemos analisando a conveniência ou não – acreditávamos que era necessário ver, tentar, explorar, ainda sabendo que se trata dum governo continuísta cuja essência é a aplicação das medidas neoliberais e o avanço dos projetos extrativos na Colômbia. Nosso país é uma ponta de lança para todo esse processo de neocolonização que está sendo traçado a partir da Casa Branca.


– Mas enquanto mandava esses sinais de diálogo que você menciona, sua ação militar continuava atacando alvos das FARC, com perdas bastante severas para a guerrilha?


– A militarização no país vai em crescendo, nunca diminuiu. Em menos de duas décadas o que se destina à guerra duplicou. Do Produto Interno Bruto, é mais ou menos 6,2% ou 6,3% o valor destinado à inversão militar. Essa é a situação que estamos enfrentando. E nessa confrontação sempre houve mortos, prisioneiros, dos dois lados. Nós dissemos que há necessidade de estabelecer um cessar fogo bilateral para gerar um ambiente mais positivo. Sobretudo para que se gere uma situação que alivie as dores da guerra entre a população. O governo não o quis. Nós demonstramos nossa contribuição à paz quando fizemos um cessar fogo unilateral durante dois meses. Até 20 de janeiro estivemos num cessar fogo unilateral. Mas o governo persiste em sua posição, acreditando que intensificando a confrontação vai ter um fator de pressão. Seguramente para que cedamos na defesa dos mais carentes. Mas temos dito que se trata de um equívoco e temos insistido em que se o governo não aceita o cessar fogo bilateral, pelo menos deveria pactuar algumas cláusulas para regularizar as consequências dessa confrontação, para suavizá-la.


– No plano militar, o governo de Santos divulgou suas ações contra as FARC como êxitos contundentes. As mortes de dois altos chefes como Alfonso Cano em 2011 e Jorge Briceño em 2010 o demonstram, ou vocês absorveram esses impactos reorganizando seu comando sem dar muito na vista?


–Nós, é certo, recebemos golpes severos, mas aplicamos também, sempre estamos tratando de contrapor todo o avanço tecnológico, de ponta, que a Colômbia tem com o apoio dos Estados Unidos, Israel, Inglaterra. Quer dizer, não estamos enfrentando somente o exército da Colômbia, que tem meio milhão de efetivos com uma tecnologia muito avançada. Esse é o inimigo que temos e estamos prontos e em posição, seja para que se gere um cessar fogo bilateral, seja para seguir abrindo espaços de paz em meio à confrontação. É uma determinação tomada.


– Ou seja, estão dispostos a continuar com a luta armada se não se dão as condições que propõem, como uma distribuição mais igualitária da terra?


– Olhamos as coisas com muita confiança em nossa força, e agora tratando de que a saída seja pacífica. Mas se o governo definitivamente fecha as portas, nós estamos internamente fortalecidos, em moral, em convicções e em planos para seguir adiante a luta de resistência. Na Colômbia há oito ou nove bases militares gringas que interferem diretamente nas instalações militares. O governo fez muita propaganda sobre os últimos golpes porque se havia anunciado os quatro primeiros anos de governo de Uribe como os anos em que se aniquilaria a força insurgente. Não só projetaram isso para mais quatro anos e do governo seguinte. Logo depois, como o conflito se ampliou, começaram a falar do fim do fim. E depois se falou do pós-conflito, mas o problema continua aí porque não se pode olhar somente em termos militares, mas numa profunda confrontação do tipo social que cada vez é maior. O Estado não pôde derrotar nem esse inconformismo nem sua expressão armada, que está na insurgência.


– As FARC têm em frente um exército de 500 mil homens mais o dinheiro e a logística fornecida pelos Estados Unidos. Quais são seus apoios para lutar contra uma força de semelhante envergadura?


– Na Colômbia há em torno de 30 milhões de pobres, entre 45 milhões e tanto que é o total de sua população. E desses 30 milhões há em torno de 12 milhões em situação de indigência. Aí há um caldo de cultura tremendo, que sempre é uma situação tensa, a ponto de explodir a qualquer momento. Mesmo apesar da ofensiva contra o movimento popular, das medidas de repressão, da guerra suja que se traduz em milhares e milhares de mortos, em centenas e centenas de fossas comuns por todo o país... há organização clandestina, há organização do movimento popular que tem sua própria dinâmica, e dentro desse espectro de organizações populares, amplos setores nos apoiam. Nas zonas rurais, fundamentalmente onde está a população mais segregada, mais oprimida, há um amplo apoio. Devo dizer que o trabalho político das FARC durante meio século cresceu muito. Nós temos incidência nas “barriadas” (bairros pobres, favelas), nas fábricas, nas universidades, nas cidades em geral. Hoje, em qualquer expressão do movimento popular e social está a presença das FARC.


