Por Adrián Paenza, jornalista e matemático argentino (reproduzido do
jornal argentino Página/12, edição
de 13/02/2013)
A história mostra que sempre foi difícil pensar diferente. De vez em
quando aparece alguém com uma ideia diferente e revoluciona tudo. Imediatamente
aparece a etiqueta: é um louco, está louco. Justamente, marcados como loucos
por seus contemporâneos, essa mesma história oferece múltiplos exemplos de mulheres
e homens que lutaram contra a corrente. Muitos deles receberam um reconhecimento
quando já não viviam para poder desfrutá-lo, ou viram como outros, mais
poderosos, mais próximos ao establishment, mais “conhecidos”, ficaram com um
crédito que não lhes pertencia.
O caminho mostra também o quanto influenciaram as diversas igrejas, e muito
em particular a católica, para questionar, obstaculizar, entorpecer e atrasar a
evolução do ser humano.
O que segue é parte dum périplo que Arthur Schopenhauer definiu muito bem:
“A verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Segundo,
enfrenta uma violenta oposição. Terceiro, é aceita e se torna evidente (óbvia)”.
Suponho que é bom começar com Nicolás Copérnico, matemático, astrônomo,
jurista, médico e vá se saber o que mais numa época em que estava virtualmente
tudo por se descobrir. Copérnico defendeu em 1543, muito pouco tempo antes de
sua morte, que era o Sol e não a Terra o centro do Universo. Pagou caro imediatamente
quando seus amigos protestantes o tacharam de arrogante, presunçoso, “um louco
que acredita que tem o direito de ‘pôr em movimento a Terra’ (sic) e ‘deter o
Sol’”.
Mas não foi Copérnico quem sentiu o verdadeiro castigo por colocar em dúvida
o geocentrismo, e sim Galileo Galilei, outro matemático, astrônomo e filósofo
que hoje é considerado algo assim como “o pai da astronomia moderna”. Galileo foi
quem sofreu o escárnio público e terminou vítima da brutal Inquisição romana em
1615, humilhado e finalmente encarcerado em sua casa pelo resto de sua vida, obrigado
a se retratar e tachado de herege. Como poderia alguém ousar discutir as crenças
papais e da Igreja?
Um curiosíssimo caso que mostra a diferença entre aquele que está junto
do círculo do poder e aquele que não está é o que envolve George Zweig e Murray
Gell-Mann. Os dois são físicos, os dois estão vivos. Zweig é russo
nacionalizado norte-americano, enquanto que Gell-Mann é nascido em Nova Iorque.
Os dois, trabalhando de forma independente, descobriram que havia partículas
elementares menores do que os nêutrons e os prótons. Zweig os chamou “aces” enquanto
Gell-Mann lhes deu o nome com o qual são conhecidos atualmente: quarks. Mas
enquanto a comunidade científica invisibilizou Zweig porque era um desconhecido,
publicou o trabalho de Gell-Mann porque ele sim fazia parte do circuito
oficial, do establishment científico. E tanto foi assim, que cinco anos depois,
em 1969, Gell-Mann recebeu o Prêmio Nobel de Física, distinção que não chegou
até Zweig, que no momento em que escreveu sobre a mesma descoberta foi ridicularizado
e acusado de charlatão.
Outro caso típico foi do famoso Nikola Tesla, engenheiro de origem sérvia,
que teve que concorrer com ninguém menos do que Thomas Alva Edison. Numa época
(fins do século 19) quando o mundo se iluminava usando a luz de vela, Tesla
inventou um sistema elétrico (“a corrente alternada”) que é o que se usa até hoje
para se ter eletricidade na sua casa e na minha. Edison propôs o uso da
corrente direta ou contínua e disputou com Tesla, que foi o propulsor da
corrente alternada, que é a que se usa hoje.
A história oficial atribui a Edison a invenção da “lâmpada elétrica”, porém
não foi ele quem a inventou, e sim Tesla. Edison ficou com todo o crédito
porque foi ele quem a distribuiu e a vendeu.
Edison tinha (e teve) sempre a faca e o queixo na mão, na medida em que
foi o patrão de Tesla, mas Tesla tinha razão e não pôde em vida receber o reconhecimento
que merecia. Tesla é considerado hoje um dos maiores inventores da história. Ainda
está em discussão se foi ele e não Marconi quem inventou o rádio, mas deram a
Marconi o Prêmio Nobel e a Tesla não. E mais ainda: a história oficial também
diz que Robert A. Watson-Watt foi o inventor do radar, mas a outra história
reconhece Tesla como o autor intelectual.
Inclusive Edison ofereceu a Tesla, que era seu empregado, em determinado
momento, o equivalente ao que seria atualmente um milhão de dólares se ele conseguisse
resolver um problema que tinha com os motores e geradores de sua fábrica. Tesla
conseguiu e quando foi reclamar seu dinheiro recebeu esta resposta de Edison:
“Tesla, você não entende o sentido do humor dos norte-americanos”. Edison viveu
sua vida tratando de ganhar dinheiro e patenteando invenções de outros. Tesla foi
um cientista que inventou – entre outras coisas – nada menos que o sistema
elétrico que usamos hoje. Edison morreu rico e poderoso. Tesla morreu no quarto
dum pequeno hotel em Nova Iorque sem um dólar e cheio de dívidas. (Continua)
Tradução: Jadson Oliveira
Comentários
Tenho sentido isso atualmente porque estou escrevendo sobre Ateísmo e estou cercado de Teístas!!!
Fabiano