VITÓRIA DE CHÁVEZ REFERENDA A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO (números da eleição)




Chávez na proclamação oficial como vencedor feita pelo CNE em solenidade na quarta-feira, dia 10 (Foto: AVN)
Foi a menor vitória, percentualmente, dentre as cinco eleições de que participou estando em jogo a presidência: 55,25 X 44,14 - diferença de 11,11%, totalizados 98,02% dos votos. Mas venceu em 22 dos 24 estados, incluindo Caracas, em 82% dos municípios e em 16 das 23 capitais estaduais. O mapa da Venezuela ficou quase todinho vermelho: “Um triunfo em toda a linha de batalha”, festejou Chávez.

De Caracas (Venezuela) – O segundo dos cinco pontos do programa de governo do presidente Hugo Chávez, reeleito no último domingo, dia 7, para mais seis anos (2013-2019), é continuar a construção do socialismo (os outros pontos são: 1 – consolidar a independência; 3 – construir uma Venezuela potência; 4 – lutar por um mundo multipolar; e 5 – ajudar a salvar o planeta). O programa foi entregue oficialmente ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE, que equivale ao nosso TSE) e discutido amplamente pelo Partido Socialista Único da Venezuela (PSUV) e partidos aliados e movimentos populares durante a campanha.

Portanto, a vitória do comandante da Revolução Bolivariana respalda eleitoralmente o tipo de socialismo que se busca construir na terra do Libertador Simón Bolívar – que pode ser chamado bolivariano ou “do século 21”, como foi batizado. É uma tentativa até agora exitosa – e a mais avançada na América Latina - de implantar o sistema socialista pela via eleitoral, através de “eleições burguesas”, depois da experiência pioneira do Chile de Salvador Allende, afogada em sangue em 1973.
O mapa do país quase todo "rojo, rojito" (como dizem aqui, vermelho, vermelhinho): o chavismo perdeu apenas em dois pequenos estados andinos (Ilustração: AVN)
Em 2007 o chavismo tentou, sem êxito, institucionalizar no país a meta do socialismo, através de reforma constitucional via consulta eleitoral. Perdeu por 1% de diferença. Agora a proposta, atrelada à popularidade do presidente como candidato, foi aprovada, o que confirma resultados de pesquisas de opinião indicando que o socialismo é respaldado atualmente por mais de 40% dos venezuelanos. O referendo de 2007 foi, aliás, a única derrota eleitoral de Chávez de 1998 para cá - 14 anos -, durante os quais participou de 16 eleições, incluindo legislativas, estaduais, municipais, para aprovação da Constituição, etc. (Em 16 de dezembro próximo será a 17ª., eleição de governadores, e em abril/2013, a 18ª., eleições municipais).

Esta é a quinta disputa envolvendo a presidência

Em se tratando de disputas presidenciais, esta é a quinta: derrotou o principal opositor, Henrique Capriles, governador do estado de Miranda, por 55,25% X 44,14% - 11,11% de diferença, computando-se 98,02% dos votos. Números totais, arredondados: Chávez – 8,2 milhões e Capriles – 6,5 milhões. Foi a menor vitória, em termos percentuais: na primeira, em 1998: 56% X 44%; na chamada relegitimação dos poderes, com base na nova Constituição, em 2000: 60% X 38%; no referendo revogatório, em 2004, foi confirmado por 59% a 41%; e na presidencial de 2006, contra Manuel Rosales, ex-governador do estado de Zulia, ganhou por 63% X 37% (7,3 milhões de votos a 4,3 milhões). (A abstenção, de 19%, foi récorde: a menor tinha sido a de 2006: 25%).

Apesar disso, o presidente obteve o respaldo da maioria dos eleitores de 22 dos 24 estados, aí incluído o Distrito Capital/Caracas. Perdeu apenas em dois pequenos estados andinos: Mérida e Táchira. Ganhou em estados governados pela oposição, inclusive nos dois mais populosos: Zulia, no ocidente, o mais forte economicamente e comandado por oposicionistas desde o ano 2000; e Miranda, que é governado pelo próprio Capriles. Venceu em 82% dos municípios e em 16 das 23 capitais estaduais.
A comemoração do jornal estatal Correo Del Orinoco (Foto: Jadson Oliveira)
O pungente lamento do El Universal, radical anti-Chávez, destacando nos gráficos a redução percentual da vitória (Foto: Jadson Oliveira)
A redução do tamanho do triunfo chavista, relativamente aos anteriores, foi  motivo de muitos debates. Muitos críticos daqui e de fora – com amplo espaço nas grandes corporações hegemônicas da mídia – não cansam de realçar os supostos desgastes de 14 anos de poder e as dificuldades administrativas do governo bolivariano. Chávez já reconheceu em entrevistas e discursos recentes que existem muitos erros de gestão em seu governo. Prometeu corrigi-los, inclusive anunciou a reforço de um ministério para cuidar do acompanhamento da execução dos projetos e ações, que muitas vezes começam e se perdem pelo meio do caminho: “Temos que ser mais eficientes e responder com maior eficiência às necessidades do nosso povo”, disse.

Mas rebate com veemência os que tentam diminuir a importância da sua vitória, destacando que enfrentou e venceu não apenas as velhas oligarquias venezuelanas, mas sobretudo o poderoso império dos Estados Unidos. Lembrou a falácia de se dizer, como alardeiam os meios privados de comunicação, que o país está dividido, porque o postulante da direita conseguiu mais de 6 milhões de votos. Ora – argumenta -, diferenças bem menores em pleitos de outros países não são usadas para deslegitimar mandatários eleitos.

(De fato, ele não citou, mas veja: Barack Obama foi eleito nos Estados Unidos em 2008 com 5% de vantagem; neste ano, foram eleitos Peña Nieto no México com 6,62%; e François Hollande na França com 3,24%; e, no ano passado, Ollanta Humala no Peru com 2,8%. Fica no ar aquela impressão: é que contra Chávez vale tudo).

No mais, afrontando as dificuldades que poderíamos chamar de naturais e as pedras colocadas no caminho por inimigos poderosos, Chávez segue em frente, com imenso e entusiástico apoio popular e com respaldo da maioria dos eleitores. E – significativo do ponto de vista revolucionário, do ponto de vista da esquerda – sustentando a bandeira da construção do Poder Popular (assim com “P” maiúsculo) e do socialismo. 

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