–Segundo você, este seria o principal motivo pelo qual o exército colombiano, com o apoio do governo dos Estados Unidos, não pôde até agora derrotá-los em quase 50 anos de luta, já que as FARC foram criadas em 1964?


– O social e o político são fundamentais. A gente sustenta um movimento insurgente como o nosso quando há razões para isso. Quer dizer, ninguém se arrisca a uma guerra e a expor sua vida por um capricho. É uma questão de necessidade. Se nós aceitamos que os Estados Unidos possam fazer o que querem onde queiram, estaríamos condenados à resignação como uma enfermidade da alma e da moral dos pobres. Observamos o que ocorre no mundo e acreditamos que a crise do capitalismo é irreversível. Agora mais do que nunca a resistência deve se aprofundar nas suas diversas formas de expressão. Acreditamos que está ocorrendo o crescimento duma insurgência global não especificamente armada e, definitivamente, essa crise multiforme do capitalismo vai levar o império a seu debacle. Não devemos esperar que isso aconteça por seu próprio peso. Temos que empurrá-lo e acreditamos que o exemplo da resistência na Colômbia é importante, como o é também o exemplo em outros países com expressões de luta diferentes da armada. A luta armada é uma legítima opção, um dos direitos dos povos que vem sendo praticado historicamente e que agora continua tendo atualidade.


– Como se dá esse tipo de resistência no âmbito social, sindical ou estudantil?


– Toda a militância é clandestina. Porque o regime tem uma política terrorista. Se alguém identifica nossas ideias, as das FARC, é natural que se reprima com ações de terror. Na Colômbia todos os dias há assassinatos políticos. São praticados a partir do Estado. Recentemente, o mundo conheceu aquele assunto dos falsos positivos (camponeses assassinados, cujos corpos são vestidos com fardas de guerrilheiro e anunciados publicamente como guerrilheiros mortos em combate), que são mais de quatro mil casos já denunciados, muitos deles documentados na Procuradoria Geral da Nação. Se tratam de casos de gente comum, simples, que era assassinada e apresentada como guerrilheiros e mortos em combate. É um crime de Estado de lesa humanidade. As desaparições também são a granel.


– Se pode saber quantas desaparições houve ao longo do conflito ou numa etapa determinada, por exemplo, as ocorridas desde a presidência de Alvaro Uribe até hoje?


– Se está falando de mais de 250.000 desaparições, mas especificamente, durante o governo de Uribe, elas são entre 18 mil e 19 mil.


– Por que a imprensa internacional não reflete estas cifras com a dimensão trágica, de genocídio, que vocês difundem?


– Temos feito denúncias por diversas vias apesar de que há um cerco midiático que não é somente colombiano, mas das transnacionais da informação. No lançamento dos diálogos em Oslo (Noruega), nosso documento denuncia a situação que há na Colômbia de crise humanitária, de violação sistemática e histórica por parte do Estado dos direitos fundamentais da população. Mas meu país tem sido infeliz quanto ao interesse real demonstrado na sua problemática. Os casos da Argentina e do Chile na época das ditaduras, terríveis casos que nós deploramos, são pequenos frente ao tema da violação dos direitos humanos na Colômbia. Um só dado pode indicar o que digo: o extermínio da União Patriótica (articulação de esquerda criada em 1985 para atuação aberta e democrática e exterminada fisicamente através dum plano sistemático da direita), que custou a vida de mais de cinco mil militantes desse projeto, dessa frente política que foi lançada a partir das plataformas das FARC visando iniciar um processo de pacificação na Colômbia. E isso não se sabe. Quer dizer, os massacres, as desaparições como práticas do terrorismo de Estado são uma constante.


– Além do que você define como o papel das transnacionais da desinformação, que análise faz da situação política atual na Colômbia?


