Chávez, com familiares e auxiliares, discursou do Balcão do Povo (Palácio Miraflores) para milhares de seguidores nas comemorações da madrugada (Foto: AVN) |
De
Caracas (Venezuela) – A oposição ao presidente Hugo Chávez,
reeleito no domingo, dia 7, com 55% dos votos (veja abaixo números mais atualizados),
mudou o discurso. Começou a mudar já durante a votação: Henrique Capriles, derrotado
com 45% dos votos, admitiu pela primeira vez, em entrevista coletiva logo após
votar, reconhecer os resultados que seriam anunciados à noite pelo Conselho
Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso TSE). E logo após o anúncio,
declarou que felicitava o vencedor:
“Quero
felicitá-lo (não mencionou o nome do adversário), e dizer-lhe que respeite com
grandeza a escolha do nosso povo, um povo que tem duas visões. Peço-lhe que
seja bom presidente, a trabalhar pela solução dos problemas de todos os venezuelanos”. Voltou a dividir os
venezuelanos em "o povo governista e o povo do progresso", como fez
ao longo da campanha, disse que “devemos continuar construindo esse caminho
que está aí”, mas enfatizou que "o povo se
expressou e outra opção obteve mais votos do que nós".
Para o clima de confrontação da
política venezuelana, foi uma mudança espetacular, pelo menos aparentemente. O
presidente – no poder há 14 anos e reeleito para mais seis, de 2013 a 2019 -,
que sempre bateu na tecla reclamando uma oposição democrática e civilizada, não
perdeu tempo: ao discursar perante milhares de seguidores, diante do Palácio
Miraflores, sede do governo, nas comemorações da madrugada, felicitou o seu
principal opositor (também sem citar o nome) pela nova posição.
Chávez falou em “diálogo” e “trabalho
conjunto” com os diversos setores da vida nacional, chegando a assinalar que estendia
“estas duas mãos e este coração porque somos irmãos da pátria de (Somón) Bolívar”.
E bateu no ponto nevrálgico da questão: "Quero fazer de novo um reconhecimento
especial à direção opositora, que não se prestou aos planos desestabilizadores,
assim é que se joga na democracia!"
Capriles, finalmente, reconheceu a autoridade do "árbitro da partida" e felicitou o vencedor (Foto: AVN) |
Aí é que está o ponto: durante toda
a campanha eleitoral, iniciada oficialmente em primeiro de julho, os dirigentes
da direita, agrupados na chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), e o próprio
Capriles insistiram em não reconhecer a lisura do “árbitro da partida” – o CNE –
e a denunciar supostos favorecimentos ao “oficialismo”, o que chamamos no
Brasil de governismo.
Por isso, os dirigentes da campanha
chavista e o próprio comandante maior da Revolução Bolivariana repetiram,
incansavelmente, em todos os discursos e entrevistas, denúncias segundo as
quais a oposição tinha um “plano B” mancomunado com as forças obscurantistas da
ultra-direita e do império estadunidense; ia “cantar fraude” ao serem
anunciados os resultados da votação com a vitória do candidato-presidente;
planejava atos de violência para gerar o medo, o caos e a desestabilização,
tudo com a cobertura cúmplice das corporações da mídia hegemônica.
Claro que as denúncias eram
acompanhadas de declarações garantidoras de que o Estado (governo, Força Armada
Nacional Bolivariana e organismos de segurança) e o povo estavam preparados
para rechaçar tais atos. O comandante-em-chefe chegou a conclamar o povo a
votar no domingo bem cedo e permanecer nas ruas, em alerta. E repetidas vezes advertiu:
que não se atrevam!
De qualquer forma, o clima de ameaça
e tensão perdurou durante a campanha e agravou-se na semana da votação, tanto
que famílias de classe média correram aos supermercados e armazenaram produtos
alimentícios em casa. Mas, como vimos, o “alguma coisa” esperado não aconteceu.
Como dizem aqui, não “pasó nada”. E não precisou nem um triunfo muito amplo
pedido pelo chavismo para desencorajar os atos da famosa desestabilização, como
frisamos na cobertura deste blog.
O que acabou acontecendo foi um
sopro refrescante de distensão política: Será que as forças ultra-direitistas
foram derrotadas no seio da oposição? Será que não se atreveram diante do
alerta e prontidão do Estado e do povo? Será que os temores vitaminados pela
folha corrida da direita venezuelana eram exagerados? Será que as organizações
populares e o Estado na Venezuela já se constituem uma vacina eficaz contra as
ameaças de retrocesso? Eis uma boa pauta para se tratar com estudiosos e
protagonistas da revolução popular e socialista.
Avanço da totalização amplia vantagem de Chávez
A totalização chegou a 94,19% dos votos, de acordo com o último anúncio do CNE. Chávez está com 54,84% – 7.860.982 votos, enquanto Capriles alcança 6.386.155 – 44,55%. Chegou-se a um total de 14.610.768 votos: 14.333.620 válidos e 277.148 nulos. Récorde de comparecimento: 80,9% dos 18,9 milhões de eleitores inscritos (o voto aqui não é obrigatório).
Dos 24 estados (incluindo o Distrito Capital), o presidente até agora só perde em Mérida e Táchira. A vitória já está assegurada em Zulia, o estado mais forte economicamente e que é governado pela oposição. E está ganhando, com uma diferença diminuta, em Miranda, estado que é governado por Capriles (afastou-se para a campanha, mas retorna). Zulia e Miranda são os estados mais populosos do país.
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