A manifestação dos estudantes iniciou-se com concentração nas escadarias e imediações da Universidade de Havana (Fotos: Jadson Oliveira) |
De
Havana (Cuba) - Os cubanos não esquecem seus mártires.
Como acontece todos os dias 27 de novembro de cada ano, na última terça-feira,
em Havana, milhares de estudantes universitários e secundaristas, tendo à
frente os integrantes da Universidade de Ciências Médicas, desfilaram das
escadarias da histórica universidade até a esplanada da Ponta do Castelo do
Morro, passando pela Avenida San Lázaro. Estavam homenageando os oito alunos de
Medicina fuzilados há 141 anos (27 de novembro de 1871) pelos colonialistas
espanhóis, num ato de extrema truculência.
A manifestação começou por volta das 3 horas da tarde, com a
concentração nas escadarias e imediações da Universidade de Havana, no bairro
mais conhecido como Vedado. Os nomes dos oito mártires e mais colegas de curso
foram gritados e reverenciados pela multidão: “Presente!” Depois do
pronunciamento de Tomás Díaz, da direção da Federação dos Estudantes
Universitários, a FEU, que estava comemorando 90 anos de lutas, e de manifestações
culturais – sempre se ouvindo canções de Silvio Rodríguez, uma espécie de Chico
Buarque cubano (ou um Geraldo Vandré dos tempos da ditadura) -, a enorme e ruidosa
tropa do estudantado desceu a San Lázaro, encabeçada por uma banda militar e os
passos marciais de uma pequena guarda também militar.
No trajeto da marcha, campanha pelos "cinco heróis antiterroristas cubanos", presos políticos nos Estados Unidos |
Foram cerca de três quilômetros de palavras de ordem, de
vivas ao líder Fidel Castro e a Raúl Castro, atual presidente, contra o
bloqueio econômico e de exaltação aos “Cinco”, isto é, aos “cinco heróis antiterroristas
cubanos”, que foram presos e cumprem pesadas condenações nos Estados Unidos por
terem se infiltrado em organizações terroristas de Miami para tentar evitar
atentados contra a ilha (assunto romanceado pelo brasileiro Fernando Morais em “Os
últimos soldados da guerra fria”). Uma das músicas mais ouvidas no trajeto foi A
Internacional, hino dos comunistas que exalta o internacionalismo.
O cortejo seguiu pela avenida, que é vizinha e paralela ao
famoso Malecón – o charmoso cais da capital cubana sempre cheio de gente e
casais de namorados nas tardes “habaneras” –, e foi até a Ponta do Castelo (o
local fica bem próximo do Castelo do Morro, uma fornida fortaleza construída
pelos espanhóis, hoje um grande museu, onde se organiza anualmente, por
exemplo, a tradicional Feira do Livro).
Mausoléu dos oito mártires assassinados pelo império colonial espanhol na Ponta do Castelo do Morro |
Foi “en la Punta” onde se deu o fuzilamento dos futuros
médicos e onde foi erigido o mausoléu em honra deles: oito jovens com a idade de
16 a 21 anos, dotados de inclinações patrióticas e acusados de profanarem o
túmulo de um jornalista espanhol afinado com os ditames do império colonial
(eles teriam feito atos irreverentes, como arrancar uma flor da tumba do
jornalista). O cruel episódio, que reflete a sanha colonialista da época, tem
lances extremos como o fato de três dos oito entrarem por sorteio na lista dos
condenados. Outro detalhe: um dos três teria faltado às aulas no dia do suposto
delito, estava com a família na província de Matanzas.
Seus nomes: Carlos
de la Torre, Alfonso Álvarez, Pascual Rodríguez, Eladio González, Ángel
Laborde, José de Marcos Medina, Anacleto Bermúdez y Carlos Verdugo. Em
homenagem a eles, estiveram na manifestação, além de representantes da FEU,
dirigentes da universidade, do Partido Comunista Cubano, da União dos Jovens
Comunistas e da Federação dos Estudantes do Ensino Médio (FEEM).
(Seleção
de fotos da manifestação está postada logo abaixo)
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