Por Paulo Nogueira (reproduzido do blog DoLaDoDeLá, de 24/02/2013)
E é anunciada a segunda temporada do seriado escandinavo The Bridge. Os ingleses ficam felizes. A série passa na tevê britânica com legendas.
O fato: Bridge pegou.
Saga, a detetive sueca, cabelos loiros sempre soltos, uma cicatriz no lábio que a torna ainda mais atraente, já rivaliza com Sarah Lund, de The Killing, outra série escandinava de sucesso internacional.
Antes que eu fale sobre a história, a pergunta essencial: por que no Brasil não fazemos nada que preste na televisão? Por que somos humilhados em qualidade até pela Escandinávia com seus recursos limitados?
Tenho minha tese: a estética da novela massacra a criatividade. Filmes e séries no Brasil têm uma semelhança irritante com as novelas da Globo. Mesmos atores, mesmos diretores, mesma limitação, mesma falta de surpresa e inovação.
O florescimento do cinema e da tv na Escandinávia está conectado ao grupo Dogma, um conjunto de cineastas iconoclastas e brilhantes entre os quais se destacava Lars von Trier, um dos últimos gênios da direção. The Bridge é um dos filhos do Dogma.
Nosso Dogma, lamentavelmente, é a novela das 9. Que não faz você pensar, e sim tomar cerveja. Me conta um amigo publicitário que em Avenida Brasil tudo era motivo para tomar cerveja, por causa do dinheiro colocado pela Ambev não em propaganda direta, mas no controvertido e perigoso ‘product placement’, o popular mercham. Nele, vc consome publicidade disfarçada no meio do conteúdo.
Quer dizer, os personagens da novela bebiam desmedidamente cerveja não porque tivessem propensão a alcoolismo, mas por conta de um contrato milionário firmado pela Globo. Na Inglaterra, bebidas alcoólicas são proibidas de aparecer subliminarmente, para que não seja estimulado um hábito ruim para a saúde.
A história de The Bridge gira em torno de um cadáver descoberto na ponte que liga Suécia e Dinamarca. Dois, na verdade. O corpo parece ter sido serrado no meio. Mas a perícia logo descobre que a parte de cima é de uma mulher e a de baixo de outra.
Logo aparece Saga, absolutamente desinibida, e domina a trama. Quando quer sexo, ela vai a um bar e escolhe um homem. Depois leva para seu apartamento. Saciada, volta ao trabalho de investigação e esquece o homem. O melhor diálogo da série é entre ela e seu parceiro de polícia.
“Que você fez ontem?”, ele pergunta.
“Sexo”, ela responde, com a naturalidade que teria se tivesse dito que foi visitar uma velha tia reumática.
As novelas brasileiras não emburrecem apenas o público. Também os diretores e atores ficam mais burros.
Tropa de Elite 1 poderia ser a semente de uma renovação. Mas não foi nada. A sequência já parecia uma paródia. Triunfou o espírito das novelas.
Maldição eterna a elas.
E é anunciada a segunda temporada do seriado escandinavo The Bridge. Os ingleses ficam felizes. A série passa na tevê britânica com legendas.
O fato: Bridge pegou.
Saga, a detetive sueca, cabelos loiros sempre soltos, uma cicatriz no lábio que a torna ainda mais atraente, já rivaliza com Sarah Lund, de The Killing, outra série escandinava de sucesso internacional.
Antes que eu fale sobre a história, a pergunta essencial: por que no Brasil não fazemos nada que preste na televisão? Por que somos humilhados em qualidade até pela Escandinávia com seus recursos limitados?
Tenho minha tese: a estética da novela massacra a criatividade. Filmes e séries no Brasil têm uma semelhança irritante com as novelas da Globo. Mesmos atores, mesmos diretores, mesma limitação, mesma falta de surpresa e inovação.
O florescimento do cinema e da tv na Escandinávia está conectado ao grupo Dogma, um conjunto de cineastas iconoclastas e brilhantes entre os quais se destacava Lars von Trier, um dos últimos gênios da direção. The Bridge é um dos filhos do Dogma.
Nosso Dogma, lamentavelmente, é a novela das 9. Que não faz você pensar, e sim tomar cerveja. Me conta um amigo publicitário que em Avenida Brasil tudo era motivo para tomar cerveja, por causa do dinheiro colocado pela Ambev não em propaganda direta, mas no controvertido e perigoso ‘product placement’, o popular mercham. Nele, vc consome publicidade disfarçada no meio do conteúdo.
Quer dizer, os personagens da novela bebiam desmedidamente cerveja não porque tivessem propensão a alcoolismo, mas por conta de um contrato milionário firmado pela Globo. Na Inglaterra, bebidas alcoólicas são proibidas de aparecer subliminarmente, para que não seja estimulado um hábito ruim para a saúde.
A história de The Bridge gira em torno de um cadáver descoberto na ponte que liga Suécia e Dinamarca. Dois, na verdade. O corpo parece ter sido serrado no meio. Mas a perícia logo descobre que a parte de cima é de uma mulher e a de baixo de outra.
Logo aparece Saga, absolutamente desinibida, e domina a trama. Quando quer sexo, ela vai a um bar e escolhe um homem. Depois leva para seu apartamento. Saciada, volta ao trabalho de investigação e esquece o homem. O melhor diálogo da série é entre ela e seu parceiro de polícia.
“Que você fez ontem?”, ele pergunta.
“Sexo”, ela responde, com a naturalidade que teria se tivesse dito que foi visitar uma velha tia reumática.
As novelas brasileiras não emburrecem apenas o público. Também os diretores e atores ficam mais burros.
Tropa de Elite 1 poderia ser a semente de uma renovação. Mas não foi nada. A sequência já parecia uma paródia. Triunfou o espírito das novelas.
Maldição eterna a elas.
Desamor (pra não dizer que este blog não fala de amor)
“Assim
somos na paixão do amor, absurdos e tristes. Por isso nos sentimos tão felizes
e livres quando deixamos de amar. Que maravilha, que liberdade sadia em poder
viver a vida por nossa conta! Só quem amou muito pode sentir essa doce
felicidade gratuita que faz de cada sensação nova um prazer pessoal e virgem do
qual não devemos dar contas a ninguém que more no fundo de nosso peito.
Sentimo-nos fortes, sólidos e tranquilos. Até que começamos a desconfiar de que
estamos sozinhos e ao abandono, trancados do lado de fora da vida.” (“Sobre o
amor, etc.”, pinçado do grande cronista brasileiro Rubem Braga)
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