"O GOLPISTA NÃO MUDA, SEMPRE BUSCARÁ ATALHOS" (Eleição na Venezuela)

Granier, dono da RCTV, em longa entrevista, recusa-se a ver os novos tempos da revolução bolivariana (Fotos: Jadson Oliveira)
Um pouco dos jornais venezuelanos: especialmente para os brasileiros que, intoxicados pelo terrorismo da mídia hegemônica, pensam que na Venezuela do "ditador" Chávez não existe liberdade de imprensa

De Caracas - A manchete de primeira página é um ataque frontal ao presidente Hugo Chávez, o "golpista" que, em 4 de fevereiro de 1992, como tenente-coronel do Exército, liderou uma tentativa de golpe de Estado. De 1998 até agora ele ganhou em torno de 15 eleições democráticas, mas isso não importa... A declaração é de ninguém menos que o empresário Marcel Granier, dono da emissora RCTV, aquela que ficou famosíssima quando em 2004 não teve sua concessão renovada pelo governo de Chávez, depois de ter participado ativamente do golpe de 11 de abril de 2002 (ou tentativa, porque no dia 13 o povo e os militares resgataram o presidente). A emissora opera hoje somente a cabo.

E o jornal é La Razón, semanário radicalmente anti-chavista como se vê. A entrevista é longa, vou transcrever (traduzindo) os destaques que estão aí na primeira página, uma mostra de que para os direitistas venezuelanos os ventos da mudança vão passar a soprar para trás e tudo voltará, como num belo sonho, aos velhos "tempos dourados" (para as velhas oligarquias e o imperialismo, evidentemente, para o povo seria um pesadelo, mas isso é outro papo). Creio ser uma visão representativa de uma parte minoritária da população, principalmente entre a classe média e a burguesia.
Em campanha (edição desta quarta, dia 3): acusação manjada e repetida quase todos os dias contra Chávez e fotona de comício de Capriles
Granier, no apoio à manchete: "Essa mentalidade está aí, o veremos em 7 de outubro" (próximo domingo, a eleição presidencial, quando Chávez terá como principal opositor Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda). Mais: "Essa gente não crê nas eleições, é um grupo golpista que não crê na democracia, isso não vai mudar"; "O país quer que Chávez se vá do poder"; "O presidente e seus ministros mentem ao país"; "Chávez tornou a Venezuela mais dependente"; "Deu de presente os recursos dos venezuelanos e descuidou das reclamações territoriais".

E mais: "A tragédia financeira que se vive é consequência da aliança entre funcionários públicos e banqueiros"; "RCTV se prepara para regressar" (na esperança que Capriles ganhe); "A reconstrução do país será difícil".

La Razón é apenas um dos quatro jornais semanais encontráveis nas bancas de Caracas, todos anti-chavistas. Os outros: Quinto Dia, As verdades de Miguel e Sexto Poder. Um dado característico daqui é que não há revistas semanais influentes como no Brasil - há revistas semanais, mas sem peso político. Relativamente, os jornais semanais têm mais influência, conforme me informaram alguns jornalistas.
Relacionei 26 jornais nas bancas do centro de Caracas: 22 diários e quatro semanais: pelo menos 15 são anti-chavistas
O jornal chavista mais importante (edição desta quarta, dia 3), estatal, 100 mil exemplares por dia
Fiz um levantamento nas bancas do centro de Caracas: ao todo, além dos quatro semanários, anotei 22 jornais diários. Veja bem: são vendidos na capital, mas nem todos têm circulação nacional. Destes, pelo menos a metade são anti-chavistas. Relaciono os que recordo com manchetes e títulos de capa mais agressivos diariamente: El Nacional, El Universal, El Nuevo País, Tal Cual, 2001 e El Carabobeño (do estado de Carabobo).

Dos demais - em torno de 11 -, há três chavistas: Correo Del Orinoco é o mais forte (o chavismo resgatou o nome da publicação criada por Simón Bolívar quando da guerra contra o domínio espanhol): estatal, custa apenas 1 bolívar (o preço mais comum  aqui é 4 ou 5 bolívares), tem circulação nacional, estimada em 100 mil exemplares diários; Ciudad Caracas é editado pela prefeitura da cidade (município de Libertador, o maior dos cinco municípios que formam a capital), é distribuído gratuitamente somente em Caracas; e Diário Vea (Veja), de um grupo privado.

Dos oito restantes, mais ou menos a metade dedica-se a esportes, notícias policiais e fofocas de celebridades. A outra metade enquadra-se no que chamo "mais ou menos equilibrados" entre o chavismo e o anti-chavismo. Aí, dois merecem destaque:
O "equilíbrio" do Últimas Notícias (edição da segunda, dia primeiro): foto grande da concentração de Caprile, encima; e foto menor da de Chávez, embaixo; além disso, nunca daria manchete de capa com discurso textual do presidente.
1 - O Últimas Notícias é o mais lido do país, a estimativa que obtive foi de 300 mil exemplares por dia. É do Grupo Capriles (privado), que reúne várias outras publicações e, como se vê, da família do candidato oposicionista (daí se dizer que a direita venezuelana nesta eleição conseguiu apresentar um postulante puro sangue, representante legítimo das velhas oligarquias). Mas, de qualquer forma, não é um panfleto de propaganda da campanha de Capriles, como outros citados acima.

Perguntei a um influente jornalista venezuelano: "O quanto o Últimas Notícias é equilibrado?" Ele respondeu sem pestanejar: "É 70% contra Chávez e 30% a favor". A foto aí logo acima corrobora esta avaliação.

2 - O segundo é o Panorama, jornal muito importante de Zulia, o estado de maior população e maior peso econômico do país (por sinal que, como São Paulo, é governado pela direita). Do ponto de vista técnico-jornalístico, na minha modesta opinião, é o melhor jornal da Venezuela. Fiz a mesma pergunta ao mesmo jornalista, com referência ao Panorama. Resposta: "É o contrário, 70% a favor de Chávez e 30% contra". 

 

Comentários

Anônimo disse…
Tomara que o câncer leve embora logo esse ditador FDP, populista, cínico.. Tenho muita pena dos venezuelanos de bem que estão vendo seu país ser destruído por esse charlatão amoral. "Opção pelos pobres" é o caralho... a opção dessa corja é bajular e manter os pobres ignorantes com a esmola oficial e assim se perpetuar no poder, isso sim!! (igualzinho aqui no Brasil).

Aliás, esse negócio de "pai dos pobres" e culto à personalidade é beeeem coisa de país subdesenvolvido mesmo (republiqueta das bananas). Em país sério, o presidente é um mero servidor público, ninguém fica cultuando como se fosse um "santo" ou uma celebridade. Ah, e se ele fizer MERDA tem que responder (simples assim).

Aqui no Brasil, não... a Justiça parece ter medo até de julgar ex-presidente. Medo de quê? Deles colocarem os "muvimentos sociais" na rua?? Ora, se os "camisas negras" do MST, CUT, etc., forem pra rua ameaçar as instituições e as pessoas de bem, CACETE neles.. é pra isso que existem polícia e forças armadas. Simples assim.

PS: Este Blog é escrito por gente paga ou um verdadeiro cérebro de minhoca (das duas, uma).