Do blog O Cafezinho, por Miguel do Rosário, de 15/10/2012
Vindo para o escritório, muito cedo, passei por uma dessas kombis que vendem hamburguer e bebidas. Havia um punhado de homens consumindo cerveja. Um moralista barato pensaria estar diante de vagabundos, e os condenaria em silêncio, estendendo a condenação ao país inteiro, como sói acontecer a nossos reacionários sem pedigree. Um observador mais atento talvez descobrisse que são trabalhadores, que passaram o final de semana inteiro, em turnos sucessivos, ralando em algumas das centenas de casas de show e bares da Lapa; e que agora, com dinheiro no bolso, descontraem-se e trocam ideias. Cada um sabe o que fazer para conservar a saúde mental: uns se entopem de rivotril, outros bebem cerveja, alguns cancelam a assinatura do Globo.
Estamos sempre julgando os outros segundo nossos padrões, e por isso mesmo sempre cometendo injustiças. Um empregado de escritório, que há trinta anos acorda cedo para ir ao trabalho, de segunda a sexta, terá dificuldade para entender aquele personagem bebendo cerveja às seis horas da manhã numa kombi da Mem de Sá. No entanto, ambos são trabalhadores dignos, pagadores de impostos e cidadãos que contribuem para o nosso desenvolvimento econômico e social. Seria ridículo estabelecer uma hierarquia moral entre os dois.
(...)
Não se trata de defender a impunidade. Aí reside, a meu ver, a injustiça daqueles que, achando-se muito descolados, desqualificam os internautas que criticam o STF. É claro que não! Prendam os corruptos, inclusive do PT. Sobretudo do PT! O que tem gerado acerbos protestos não é isso, e sim o estranho discurso dos eminentes juízes, com proselitismos absurdos e delirantes sobre a prática política, dos quais abusam para preencher as lacunas processuais. Ayres Britto, presidente do STF, chegou ao cúmulo de condenar o presidencialismo de coalizão! Me desculpem, mas isso é positivamente ridículo. A Constituição é muito clara: é vetado aos juízes dedicarem-se à atividade político-partidária. E mesmo se não o fossem, criticar levianamente, ou pior, criminalizar, um dos modelos mais difundidos e mais adequados a democracias complexas e de grande porte como o Brasil, é mais do que ignorância. Com todo respeito, excelentíssimos, é cretinice!
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