O povo encheu a Praça Diogo Ibarra, onde fica a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), na proclamação oficial da vitória, quarta-feira, dia 10 (Foto: AVN) |
Chávez, depois da vitória eleitoral de 7 de outubro: "Mais de 8
milhões de consciências disseram (à direita): Não, não acreditamos em você.
Acreditamos é no socialismo".
De Caracas (Venezuela)
– Há um ilustre ausente que grita, “silenciosamente”, na política brasileira,
na realidade brasileira, na conjuntura brasileira: é o socialismo, essa bela
utopia de “bem viver” que o presidente venezuelano Hugo Chávez se refere sempre
como “a verdadeira democracia” ou como “a maior soma possível de felicidade”,
na última definição inspirado em frase do seu inspirador predileto, o
Libertador Simón Bolívar.
Desde que estou por aqui, há uns
três meses, noto a ausência do tema na maioria das matérias publicadas no
Brasil sobre a Venezuela, matérias que tratam principalmente, claro, das
eleições de 7 de outubro, vencidas mais uma vez pelo comandante da Revolução
Bolivariana. Falo da blogosfera, porque o que divulgam a Rede Globo, a revista Veja,
os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo & Cia (resumindo, a
mídia hegemônica da direita) são simplesmente mentiras e meias-verdades. Falo
dos companheiros blogueiros chamados progressistas, de esquerda ou mais à
esquerda.
Compreendo que o socialismo não
existe na pauta do dia-a-dia da política brasileira. Mesmo porque esta pauta é
ditada pelas corporações da mídia, atreladas aos ditames do império das grandes
empresas transnacionais, cujo representante maior é o governo dos Estados
Unidos. E a pauta última foi criminalizar o governo do ex-presidente Lula e seu
partido, o PT, através do chamado mensalão e dos antes nunca distinguidos
“justiceiros” do Supremo Tribunal Federal (STF), como se a direita tivesse
moral para se arvorar vanguarda da luta contra a corrupção. Isso e, amarrado a
isso, as eleições municipais, quando, felizmente, os eleitores não se mostraram
muito atentos às orientações da velha mídia.
Chávez não perde oportunidade de conversar com os jornalistas (Foto: AVN) |
Tal panorama certamente está ligado
à característica fundamental da conjuntura brasileira, que é a falta total de
mobilização popular. A maioria do povo vota em Lula e nos seus candidatos, mas
não vai às ruas defender seus interesses. Um líder como Lula e o PT,
aparentemente, teriam capacidade de ajudar em tal mobilização, mas não o fazem,
o que conduz a dúvidas sobre a sinceridade de propósitos quanto à defesa dos
interesses populares. Os partidos e movimentos de esquerda que tentam fazê-lo,
como PSTU, PCB, MST, etc, não demonstram força para tal.
Tais forças de esquerda, ou mais à
esquerda, não têm meios de comunicação de massa para sustentar suas lutas e
incentivar a mobilização, salvo alguns de pequeno poder de fogo como o jornal semanal
Brasil de Fato e a revista mensal Caros Amigos, além da revista semanal Carta Capital (que não é de esquerda,
mas faz um jornalismo de credibilidade) e alguns blogs. Não há um jornal diário
confiável e parece não haver qualquer iniciativa neste sentido. Emissora de TV,
nem pensar. A TV Brasil, estatal, é de uma timidez inacreditável. O governo
petista prefere (ou é obrigado pelas “forças ocultas” do poder) ajudar a
financiar a grande mídia direitista com a gorda verba da publicidade oficial.
Quer dizer, paga pra apanhar.
Jornal chavista se referiu a Lula como “líder socialista”
Então, noto uma completa
disparidade: no Brasil, há o reinado indiscutível do capitalismo e dos valores
capitalistas, enquanto que na Venezuela, mais do que uma eleição (muitas
eleições, aliás), há uma revolução em curso, o velho parindo dolorosamente o
novo, daí o inevitável clima de confrontação; as forças progressistas no Brasil
não encontram espaço para falar do socialismo nascendo na Venezuela; e o mais
curioso: as forças progressistas na Venezuela às vezes se confundem sobre o
Brasil e parecem imaginar que haja alguma coisa de socialismo na política
brasileira.
Faço essa provocação instigado por
um fato: quando o jornal Ciudad Caracas
(editado pela prefeitura de Caracas, um dos três chavistas, contra cerca de 15
jornais anti-chavistas vistos nas bancas do centro da capital venezuelana) deu
como manchete da primeira página: “Lula a Chávez: sua vitória será nossa
vitória”, o texto da chamada de capa referiu-se a Lula como “o líder
socialista”. Pode ser? (Isso foi durante o Foro de São Paulo, realizado aqui em
Caracas, em julho, quando num vídeo Lula manifestou seu apoio à campanha pela
reeleição de Chávez).
Já tentei mostrar em matéria recente
que a vitória de Chávez referendou a construção do socialismo bolivariano do
século 21, como é denominado por aqui, pois o tema consta oficialmente de seu
programa de governo para o próximo período na presidência (2013-2019) e foi
discutido amplamente durante a campanha. Agora selecionei algumas referências
feitas por Chávez após o anúncio de sua vitória – discursos nas comemorações,
na proclamação oficial dos resultados e na posse de novos ministros, bem como
em concorridas entrevistas coletivas a jornalistas nacionais e internacionais
-, com base na divulgação feita pela estatal Agência Venezuelana de Notícias
(AVN).
