Relógio de São Pedro (Av. 7 de Setembro), no centro velho de Salvador/Bahia |
- Hoje à noite a turma vai lá no Tabaris, tem
umas espanholas que chegaram aí que são um arraso. Mas você, Juventino, não vou
nem chamar, sei que você não é de nada, também já tá na segunda cerveja. Ô,
Ricardinho, não disse que não ia mais servir a segunda cerveja pro Juventino?
- Oh! Grande, não atiça não, você que é meu
colega lá da seção de tecidos da Florensilva, lhe considero tanto... Mas não
precisa me chamar mesmo não, tô sem dinheiro, também nem adianta. Lembra aquela
vez que tirei aquele dinheirinho no jogo do bicho e vocês me levaram lá naquele
bar da Barra, aquele onde anda o pessoal do Bloco do Barão? Você chamou uma
amiga sua, disse que era pra mim... pra mim uma ova. Ela passou a noite toda me
evitando, só olhava pra você e prum outro cara lá... também era uma mulher
bonita e alta, mais alta do que eu, não tá vendo que não ia dar certo? Ela nem
olhava pra mim, eu puxava assunto com ela e ela parecia que nem me escutava,
que vexame meu amigo, minha mãe é que tava certa, me dizia sempre, Juventino,
fique no seu canto, você não nasceu para grandes saltos.
-
Porra, Juventino, já começou a choradeira do sábado à tarde? Eu já tentei lhe
botar no bom caminho, mas parece que você não tem jeito não. As mulheres gostam
de homem pra cima, de bem com a vida, você só de olhar se vê logo, foi a
Lisbânia, me lembro, ela mesma me disse: “ah! Grande, sinto muito, mas aquele
seu colega não dá, tem cara de enjeitado, me desculpe”. Já lhe falei não sei
quantas vezes como se faz pra pegar uma garota, mas não adianta, você não toma
jeito, se você andasse mais comigo talvez você aprendesse, mas você só quer
ficar aqui nessa merda de bar, aqui nesse Relógio de São Pedro, é da
Florensilva praqui e daqui pra pensão lá da velha Lila, o “Palace Lila”, já lhe
disse, você vai secar de tanto bater punheta, como é que um homem de quase 30
anos nunca pegou uma mulher, parece mentira, quando falo ninguém acredita. Siga
meu exemplo, Juventino, nós somos colegas, ganhamos a mesma coisa lá na
Florensilva, mas eu tô sempre aí numa boa. Já lhe contei porque é que me chamam
Grande? Já lhe contei? Pois é, a turma lá da minha terra, de Seabra, na Chapada
Diamantina, uma beleza a Chapada! os colegas que terminaram o Ginásio e vieram
pra capital, pois então, a turma vivia choramingando assim como você, naqueles
arroubos de nostalgia, tinha um, o nego Robério, gente boa! que quando bebia
chorava e só faltava arrancar os cabelos da cabeça, “ai, minha Seabrinha de
Deus!” Eu não, eu tô em outra, aí eu dizia: “Comigo não, comigo é diferente,
esse negócio de Seabra pra mim já era. Eu é daqui pro Rio e do Rio pra Paris”.
Por isso eles começaram a me chamar de Grande.
-
Ah! Grande, mas você é grande mesmo, gosto de conversar com você, quando você
toma uma comigo aqui eu me sinto mais animado. Mas é que você é grande, alto,
cabelo meio alourado, branco, você tem jeito de lidar com as mulheres, pra mim
é diferente... só se eu tirasse um Simca Chambord lá no programa de César de
Alencar, da nossa Florensilva, grande Florensilva de seo Florentino... aí você
ia ver... o Ricardinho lhe contou sobre a loura farmácia paulistana da semana
passada? Quase que dessa vez eu descolo... mas terminou não dando certo, um
azar da porra...
-
Iiiiiih! Juventino, você não tem jeito, tô tentando lhe animar, mas... queta
Juventino, sábado que vem tem mais Juventino... oh!, Ricardinho, chega aqui
Ricardinho.
(Crônica publicada no
blog Pilha Pura em 17/03/2012)
Comentários