O JORNAL QUE INCOMODA FARDAS E BATINAS

Do Blog das Frases por Saul Leblon, de 16/03/2013

Na manhã seguinte ao anúncio de um Papa argentino, o jornal ‘Página 12’ sacudiu Buenos Aires com a manchete: ‘!Dios Mio!’

Na 6ª feira, dois dias depois, como relata o correspondente de Carta Maior, Eduardo Febbro, direto do Vaticano, o porta-voz da Santa Sé reclamou do que classificaria como ‘acusações caluniosas e difamatórias’ envolvendo o passado do Sumo Pontífice.

Em seguida atribuiu-as a ‘elementos da esquerda anticlerical’.

Alvo: o ‘Página 12’ .

Com ele, seu diretor, o jornalista Horácio Verbitsky, autor de um livro sobre as suspeitas que ensombrecem a trajetória do cardeal Jorge Mário Bergoglio, durante a ditadura argentina.

A cúpula da Igreja acerta ao qualificar o ‘Página 12’ como ‘de esquerda’ – algo que ostenta e do qual se orgulha praticando um jornalismo analítico, crítico, ancorado em fatos.

Mas erra esfericamente ao espetá-lo como ‘anticlerical’.

O destaque que o jornal dispensa ao tema dos direitos humanos não se restringe ao caso Bergoglio.

Fundado ao final da ditadura, em maio de 1987, o ‘Página 12’ é reconhecido como o grande ponto de encontro da luta pelo direito à memória na Argentina.

Não foi algo premeditado.

No crepúsculo da ditadura militar, um grupo de jornalistas de esquerda vislumbrou a oportunidade de criar um veículo enxuto, no máximo 12 páginas (daí o nome), mas dotado de densa capacidade analítica.

E, sobretudo, radicalmente comprometido com a redemocratização e com os seus desafios.


(Para ler mais)

Observação do Evidentemente: Como os leitores deste meu blog sabem, o Página/12 é uma das minhas principais fontes de informação, especialmente sobre a América Latina e o império estadunidense. Conheci melhor o excelente diário quando de minha temporada de seis meses em Buenos Aires, em 2010/2011. Continuou sendo minha leitura obrigatória através da edição digital. Além de colher informações e análises para minhas matérias, habitualmente traduzo e publico matérias suas. 

É pena que o Brasil não tenha uma publicação semelhante e a grande maioria dos brasileiros seja massacrada com apenas uma das versões dos fatos, através dos meios de comunicação da direita, como Rede Globo, Veja, e jornais Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo.

Comentários