Chávez em coletiva depois da eleição no Palácio Miraflores: segundo informações oficiais, havia representantes de 74 meios de comunicação (Foto: AVN) |
Como veremos, além do combate do
dia-a-dia para tocar seu governo, com as dificuldades naturais diante de tão
poderosos inimigos dos povos, Chávez emprega seu carisma e sua imensa
popularidade para propagar, incansavelmente, a bandeira do socialismo, enquanto
seu governo e as organizações populares tentam construí-lo:
"(O novo período de governo de
2013 a 2019) deve ser de maior avanço, de maiores conquistas, de maior eficiência
nessa transição do capitalismo, do neoliberalismo, ao socialismo que é a verdadeira
democracia".
"Desde sempre visualizamos nosso
projeto como histórico, quer dizer, de longo alcance. Nunca tivemos aqui uma visão de curto
prazo".
Chávez destacou que nas eleições mais
de 8 milhões de venezuelanos ratificaram seu respaldo ao socialismo, mencionou
que o rumo que há na Venezuela é a salvação da pátria e do povo, enfocada na
construção do socialismo bolivariano do século 21.
“Não é o poder das burocracias que vai solucionar os
problemas do povo".
Ao
anunciar seu novo projeto de criação de micro-missões (as chamadas missões são
a materialização dos programas de assistência e inclusão sociais), disse que elas são para favorecer ainda mais os venezuelanos mais necessitados:
"Estamos elaborando ideias, revisando notas, os objetivos específicos e
fundamentais das micro-missões, já que serão muitas. Elas serão aplicadas em
povoados, em regiões, nas fábricas, nas escolas e nos diversos espaços necessários".
Acrescentou que elas ficarão assentadas no Poder Popular e no povo organizado.
"Se deve continuar dando mais
poder ao povo, essa é a solução. Não é o poder das burocracias e das elites que
vai solucionar os problemas do povo". Assegurou que serão cumpridas a fundo
as determinações da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, para assim
consolidar e seguir com a construção do socialismo do século 21.
Diante de representantes de 74 meios
de comunicação nacionais e internacionais, Chávez informou que em 10 de janeiro
de 2013 (data da posse para o novo mandato de seis anos) entregará o segundo
Plano Socialista da Nação à Assembleia (Congresso) Nacional.
"Sem participação popular, qualquer
modelo democrático é falso".
Chávez indicou que a vitória de 7 de
outubro constitui a conquista do primeiro grande objetivo histórico do plano de
governo para 2013-2019, "que não é outro senão o de haver conservado o bem
mais precioso que conquistamos depois de 500 anos de luta: a independência
nacional". Acrescentou que desta maneira se garante a continuidade do projeto
socialista que lidera, e que busca oferecer a maior soma de felicidade para o povo
venezuelano, por isso que "não haverá força imperialista, por maior que seja,
que possa com o povo de Simón Bolívar".
"Venezuela nunca mais voltará ao
neoliberalismo, continuará transitando rumo ao socialismo bolivariano do século
21".
Durante a coletiva, uma jornalista
canadense lhe perguntou sobre problemas do socialismo. Ele respondeu (vou citar
de memória): “Você se assusta com o socialismo? Deveria se assustar é com o
capitalismo. Veja o que acontece na Europa, comadre...”
No ato de posse, conclamou os novos ministros à “luta pela transformação do velho Estado capitalista e burguês" num Estado socialista que defenda os direitos dos venezuelanos, contidos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela.
Comentários
Comentário de Guilherme
Em 15/10/2012 às 16:18
Que curioso! ‘Verdade’ é aquilo que é dito por socialistas, mais especificamente pelos admiradores do Hugo Chávez. Se não é dito por socialistas então é mentira ou meia-verdade.
Comentário de André
Em 15/10/2012 às 18:53
Você que cultua ditadores sanguinários e guerrilheiros fajutos, tais como o inexpressivo Che Guevera (inexpressivo pelo legado de bosta que sequer conseguiu deixar), que usava um ROLEX roubado ao pregar a igualdade;
Você que prega as “maravilhas do socialismo”, mas que não abre mão da ausência de censura e do consumismo burguês que o capitalismo lhe proporciona;
Você que não consegue aceitar que todos os regimes socialistas culminaram em escravidão e miséria (tal como na atual Venezuela);
Você que quer empresas estatais sob a justificativa de que “o petróleo é nosso” e, resumido ao seu campo limitado de raciocínio, não é capaz de aceitar os benefícios do livre mercado;
Você que é contra o sistema meritocrata e ao liberalismo e, num eterno e não tratado confronto emocional freudiano, confunde o Estado com seus próprios pais e dele quer tudo;
Você que prega a pobreza e gosta de luxo;
Você que acredita que a economia é um jogo de soma zero, onde para ficar rico é preciso empobrecer outro;
Você socialista!
EVOLUA!
Comentário de Uncle Sam
Em 15/10/2012 às 23:56
Well, well, well, fellows Guilherme and André !!! Good job, boys !!! I´m proud of you !!! God bless America !!! Stars and Stripes !!!