Maduro, o herdeiro político de Chávez, esteve na quarta, dia 3, numa gigantesca concentração no estado de Táchira (Foto: EFE/Página/12) |
O candidato do chavismo viu num pássaro o espírito de Chávez
e isso gerou a reação opositora, que até lhe pediu um teste psicológico. Maduro
garantiu que Capriles vai retirar sua candidatura e se mandar para Nova Iorque
Do jornal argentino Página/12,
edição de 04/04/2013
Já chegando às eleições presidenciais
de 14 de abril, o presidente em exercício da Venezuela, Nicolás Maduro, criticou
ontem (dia 3) a oposição pelas gozações que sofreu depois que ele relatou ter
visto o falecido mandatário, Hugo Chávez, encarnado num “pajarito” (passarinho).
Além disso, o segundo dia de campanha (oficialmente a campanha eleitoral
começou no dia 2/abril) esteve marcado por acusações de lado a lado sobre o apoio
dos meios de comunicação e do exército.
Na terça-feira, na sua visita à casa
natal de Chávez em Sabaneta (oeste), Maduro revelou que o falecido líder lhe
apareceu enquanto estava orando em forma de “pajarito chiquitico” (passarinho
pequenino), que depois de dar várias voltas ao seu redor e silvar (cantar), o abençoou
na abertura da campanha eleitoral. “Senti o espírito dele, eu o senti dando-nos uma bênção, dizendo-nos ‘hoje
arranca a batalha, vão à vitória’”, acrescentou. Rapidamente, o relato feito
por Maduro, a quem Chávez indicou como seu herdeiro político, se espalhou pelas
redes sociais e foi motivo de todo tipo de comentários irônicos. Isto fez com
que o candidato governista retomasse ontem o tema e ratificasse suas palavras.
“No ato confessei algo muito íntimo de minha espiritualidade, cada um tem seus
sentimentos, suas intuições, suas percepções, verdade, cada um reza a nosso senhor
e nós, o povo de Cristo, o povo de Chávez, o respeitamos, a burguesia não”, assegurou
Maduro numa multitudinária (de multidão, gigantesca) concentração no estado de
Táchira (oeste). E se defendeu. “Tenho direito de sentir o que senti,
burgueses, desumanos, anti-pátrias”, exclamou, visivelmente indignado.
Capriles, o candidato da oposição, percorre também o país em campanha e reúne muitos apoiadores nos seus atos (Foto: sítio web Capriles presidente) |
O presidente interino da Venezuela
também enfatizou que tem informação de que seu rival eleitoral está preparado
para retirar sua candidatura. “Tenho informação precisa de que o candidato da direita
está preparando suas malas para ir a Nova Iorque e retirar sua candidatura”, garantiu
num comício. De forma irônica se referiu a seu rival. “O príncipe de Nova Iorque
já tem as maletas prontas. Só digo daqui ao candidato da direita, lhe digo:
Caprichito (diminutivo de capricho, de Capriles?), burguesito (burguesinho), não
venha inventar desculpas”, frisou. Maduro também fez pouco das acusações feitas
na terça-feira por Capriles sobre as desvantagens de meios com que a oposição
concorrerá às urnas.
A resposta não demorou a chegar.
“Que Maduro nos diga que está alucinado, vendo um passarinho e que esse passarinho
está lhe dando orientações e está lhe dando instruções, obviamente isso requer
que se faça uma avaliação do equilíbrio mental do senhor Nicolás Maduro”, comentou
ontem o coordenador nacional do partido Vontade Popular, Leopoldo López, que faz
parte da coalizão opositora liderada por Capriles. Após a morte de Chávez em 5
de março, os chavistas levaram a cabo uma campanha carregada de emotividade e
espiritualidade. Capriles também se referiu ontem ao seu concorrente. “Em cem dias estão destruindo os 14 anos (de governo de
Chávez), porque a verdade do tamanho do nosso país é que o candidato do governo
não sabe para onde vai”, atacou.
Ainda ontem a oposição realizou várias
denúncias. Por um lado, expôs ante o Conselho Nacional Eleitoral (CNE,
equivalente ao nosso TSE) um “desequilíbrio” nos meios de comunicação do Estado
a favor do presidente em exercício, o que qualificou de “corrupção”. Neste
sentido, o representante opositor Carlos Vecchio apresentou 35 denúncias, 25 delas
da pré-campanha e 10 relacionadas com o ocorrido na terça-feira. Por outro lado,
sustentou que o governismo utiliza o exército para mobilizar seus eleitores, enquanto
os chavistas acusaram seus adversários de buscar o apoio de membros do exército
para desconhecer os resultados eleitorais. O deputado opositor Alfonso Marquina
apresentou ante o CNE uma lista de militares da ativa que, segundo detalhou, de
maneira coordenada com dirigentes políticos do governista Partido Socialista
Unido da Venezuela (PSUV), fazem atividades de mobilização para o dia das eleições.
Além disso, incluiu um documento oficial da Força Armada Nacional Bolivariana
(FANB), em que supostamente se tacha a oposição política de “inimigo”.
Por sua parte, Maduro, favorito nas pesquisas,
pediu para estar “alerta” porque a oposição estaria buscando o apoio de
militares para desconhecer os resultados das urnas. Avisou aos chefes militares
das regiões que “estejam atentos, porque estão procurando militares que traiam o
povo e traiam a memória do comandante Chávez e se prestem a não reconhecer a vitória
do povo”, disse num ato em Barinas (oeste).
Tradução: Jadson Oliveira
Mais fotos da campanha dos dois principais candidatos, pegadas em diversos sítios da Internet (na verdade, oito candidatos estão inscritos para disputar o voto em 14 de abril, mas somente Maduro e Capriles têm relevância eleitoral):
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