ESPETÁCULO DE INTOLERÂNCIA NA "ESQUINA CALIENTE"

A "Esquina Caliente", na Praça Simón Bolívar, centro de Caracas, esteve agitada no domingo vaiando e perseguindo partidários de Capriles
De Caracas (Venezuela) - No domingo, dia 30, alguns partidários do presidente Hugo Chávez deram um espetáculo de intolerância: vaiaram, constrangeram e chegaram a agredir com empurrões seguidores do candidato opositor Henrique Capriles que tiveram a "ousadia" de transitar pela Praça Simón Bolívar, no centro da capital venezuelana, onde fica a "Esquina Caliente", um reduto da revolução bolivariana já muito conhecido dos leitores deste meu blog, sempre mencionado aqui de forma elogiosa. Hoje, porém, não.

Intolerância política, própria de movimentos fascistas que não combinam em nada com a bela utopia bolivariana e socialista atualmente em construção na Venezuela sob a liderança do "comandante" Chávez. É como se um cidadão ou uma cidadã não tivesse o elementar direito de transitar por uma área pública da cidade em decorrência de suas opções políticas e ideológicas.
Esta senhora (blusa amarela, com bandeira), paramentada de caprilista, teve a "ousadia" de atravessar a Praça Bolívar: foi perseguida por chavistas aos gritos de "fora majunche!"
Basicamente: apareciam uma ou mais pessoas com vestimenta e/ou cartazes indicativos de apoio à candidatura da direita e eram apupadas e perseguidas, praticamente expulsas da praça aos gritos de "fora majunche!" (palavra usada para menosprezar os oposicionistas e que significa uma coisa sem valor, sem importância). E passaram por lá muitos simpatizantes da oposição, porque justamente no domingo foi o dia da grande concentração da campanha de Capriles em Caracas, conforme cobertura postada neste blog: eles iam ou voltavam da Avenida Bolívar, onde se deu a manifestação.

Em alguns casos, policiais tiveram que intervir para garantir a integridade física das pessoas - homens e mulheres. Em um caso, os mais exaltados se apossaram do boné de alguém (boné característico com cores e estrelas da bandeira do país, que começou a ser usado por Capriles e passou a ser usado por seus apoiadores), não vi como se apossaram do objeto (presumo que tenha sido "tomado" de algum "majunche"). E saíram chutando o boné pela rua, com gritos e comemorações.

Quase todos os dias lideranças chavistas e o próprio Chávez têm avisado aos seus seguidores: "Cuidado, não aceitem provocações", exatamente para evitar atos de violência que gerem um clima de medo e desestabilização do processo eleitoral. Querem ganhar, limpamente, no voto. No domingo, na "Esquina Caliente", deu-se o inverso: chavistas provocavam! 
Esta senhora entrou na confusão para me defender
Este repórter/blogueiro, inclusive, foi apontado por alguns como "majunche" quando fotografava os incidentes, apesar de ser habitual frequentador do local. Na hora da euforia, nunca se sabe até onde pode levar a exaltação apaixonada de alguns. Fui constrangido e ameaçado. Um chegou a pretender apagar as fotos da minha maquininha. Me identifiquei como jornalista brasileiro e consegui serenar os ânimos. 

Tive o apoio de alguns que entraram na confusão para me defender: me lembro do rosto de uma senhora negra que foi muito simpática comigo, sorria para mim e me defendia; um senhor disse: "Somos um país livre e democrático, ele pode fotografar o que quiser". Um outro me disse que me reconhecia de uma vez que participei de um programa de rádios comunitárias, que é feito ali, justamente com o nome "Esquina Caliente", às 11 horas de toda quinta-feira. Por sinal, logo em seguida à confusão comigo passou por lá e nos cumprimentamos um dos radialistas do dito programa (Gonzalo Azuaje, do Coletivo Ali Primera).

Tudo acabou bem, quer dizer mais ou menos, porque a mancha da intolerância ficou.


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