De Salvador
(Bahia) - Vamos à nossa correria final e à consumação do
famoso “veto”, um modus operandi que já tinha sido utilizado pelos pelegos e
burocratas da ditadura contra os bancários baianos nas eleições sindicais de
1965 e 1968.
Primeiramente nos avisaram, verbalmente, que os
tais “órgãos de segurança” vetaram três integrantes da chapa: Corinto Soares
Joazeiro (o cabeça, que seria o presidente), eu, Jadson Oliveira, e Bento
Antônio Ribeiro (do Baneb, que tinha boa formação e experiência na área
administrativa). Corremos pedindo socorro ao advogado Adelmo Oliveira (foto - grande
figura humana, poeta, foi depois deputado estadual pela oposição. Não me
esqueço, quando lhe agradecemos, ele disse: “Não precisa agradecer, isso são
deveres da cidadania”).
Com Adelmo fomos então à Delegacia (hoje
Superintendência) Regional do Trabalho e à Polícia Federal, mas nem sequer
fomos recebidos. De qualquer forma, oficialmente nada havia contra nossa chapa.
Saímos alardeando que estávamos no páreo, era tudo manobra dos pelegos. Tivemos
uma boa acolhida no antigo Jornal da Bahia e na Tribuna da Bahia, apesar das
restrições à liberdade de imprensa e do medo da repressão (ao contrário de
hoje, os jornalistas das redações da época, especialmente nesses dois jornais
baianos, eram mais chegados à esquerda e valorizavam a política e a luta pelas
liberdades democráticas, já que vivíamos sob uma ditadura sem disfarces). (Veja
abaixo o registro fotográfico de algumas das matérias publicadas).
Oficialmente era uma coisa, de fato, de fato, era
outra. Três membros da oposição estavam vetados pelos “órgãos de segurança”,
repetiam os pelegos, sob a mudez e a surdez dos tais “órgãos de segurança”.
Faltavam poucos dias para a votação, marcada para 25/26/27 de junho.
Descobrimos que mesmo com os três “vetados”, tínhamos condições legais de
concorrer e anunciamos, já no desespero, que iríamos disputar mesmo com a chapa
toda descabeçada. Nisso, não me recordo bem alguns detalhes, já não eram somente
três os cassados, apareceram mais dois, tudo de boca, nada por escrito: Vivaldo
Ornellas e Marília Benício (do Banco Real). Uma loucura!
Já chegando o dia da votação, Torres e seus
asseclas aprontaram mais uma, o golpe fatal: nos chamaram ao sindicato e nos
apresentaram cartas de renúncia de três companheiros de nossa chapa (presumimos
que foram pressionados pelo medo reinante e pelos chefes/patrões). Pronto:
legalmente, com oito membros de fora, os representantes da oposição não podiam
mais concorrer. Adelmo ainda tentou uma medida liminar, pois a votação já ia
começar, mas a Justiça cumpriu seu papel sujo, se fez de muda e cega.
Esperneamos um bocado, mas não deu (publico como anexo o manifesto que
distribuímos à categoria e que foi divulgado, na íntegra, pela Tribuna da
Bahia).
Jornal da Bahia, edição de 27/06/75 |
Há um argumento interessante do então deputado Clodoaldo
Campos, líder do MDB na Assembleia Legislativa, que protestou da tribuna
daquela Casa, com apartes solidários de alguns parlamentares oposicionistas,
conforme matéria do Jornal da Bahia aqui registrada fotograficamente: ele chama
a atenção do aparente absurdo de Vivaldo Ornellas, seu companheiro emedebista,
ter concorrido a um mandato (como suplente) no Senado da República e não poder
se candidatar a diretor do sindicato de sua categoria.
Bem, restou-nos o orgulho de termos travado o bom
combate no tempo em que fomos chamados a combater. E a certeza de que ajudamos
a plantar uma sementinha que deu bons frutos em 1978, com a chapa liderada por
Edelson, e frutos ainda melhores em 1981, com a vitória – finalmente – da
Oposição Bancária em chapa encabeçada por Laranjeira, com a participação de
militantes de várias tendências de esquerda e já em tempos da chamada abertura
democrática, não tão ampla e de viés popular como sonhamos, mas, de qualquer
forma, abertura.