– Mais do que a dimensão numérica ou a dimensão política das FARC, que consideramos ampla, acreditamos que o mais importante é o despertar que está tendo o movimento popular. Sentimos que há uma reativação muito grande, um realinhamento de forças, setores sociais, sindicais, que estão coesionando e estão fazendo importantes experiências que temos que levar em conta, motivá-las e abrir-lhes espaço com o exercício da política. Por isso, nós sempre que falamos de abrir mais espaços de democracia verdadeira na Colômbia concitamos à solidariedade internacional que surge dos movimentos políticos e organizações dos direitos humanos...


– Em que se reflete essa solidariedade?


– Existe muita solidariedade. Creio que é a essência dos povos, e tem suas formas de luta ou se dá na clandestinidade, porque há muita perseguição com a globalização dos mecanismos do império para reprimir. Os países com governos democráticos que, de uma forma ou de outra, ajudam os povos em luta são estigmatizados e de alguma forma esmagados. Então, tudo o que se faça para fortalecer o movimento de resistência popular tem que se dar em vários níveis. Um desses níveis é o clandestino. Existem outros níveis abertos que têm seus procedimentos.


– Como analisa o processo de integração que se deu na América Latina durante mais duma década e que avançou contra a vontade dos Estados Unidos de impor suas políticas para a região, como no caso da ALCA (Área de Livre Comércio da América)?


– Penso que na América Latina o movimento popular criou novas expressões de governo por todo nosso continente, o que resultou em mudanças fundamentais. Não há uma hegemonia total do Norte. Pensamos que existem experiências muito positivas que têm sido geradas pela mobilização popular, como as que ocorrem no Equador, na Bolívia, no Uruguai, na Venezuela. Não são desdenháveis para nós. São muito importantes e cremos que estas expressões ajudaram para que os setores mais desfavorecidos hoje possam ter maior incidência no exercício da política internacional, no exercício da política interna de cada um desses países, inclusive os que são de direita e se veem obrigados a atender seus povos porque sabem que pode haver uma reversão de sua hegemonia. Há muitas possibilidades na América Latina. O papel da Venezuela aqui foi fundamental. Se não fosse pelo comandante Chávez, as FARC não teriam tido a confiança de chegar a um cenário de diálogo com um governo de extrema direita como o de Juan Manuel Santos. Da mesma forma, a participação de Cuba nos dá confiança, e muito mais confiança sentimos pelo fato de muitos governos do continente terem respaldado o processo ora em curso.


– Que papel cumpriu a Noruega como país, que também é avalista destas conversações de paz?


– A Noruega tem uma tradição nisso, em mediar em diversos conflitos a nível mundial - inclusive não só está mediando, está jogando um papel de avalista no conflito político-social que há na Colômbia, e creio que faz uns anos mediou num conflito filipino e em muitos outros a nível mundial. O governo de Juan Manuel Santos propôs que fosse um dos avalistas e o consideramos viável. Nós acreditamos que toda a Europa deveria estar envolvida e não estar fazendo listas de organizações terroristas obedecendo os interesses ianques. Que assumam um papel mediador nos parece importante, um grande aporte a gerar a paz no continente latino-americano, como está fazendo a Noruega.


– Três temas finais e mais pessoais. Seu problema de visão tem relação com ferimentos sofridos em combate ou se deve a uma enfermidade?


– É por um problema neurológico, progressivo, que se agravou até que perdi a vista. Eu creio que faz uns quatro anos. É um problema genético, concretamente se chama síndrome de Leber. E por isso uso os óculos escuros, não é por um problema de combate nem nada.


– Em que circunstâncias alguém como você, que vive na clandestinidade, na selva, pôde tratar-se duma enfermidade progressiva como essa?


– Temos nossa maneira na clandestinidade de atender estes assuntos. Os ferimentos de guerra são o mais urgente. E problemas específicos. Temos também a solidariedade de muita gente na Colômbia que nos brinda seus serviços profissionais, suas clínicas. Os corredores da clandestinidade em nosso país são mais do que parecem e mais do que conta a inteligência militar. E temos que tratar de preservá-los e mantê-los porque são um pilar da resistência popular. No meu caso particular, são problemas com os quais temos que aprender a conviver. Felizmente, a natureza nos deu outros sentidos e temos que desenvolvê-los, temos que pô-los em funcionamento e, sobretudo, temos que fomentar muito a sensibilidade social, que é o que nos dá o ânimo para seguir adiante.


