Por Homar Garcés - foto (traduzido do portal venezuelano Aporrea.org, de 22/11/2012)
Dum modo geral, as revoluções tiveram como característica marcante o descontentamento e a violência dos setores populares excluídos contra os setores dominantes, o que fez com que - em muitos dos casos - os representantes destes últimos foram passados pelas armas, como ocorrera durante a Revolução Francesa e a Revolução Bolchevique, marcando assim uma ruptura radical com a ordem estabelecida; ou, simplesmente, terminaram desfrutando dum exílio dourado nos Estados Unidos ou em algum país europeo. Isto, no entanto, mudou sobremaneira nas duas últimas décadas, especialmente em nossa América, produzindo-se situações nas quais a hegemonia das elites foi questionada, combatida e revertida, com a utilização dos mesmos mecanismos que as legitimaram, como as eleições e a conquista dos diferentes espaços do poder constituído. Desta forma, em nações como a Bolívia, Equador e Venezuela (para citar as mais emblemáticas), os setores populares avançam mudanças de características inegavelmente revolucionárias que, mais cedo ou mais tarde, configurarão uma revolução de sentido socialista que se manifestará numa nova estrutura orgânica de poder, matizada pela tomada de decisões e a participação efetiva das bases populares, o que implicaria então o estabelecimento de novas relações de poder.
Isto obrigou os movimentos revolucionários a redesenhar suas visões e estratégias, tratando de ajustar-se ao momento histórico, já que as previsões feitas quanto ao sujeito histórico que conduziria a revolução socialista não se têm concretizado totalmente, tornando-se difícil aceitar que alguns aportes teóricos do passado tenham alguma pertinência na atualidade. Não obstante, houve avanços, buscando orientar as novas realidades suscitadas sob o que se acabou designando o socialismo do século XXI, estabelecendo uma diferenciação com o ocorrido na extinta URSS e outras nações de regimes similares. Isso permitiu incorporar elementos que anteriormente não se levaram em conta ou foram minimizados, como a emancipação feminina, a agroecologia, a luta pela posse da terra, a autonomia dos povos indígenas, a preservação da identidade nacional e a segurança agroalimentar, dentre outros, que têm imprimido à proposta socialista peculiaridades mais próximas à idiossincrasia dos nossos povos.
Tal coisa exige, ao mesmo tempo, uma consciência revolucionária, transformando os padrões de conduta que nos fizeram acatar como coisa natural a existência do capitalismo e, com ele, as estruturas sobre as quais as cúpulas basearam seu domínio, tanto a nível nacional como a nível internacional. Ainda mais: isso exige esgotar todas as vias possíveis que facilitem o protagonismo e a participação dos setores populares na tomada de decisões essenciais. Para consegui-lo, é imprescindível a formação teórica revolucionária permanente dos setores populares. Sem isto, a transição rumo ao socialismo revolucionário continuará se atrasando, dando abrigo - em conseqüência - ao oportunismo e ao reformismo, sem afetar as estruturas da ordem vigente.
Observação do Evidentemente: No caso do Brasil, onde a discussão sobre a luta revolucionária parece estar mais atrasada, antes do entendimento da questão acima, seria necessário um debate anterior: em que nível de aceitação está a compreensão de que o processo bolivariano aponta realmente no rumo do socialismo? Isto porque correntes de esquerda, especialmente as afinadas com o trotskismo, questionam os rumos adotados no chamado socialismo do século 21. O tema tem tudo a ver com o peso que se dá (ou não se dá) à questão da independência nacional e a luta anti-imperialista, ponto chave de processos hoje em desenvolvimento na América Latina, cujos exemplos maiores, mencionados no artigo acima, são, além da Venezuela, Bolívia e Equador (pode-se incluir também Nicarágua).
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