BLOGUEIRA CUBANA: “É VERDADE QUE HAVIA (NA DITADURA DE BATISTA) CENSURA, INTIMIDAÇÕES E MORTOS AO FINAL”
Entrevista
com Yoani Sánchez, por Salim Lamrani, jornalista francês: “Conquistas sociais
em Cuba” – Parte 8
(A
entrevista é bem longa: esta é a oitava das nove partes em que está dividida.
Peguei no blog Fazendo Media: a média
que a mídia faz. O título acima é deste blog)
Salim
Lamrani – Quais são, para a
senhora, as conquistas sociais deste país?
Yoani
Sánchez – Cada conquista teve
um custo enorme. Todas as coisas que podem parecer positivas tiveram um custo
em termos de liberdade. Meu filho recebe uma educação muito doutrinária e
contam-lhe uma história de Cuba que em nada corresponde à realidade. Preferiria
uma educação menos ideológica para meu filho. Por outro lado, ninguém quer ser
professor neste país, pois os salários são muito baixos.
SL – Concordo, mas isso não impede que Cuba seja
o país com o maior número de professores por habitante do mundo, com salas de
20 alunos no máximo, o que não ocorre na França, por exemplo.
YS – Sim, mas houve um custo, e por isso a
educação e a saúde não são verdadeiras conquistas para mim.
SL – Não podemos negar algo reconhecido por
todas as instituições internacionais. Em relação à educação, o índice de
analfabetismo é de 11,7% na América Latina e 0,2% em Cuba. O índice de
escolaridade no ensino primário é de 92% na América Latina e 100% em Cuba, e no
ensino secundário é de 52% e 99,7%, respectivamente. São cifras do Departamento
de Educação da Unesco.
YS – Certo, mas, em 1959, embora Cuba vivesse em
condições difíceis, a situação não era tão ruim. Havia uma vida intelectual
florescente, um pensamento político vivo. Na verdade, a maioria das supostas
conquistas atuais, apresentadas como resultados do sistema, eram inerentes a
nossa idiossincrasia. Essas conquistas existiam antes.
SL – Não é verdade. Vou citar uma fonte acima de
qualquer suspeita: um informe do Banco Mundial. É uma citação bastante longa,
mas vale a pena.
“Cuba é internacionalmente reconhecida por seus
êxitos no campo da educação e da saúde, com um serviço social que supera o da
maior parte dos países em desenvolvimento e, em certos setores, comparável ao
dos países desenvolvidos. Desde a Revolução Cubana de 1959 e do estabelecimento
de um governo comunista com partido único, o país criou um sistema de serviços
sociais que garante o acesso universal à educação e à saúde, proporcionado pelo
Estado. Este modelo permitiu que Cuba alcançasse uma alfabetização universal, a
erradicação de certas enfermidades, o acesso geral à água potável e a
salubridade pública de base, uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas
da região e uma das maiores expectativas de vida. Uma revisão dos indicadores
sociais de Cuba revela uma melhora quase contínua desde 1960 até 1980. Vários
índices importantes, como a expectativa de vida e a taxa de mortalidade
infantil, continuaram melhorando durante a crise econômica do país nos anos 90…
Atualmente, o serviço social de Cuba é um dos melhores do mundo em
desenvolvimento, como documentam numerosas fontes internacionais, entre elas a
Organização Mundial de Saúde, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e outras agências da ONU, e o Banco Mundial. Segundo os índices
de desenvolvimento do mundo em 2002, Cuba supera amplamente a América Latina e
o Caribe e outros países com renda média nos mais importantes indicadores de
educação, saúde e salubridade pública.”
Além disso, os números comprovam. Em 1959, a
taxa de mortalidade infantil era de 60 por mil. Em 2009, era de 4,8. Trata-se
da taxa mais baixa do continente americano do Terceiro Mundo; inclusive mais
baixa que a dos Estados Unidos.
YS – Bom, mas…
SL – A expectativa de vida era de 58 anos antes
da Revolução. Agora é de quase 80 anos, similar à de muitos países
desenvolvidos. Cuba tem hoje 67.000 médicos frente aos 6.000 de 1959. Segundo o
diário inglês The Guardian, Cuba tem duas vezes mais médicos que a Inglaterra para
uma população quatro vezes menor.
YS – Certo, mas, em termos de liberdade de
expressão, houve um recuo em relação ao governo de Batista. O regime era uma
ditadura, mas havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de
rádio de todas as tendências políticas.
SL – Não é verdade. A censura da imprensa também
existia. Entre dezembro de 1956 e janeiro de 1959, durante a guerra contra o
regime de Batista, a censura foi imposta em 630 de 759 dias. E aos opositores
reservava-se um triste destino.
YS – É verdade que havia censura, intimidações e
mortos ao final.
SL – Então a senhora não pode dizer que a
situação era melhor com Batista, já que os opositores eram assassinados. Já não
é o caso hoje. A senhora acha que a data de 1º de janeiro é uma tragédia para a
história de Cuba?
YS – Não, de modo algum. Foi um processo que
motivou muita esperança, mas traiu a maioria dos cubanos. Foi um momento
luminoso para boa parte da população, mas puseram fim a uma ditadura e
instauraram outra. Mas não sou tão negativa como alguns.
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