– A passagem à clandestinidade significa renunciar a uma vida legal (foi usada no espanhol a expressão “una vida de superficie”), perder contato com a família talvez para sempre, como é para você, um comandante das FARC, viver nessas condições na Colômbia atual?


– A maioria dos combatentes leva a família em seus corações. Muito esporadicamente se pode fazer contacto, porque isso seria colocar em risco as pessoas que são de nossos sentimentos mais íntimos. Mas há outra família que está em contacto cotidiano, são os combatentes que estão conosco. As FARC, além de ser uma organização político-militar, somos uma família, nos queremos como irmãos, entre nós impera a fraternidade, a camaradagem, a solidariedade e eu creio que isso preenche o grande vazio que nos gera ter nossos seres queridos longe. Quero me despedir com um “saludo” afetuoso ao povo argentino, para esse povo que pariu homens tão grandes como o Che, nosso Ernesto de La Higuera.


POR QUE JESUS SANTRICH?


Uma vida de militância

Por Gustavo Veiga

Seu verdadeiro nome é Seusis Pausivas Hernández, mas nas FARC responde pelo codinome de Jesús Santrich. É membro do Estado Maior da guerrilha colombiana, a mais antiga da América. Ademais, um dos seus chefes no Bloco Martín Caballero da costa caribenha. Em Havana, Cuba, participa das negociações de paz com o governo de Juan Manuel Santos. Tem 24 anos na clandestinidade, desde que ingressou nas fileiras da Frente 19 quando tinha 21 anos. Antes havia militado na Juventude Comunista (a Juco) e na União Patriótica, uma força política de esquerda criada em 1985 e que foi dizimada pelos paramilitares e narcotraficantes.


Crítico do latifúndio colombiano como a principal causa dos males que atingem seu país, voz de peso no tema da distribuição da terra, é um homem que escreve (em 2008 publicou seu livro Relatos Tayronas, sobre os povos originários da Sierra Nevada) e cumpre um papel chave na área de comunicação das FARC.


Este repórter cruzou com ele no hotel Palco da capital cubana, pegado ao Palácio das Convenções, onde estão se desenrolando as conversações de paz entre o Estado colombiano e as FARC. Santrich não podia passar desapercebido pelos jornalistas que participavam dum Congresso sobre Redes Sociais e Meios de Comunicação Alternativos, organizado pela área de imprensa do Ministério das Relações Exteriores Cubano. Cego, se move sempre acompanhado por uma jovem guerrilheira que lhe dá assistência e um bastão. Aparece sempre nas fotografias com uma peça sua indumentária: um lenço palestino do qual não se separa quase nunca. De falar pausado e sereno, mas firme em suas convicções, defende o papel de Hugo Chávez e Cuba nas gestões de paz.

Tradução: Jadson Oliveira


Observação do Evidentemente:

Chávez: “Costumo falar, e falar muito”

Quando de minha última estadia em Caracas (junho a outubro/2012), me lembro do então presidente Hugo Chávez (foto) fazendo referência ao diálogo em busca da paz entre as FARC e o governo da Colômbia, durante uma das suas freqüentes aparições na televisão.


Contou que num encontro de chefes de Estado, o presidente colombiano Juan Manuel Santos falou-lhe à parte que tinha um assunto para conversar com ele, mas os dois a sós. Como se sabe, os dois conseguiram construir uma ótima relação, apesar das diferenças político-ideológicas e das “ciumeiras” do ex-presidente Álvaro Uribe, notório líder da ultra-direita na América Latina e aliado preferencial do império estadunidense.


Depois, a sós, Santos revelou a Chávez sua pretensão de querer armar as conversações com os guerrilheiros. O líder da chamada Revolução Bolivariana achou ótimo e conversaram a respeito. No seu comentário na TV Chávez observou que, infelizmente, não poderia se estender sobre o assunto, teria que se manter muito discretamente, só poderia falar se solicitado pelas partes em negociação.


Disse mais ou menos assim (cito de memória, tentando ser exato não nas palavras, mas no sentido): “Vocês sabem que não é do meu feitio calar sobre qualquer tema em questão, ao contrário costumo falar, e falar muito, mas neste caso não devo, não posso”.

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