Mario Silva faz o contraponto, na TV, à mídia comercial |
O chavismo não fugiu dessa questão central: a comunicação. A mãe de todas as
batalhas.
Por Rodrigo Vianna,
do blog Escrevinhador, de 09/01/2013
“Vampiros! Miseráveis!”, esbraveja o
homem de meia-idade que aparece na TV em mangas de camisa e com um boné
vermelho. Não é um manifestante na rua. Trata-se de um dos mais
importantes líderes do chavismo. Ele fala em rede nacional. Os “vampiros” são
os líderes da oposição. E o homem que fala alto na TV é Jorge Rodriguez,
ex-alcaide (espécie de governador) de Caracas.
Rodriguez responde aos líderes
da oposição, que transformam a doença de Chavez em mote político. Um
deputado da oposição devolve no mesmo tom, agora usando a tribuna da TV
privada: chama Nicolás Maduro (o vice que comanda o governo, na ausência do
presidente) de “usurpador”.
Estou há cinco dias na Venezuela,
onde acompanho para a TV Record a crise provocada pela doença de Chavez, e
pela impossibilidade de o presidente (eleito para mais um mandato) tomar posse
nessa quinta-feira (dia 10).
É a terceira vez que venho a
Caracas. E sempre me impressiono com o grau de politização e
de acirramento nos debates. Aquilo que no Brasil nós só vemos nos
blogs (a pancadaria verbal e o debate duro quase sempre ficam restritos à
internet), aqui na Venezuela se dá nas ruas e nas telas da TV aberta.
Caminho pelo centro de Caracas,
acompanhado pelo cinegrafista Josias Erdei. Um militante chavista nos observa,
e provoca: “olha aí mais dois mercenários da informação, manipulando as
notícias sobre a Venezuela”. Paro pra conversar. O discurso é agressivo, mas
eles são simpáticos quando percebem que somos do Brasil; “Lula, Lula, grande
companheiro”… Explico minhas opiniões pessoais, e o chavista se acalma um
pouco. Ainda assim, completa: “nosso companheiro Mario Silva explica muito bem
como funcionam os meios de comunicação internacionais.”
À noite, vejo Mario Silva na
tela da VTV (a TV estatal). É pau puro. Ele usa a tribuna na TV para
criticar o noticiário dos canais privados (a “matriz informativa que
tentam impor ao povo”, como dizem os chavistas). Isso é o interessante. Mario
Silva é um apresentador com barba por fazer, agressivo, e que fala em
socialismo às 11 da noite na TV. Ele tem um público amplíssimo. O chavismo
politiza o povo.
Termina o programa de Mario Silva, e
entra um rapaz mais jovem, com roupa e visual mais modernos. Na tela, ao
fundo do estúdio, aparecem manchetes da imprensa internacional. O jovem
apresentador, numa linguagem leve e provocadora, analisa como as redes
sociais e os sites dão notícias sobre a Venezuela. Analisa, pontua, critica. É
uma espécie de contra-pauta. Aquilo que no Brasil tentamos fazer nos blogs,
aqui na Venezuela se faz na TV aberta, em horário nobre.
Ah, dirão alguns: a correlação de
forças na Venezuela é outra. Claro. Mas a correlação é outra, também, porque o
chavismo não fugiu dessa questão central: a comunicação. A mãe de todas as
batalhas.
Programas como os que vejo na
VTV põem a nu a produção jornalística clássica. O jornalismo deixa de
ser visto pelo grande público como o detentor da “verdade”, e passa a ser
compreendido como aquilo que realmente é: uma arena onde se disputam idéias,
valores.
Apresentadores e programas desse
tipo no Brasil fariam Merval Pereira e Otavinho, de um lado, e a turma da
“mídia técnica” do governo Dilma, de outro, terem um ataque apoplético.
Mídia “técnica”, sei. O chavismo não
acredita nessa bobagem.
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