Os negociadores das FARC estão liderados pelo número dois da guerrilha, codinome “Iván Márquez” (à direita) (Foto: EFE) |
O problema da terra na Colômbia será o primeiro tema a ser abordado
entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo. As
negociações também incluem o debate sobre a participação política, a solução do
conflito vinculado com o narcotráfico e o ressarcimento das vítimas.
Traduzido
do jornal argentino Página/12,
edição de 20/11/2012
Como figura no Acordo Geral para o Fim do Conflito e a
Construção duma Paz Estável e Duradoura – a que governo e guerrilha chegaram após
seis meses de conversações secretas em Havana – o primeiro ponto do debate nas
conversações que começaram ontem (dia 19) em Cuba será o problema da terra. Esta
questão e o desenvolvimento agrário consumirão uns 10 dias de discussão, segundo
indicou o ex-vice presidente Humberto de la Calle, que lidera a equipe do governo.
A política de desenvolvimento agrário integral faz parte da
reivindicação histórica das FARC, que defendem uma reforma agrária que permita o
acesso dos camponeses pobres às terras, informou a agência de notícias Reuters.
O debate deste assunto inclui uma discussão sobre o acesso e o uso da terra, os
programas de desenvolvimento com enfoque territorial, a infra-estrutura e adequação
das terras, o desenvolvimento social, o estímulo à produção agropecuária e o
sistema de segurança alimentar.
Na Noruega, a organização guerrilheira acusou empresas
multinacionais de saquear os recursos naturais do país, mas o governo advertiu
que não discutirá o modelo econômico e que se a guerrilha quer mudá-lo deve
abandonar as armas, entrar na política e ganhar as eleições. O debate entre as
partes sobre esta questão tem um antecedente. O presidente Juan Manuel Santos apresentou
uma lei que foi aprovada pelo Congresso com o objetivo de restituir as terras a
milhares de camponeses deslocados pela guerrilha. Mas durante a instalação das
conversações na Noruega, o principal negociador das FARC, Iván Márquez, disse
que a medida apresentada pelo governo colombiano era uma enganação. Santos, por
sua parte, respondeu que a restituição das terras tirava as bandeiras da
guerrilha.
Apesar de sua relevância, o tema agrário não é o único que
se discutirá. Entre as outras questões a abordar se encontram a participação
política que contempla o acesso a meios de comunicação para novos movimentos
políticos, os mecanismos democráticos de participação cidadã e outras medidas
para promover uma maior participação na política. Também se discutirá a possibilidade
de que alguns chefes da organização guerrilheira acusados ou condenados por
delitos de lesa humanidade sejam presos.
O cessar-fogo bilateral e definitivo é outra das pautas a
discutir, assim como o abandono das armas e a reincorporação das FARC à vida
civil. As drogas ilícitas também estão na agenda. O debate sobre esta questão
inclui programas de substituição de cultivos, recuperação ambiental de zonas
afetadas pelos cultivos da folha de coca, programas de prevenção ao consumo e a
solução dos fenômenos de produção e comercialização de narcóticos. Também,
ambas as partes buscarão ressarcir as vítimas do conflito e dar a conhecer com
dados verídicos o que aconteceu com algumas das vítimas que estão
desaparecidas.
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