Ser mãe não é uma autorrealização emocional das mulheres,
é um cargo, um emprego a mais que a sociedade capitalista impõe nos mesmos
parâmetros de um cargo assalariado qualquer.
Deve soar desumano o que se irá dizer aqui, e o é mesmo,
mas do jeito que as imposições do mercado de trabalho estão, especialmente
sobre as mulheres, ser mãe deixou de ser um estado natural de relação emocional
com a criança e passou a ser um trabalho, com metas e objetivos sazonais e com
auditorias de qualidade constantes.
Tenho vivenciado este fato na minha própria casa. Não que
antes ter filhos não fosse uma tarefa trabalhosa, o que mudou foi o nível de
exigência sobre as mulheres profissionais e que decidem se tornar mães. Por
mais que a mídia “chapa branca” romantize os momentos de sofrimento materno
como sendo algo que vale a pena em troca da felicidade infantil, o que se
esconde por trás é um nível de exigência ao nível da indústria capitalista para
que mulher seja excelente profissional, competitiva, implacável e ao mesmo
tempo mãe, provedora e que ainda seja amorosa e carinhosa com a criança. Como
isso é possível? Como acumular tantas funções e ainda crer no “milagre” da
maternidade?
Minha esposa já está perto de terminar a licença maternidade
de quatro meses (no Canadá são de dois anos!), e já está sofrendo a pressão das
demandas do trabalho, ao mesmo tempo os seus familiares a cobram estar
presente, a todo momento, da vida do filho. Sendo cobrada para isso no mesmo
nível de eficiência, eficácia e efetividade como se estivesse sendo auditada
pela ISSO 9001. Será que ela não tem direito de algum momento egoísta de lazer
só para ela?
A maior parte do tempo não vejo uma mulher iluminada,
radiante com a maternidade, mas sim uma mulher cansada (exausta) e triste, pois
não consegue dar conta de suas tarefas de casa e do trabalho. Já imaginando
quão pior vai ser quando a licença acabar e ela ter de voltar ao ritmo de
trabalho de antes. Será?
E olha que tomamos a decisão de contratar mais uma governanta
para cuidar da casa e ajudar com o bebê. Quer dizer que a imposição do modelo
de trabalho capitalista é tanta, que para continuar no esquema de vida que tínhamos
antes da criança, precisamos passar a ter duas empregadas domésticas... Já era
um absurdo ter uma, quanto mais duas. Tudo isso porque o nível de trabalho que
precisamos ter para manter o padrão de classe média é de 80 horas semanais de
trabalho.
O mais engraçado é que isso é exaltado pela mídia como
sendo o máximo da realização: trabalhar muito, criar um filho, mas e a
qualidade de vida? E o tempo livre? E o tempo para estar realmente com a
criança? Será que nosso filho será mais um criado por babás? Espero que não!
*Fabiano Viana Oliveira é professor de Ciências Humanas na Faculdade Castro Alves.
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