Esta é a última das três partes do relato mais amplo
que escrevi sobre a experiência da Oposição Bancária da Bahia, relativa ao período
de 1972/1975, do qual participei diretamente. Escrevi instigado a partir dum
pequenino texto e depoimento pedidos pela direção do Sindicato dos Bancários da
Bahia, no bojo dos preparativos da comemoração dos 80 anos da entidade, cujo
evento principal está marcado para esta sexta-feira, dia 22, às 20 horas, no
Bahia Café Hall (Avenida Luis Viana Filho, s/n - Paralela).
A primeira parte foi postada aqui na segunda-feira, dia 18, e a segunda na quarta-feira, dia 20.
A primeira parte foi postada aqui na segunda-feira, dia 18, e a segunda na quarta-feira, dia 20.
Tribuna da Bahia, edição de 25/06/75 |
ANEXO 1 - Esclarecimento aos bancários
baianos
Íntegra da nota da Oposição Bancária após consumada a cassação da Chapa Verde,
conforme transcrição em matéria da Tribuna
da Bahia, de 25/06/75, com o título “Bancários elegem nova diretoria: chapa
única”.
“Por dever de responsabilidade
perante a classe bancária da Bahia e a opinião pública, cumpre-nos comunicar
aos companheiros que a Chapa Verde no. 2, registrada para concorrer às eleições
do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Estado da Bahia,
nos dias 25, 26 e 27 do corrente, foi impedida de participar da competição
eleitoral.
Diante de tal impedimento,
queremos esclarecer aos colegas de que não deixamos de utilizar todos os
recursos disponíveis, desde a iniciativa nossa para um diálogo que nos foi
negado, até a alternativa última do Mandado de Segurança, com pedido de
Liminar, e tudo isto com o objetivo legítimo de que fosse evitada a consumação
da violência.
Assim, foge, por exemplo, à nossa
expectativa e entendimento a decisão da autoridade judiciária competente, que
se inclinou a negar a concessão da Liminar, não obstante a evidência concreta
das provas suficientes para a caracterização técnica do perigo iminente do
impedimento arbitrário, restringindo-se o Magistrado, apenas, no seu
respeitável despacho, a solicitar informações, de praxe, à autoridade coatora,
no caso a Delegacia Regional do Trabalho, dentro do prazo legal de 10 dias. Tal
providência judicial tornou inócua a medida requerida, configurando-se a
irreparabilidade do direito líquido e certo.
Em conseqüência, não constituiu
mais surpresa para os componentes da Chapa Verde a publicação, pela imprensa
local, um dia após a denegação da Liminar, de uma nota, subscrita pela
presidência do Sindicato dos Bancários, transcrevendo ofício da Delegacia
Regional do Trabalho, que comunicava publicamente o impedimento da nossa chapa.
Em face do ato ilegal e
arbitrário, emanado da Delegacia Regional do Trabalho, resulta que ele se
originou para não só obstaculizar o exercício democrático do voto, bem como
dificultar o acesso da oposição sindical aos quadros dirigentes, numa manobra
contrária aos propósitos do Presidente da República, no seu tão desejado
projeto de distensão política, que inclui entre outras proposições
liberalizantes, a efetiva participação dos trabalhadores nas suas entidades de
classe.
Mas, companheiros, o que temos
sobretudo de lamentar profundamente, em todo o desdobramento deste infeliz
episódio, foi o testemunho do comportamento assumido pelos presidentes da
Federação e do Sindicato dos Bancários, que se manifestaram solidários ao ato
consumado de cassação branca de seus colegas, agindo flagrantemente contra os
dispositivos da Lei e, mais ainda, contra a dignidade de toda a classe bancária
que se dizem representar.
Resta-nos, finalmente, agradecer
aos companheiros e à opinião pública a ampla solidariedade que temos recebido,
salientando a firmeza das nossas posições diante de tão grave violência, que
atenta contra os direitos e garantias sindicais assegurados pelos povos do
mundo livre”.
ANEXO 2 – Registro fotográfico de algumas das matérias
publicadas em 1975 pelo antigo Jornal da Bahia e pela Tribuna da Bahia:
Jornal da Bahia, de 15/06/75 |
Jornal da Bahia, de 30/06/75, nota na coluna política "Berlinda", assinada por Newton Sobral: "Continua a Subversivomania" |
Tribuna da Bahia, de 12/06/75, coluna de cartas dos leitores |
Tribuna da Bahia, de 14/06/75 |
Tribuna da Bahia, de 20/06/75: "Chapa Verde dos bancários impetra mandado contra DRT" |
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