Entrevista
com Yoani Sánchez, por Salim Lamrani, jornalista francês: “Os cinco presos
políticos cubanos e a dissidência” – Parte 6
(A entrevista é bem
longa: esta é a sexta das oito partes em que está dividida. Peguei no blog Fazendo Media: a média que a mídia faz.
O título acima é deste blog)
Salim Lamrani – Abordemos outro tema. Fala-se muito dos cinco presos políticos
cubanos nos Estados Unidos, condenados à prisão perpétua por infiltrar
grupelhos de extrema direita na Flórida envolvidos no terrorismo contra Cuba.
Yoani Sánchez – Não é um tema que interesse à população. É propaganda política.
SL – Mas qual é seu ponto de vista a respeito?
YS – Tentarei ser o mais neutra possível. São agentes do
Ministério do Interior que se infiltraram nos Estados Unidos para coletar
informações. O governo de Cuba disse que eles não desempenhavam atividades de
espionagem, mas sim que haviam infiltrado grupos cubanos para evitar atos
terroristas. Mas o governo cubano sempre afirmou que esses grupos estavam
ligados a Washington.
SL – Então os grupos radicais de exilados têm laços com o governo
dos Estados Unidos.
YS – É o que diz a propaganda política.
SL – Então não é verdade.
YS – Se é verdade, significa que os cinco realizavam atividades de
espionagem.
SL – Neste caso, os Estados Unidos têm de reconhecer que os grupos
violentos fazem parte do governo.
YS – É verdade.
SL – A senhora acha que os Cinco devem ser libertados ou merecem a
punição?
YS – Creio que valeria a pena revisar os casos, mas em um contexto
político mais apaziguado. Não acho que o uso político deste caso seja bom para
eles. O governo cubano midiatiza demais este assunto.
SL – Talvez por ser um assunto totalmente censurado pela imprensa
ocidental.
YS – Creio que seria bom salvar essas pessoas, que são seres
humanos, têm uma família, filhos. Por outro lado, contudo, também há vítimas.
SL – Mas os cinco não cometeram crimes.
YS – Não, mas forneceram informações que causaram a morte de
várias pessoas.
SL – A senhora se refere aos acontecimentos de 24 de fevereiro de
1996, quando dois aviões da organização radical Brothers to the Rescue foram
derrubados depois de violar várias vezes o espaço aéreo cubano e lançar
convocações à rebelião.
YS – Sim.
SL – No entanto, o promotor reconheceu que era impossível provar a
culpa de Gerardo Hernández neste caso.
YS – É verdade. Penso que, quando a política se intromete em
assuntos de justiça, chegamos a isso.
SL – A senhora acha que se trata de um caso político?
YS – Para o governo cubano, é um caso político.
YS – Para o governo cubano, é um caso político.
SL – E para os Estados Unidos?
YS – Penso que existe uma separação dos poderes no país, mas é
possível que o ambiente político tenha influenciado os juízes e jurados. Não
creio, no entanto, que se trate de um caso político dirigido por Washigton. É
difícil ter uma imagem clara deste caso, pois jamais obtivemos uma informação
completa a respeito. Mas a prioridade para os cubanos é a libertação dos presos
políticos.
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