BLOGUEIRA CUBANA: “AS PESSOAS QUE DEFENDEM AS SANÇÕES ECONÔMICAS NÃO SÃO ANTI-CUBANAS”



Blogueira cubana Yoani Sánchez
Entrevista com Yoani Sánchez, por Salim Lamrani, jornalista francês: “As sanções econômicas” – Parte 2   
O tema está em evidência nesta terça-feira, dia 13, quando a quase totalidade dos países membros da ONU deve se pronunciar votando pela condenação do bloqueio a Cuba imposto pelos Estados Unidos há 50 anos.
(A entrevista é bem longa: esta é a segunda das oito partes em que está dividida. Peguei no blog Fazendo Media: a média que a mídia faz. O título acima é deste blog)
Salim Lamrani – Então a senhora se opõe às sanções econômicas.
Yoani Sánchez – Absolutamente, e digo isso em todas as entrevistas. Há algumas semanas, enviei uma carta ao Senado dos Estados Unidos pedindo que os cidadãos norte-americanos tivessem permissão para viajar a Cuba. É uma atrocidade impedir que os cidadãos norte-americanos viajem a Cuba, do mesmo modo que o governo cubano me impede de sair de meu país.
SL – O que acha das esperanças suscitadas pela eleição de Obama, que prometeu uma mudança na política para Cuba, mas decepcionou muita gente?
YS – Ele chegou ao poder sem o apoio do lobby fundamentalista de Miami, que defendeu o outro candidato. De minha parte, já me pronunciei contra as sanções.
SL – Este lobby fundamentalista é contra a suspensão das sanções econômicas.
YS – O senhor pode discutir com eles e lhes expor meus argumentos, mas eu não diria que são inimigos da pátria. Não penso assim.
SL – Uma parte deles participou da invasão de seu próprio país em 1961, sob as ordens da CIA. Vários estão envolvidos em atos de terrorismo contra Cuba.
YS – Os cubanos no exílio têm o direito de pensar e decidir. Sou a favor de que eles tenham direito ao voto. Aqui, estigmatizou-se muito o exílio cubano.
SL – O exílio “histórico” ou os que emigraram depois, por razões econômicas?
YS – Na verdade, oponho-me a todos os extremos. Mas essas pessoas que defendem as sanções econômicas não são anti-cubanas. Considere que elas defendem Cuba segundo seus próprios critérios.
SL – Talvez, mas as sanções econômicas afetam os setores mais vulneráveis da população cubana, e não os dirigentes. Por isso é difícil ser a favor das sanções e, ao mesmo tempo, querer defender o bem-estar dos cubanos.
YS – É a opinião deles. É assim.
Jornalista francês Salim Lamrani: tem vários livros sobre Cuba
SL – Eles não são ingênuos. Sabem que os cubanos sofrem com as sanções.
YS – São simplesmente diferentes. Acreditam que poderão mudar o regime impondo sanções. Em todo caso, creio que o bloqueio tem sido o argumento perfeito para o governo cubano manter a intolerância, o controle e a repressão interna.
SL – As sanções econômicas têm efeitos. Ou a senhora acha que são apenas uma desculpa para Havana?
YS – São uma desculpa que leva à repressão.
SL – Afetam o país de um ponto de vista econômico, para a senhora? Ou é apenas um efeito marginal?
YS – O verdadeiro problema é a falta de produtividade em Cuba. Se amanhã suspendessem as sanções, duvido muito que víssemos os efeitos.
SL – Neste caso, por que os Estados Unidos não suspendem as sanções, tirando assim a desculpa do governo? Assim perceberíamos que as dificuldades econômicas devem-se apenas às políticas internas. Se Washington insiste tanto nas sanções apesar de seu caráter anacrônico, apesar da oposição da imensa maioria da comunidade internacional, 187 países em 2009, apesar da oposição de uma maioria da opinião pública dos Estados Unidos, apesar da oposição do mundo dos negócios, deve ser por algum motivo, não?
YS – Simplesmente porque Obama não é o ditador dos Estados Unidos e não pode eliminar as sanções.
SL – Ele não pode eliminá-las totalmente porque não há um acordo no Congresso, mas pode aliviá-las consideravelmente, o que não fez até agora, já que, salvo a eliminação das sanções impostas por Bush em 2004, quase nada mudou.
YS – Não, não é verdade, pois ele também permitiu que as empresas de telecomunicações norte-americanas fizessem transações com Cuba.
SL – A senhora terá de admitir que é bem pouco, quando se sabe que Obama prometeu um novo enfoque para Cuba.
Observação do Evidentemente: Yoani Sánchez acaba de ser designada representante em Cuba da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP - "P" de Prensa), organização que reúne os donos da chamada grande imprensa, conhecida por sua afinação com os ditames do império dos Estados Unidos, porta-voz das corporações da mídia hegemônica. A SIP é uma espécie de partido da ultra-direita, notória por suas campanhas contra os governos progressistas e de esquerda na América Latina.
(A matéria postada logo abaixo é também sobre o bloqueio econômico a Cuba)

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