23 DE ENERO: REDUTO POPULAR DA RESISTÊNCIA E DA REVOLUÇÃO (nas ruas de Caracas 4)

De Caracas (Venezuela) - Um dos poucos bairros populares onde estive na capital venezuelana foi 23 de Enero (23 de janeiro aqui é o Dia da Democracia, quando foi derrubada, em 1958, a ditadura de Pérez Jiménez, com uma rebelião popular). A Paróquia 23 de Enero faz justiça ao nome (Caracas é dividida em 22 paróquias, cada uma é uma espécie de bairro enorme, com outras subdivisões. "Barrios", assim como "barriadas" e "cerros" para os caraquenhos são bairros pobres da periferia, que aí no Brasil chamamos favelas, morros, na Bahia encostas, invasões. Caracas fica num vale - Valle Ávila -, cercada de morros, muitos deles habitados pelos mais pobres).

É um dos bairros mais populosos. É conhecido como um dos campeões da resistência no tempo da "democracia" da IV República (1958-1998), quando era apontado como foco de subversivos. No famoso Caracazo (rebelião popular de 27 de fevereiro de 1989), conta-se que a repressão instalou por lá franco-atiradores que mataram gente como se mata (ou matava) passarinho. Hoje é reduto fortíssimo do chavismo. (As duas primeiras fotos tirei na visita bem antes da eleição. A terceira peguei na Internet).
As duas aí são do Parque Los Caobos, uma área verde imensa, fica perto da Praça dos Museus, a uns 20 minutos de caminhada do centro da cidade. Aqui temos muitos parques, praças espaçosas, muito verde, bem como uma vida cultural bem movimentada, com museus, teatros, feiras de livro, festivais, exposições, etc, embora sejam atividades às quais dedico muito pouco do meu tempo (é um dos meus defeitos, dizem).
Cartaz e consigna muito difundidos por aqui, independentemente de eleições. "Pa'lante - para delante" seria o nosso "Pra frente comandante!"
Esta é da Praça Simón Bolívar, miolo da cidade, por onde sempre ando. É da comemoração da entrada da Venezuela no Mercosul, em reunião no Brasil (olha lá nossa bandeira), final de julho. O Congresso do Paraguai, dominado amplamente pela direita, segurou uns seis anos o ingresso do país presidido pelo esquerdista Hugo Chávez. Depois, por vias tortas, abriu as portas para os bolivarianos, punido pelo pecado da derrubada do presidente Fernando Lugo, via um golpe parlamentar.

Dourados tempos esses em que a juventude de hoje vive, quando golpe de Estado passou a ser um pecado na nuestra América. Na minha juventude, anos 60 e 70, foram anos de ditadura militar esmagando nossos sonhos de revolução social. Em seguida, vieram os 80 e 90, com a merda do neoliberalismo. Agora volta a raiar o sol na nossa região, com os primeiros ensaios de independência verdadeira e socialismo, embora o Brasil esteja ainda mais atrás. Vamos em frente, daqui uns 100 anos, quem sabe? podemos estar dando os primeiros passos rumo ao paraíso comunista, o verdadeiro humanismo. Bem-vinda, você bela morena, seu nome é Esperança (ou Utopia?).
Mais uma vez a Praça Simón Bolívar, manifestação em defesa dos palestinos e apoio à sua tenaz resistência diante do terrorismo explícito do governo de Israel, sustentado pelo império estadunidense.
Agora um pouco de sessão nostalgia. Fiz uma visita a Baruta (poderia ser considerado um bairro, mas, administrativamente, é um dos cinco municípios que compõem Caracas. A maioria dos habitantes é de classe média, inclusive alta, tanto assim que sempre é governado por prefeito da direita, anti-chavista. Henrique Capriles, por exemplo, que agora foi derrotado por Chávez, já foi prefeito de Baruta).

Bem, o caso é que quando estive em Caracas em 2008 morei em Baruta. Fui lá para relembrar, caminhei por toda a área, fui até o portão da casa onde aluguei um quarto. A primeira foto é da pracinha principal, que, para variar, chama-se Simón Bolívar. A Taberna Sagres (de um português, vê-se logo pelo nome) era um dos bares que frequentava, tem corrida de cavalos por circuito de TV, os clientes apostam, torcem, uma vez apostei e ganhei. Tomei um susto, mas quando fui ver era uma mixaria. 

A terceira foto é dos caminhos por onde transitava para ir ao Centro Comercial mais próximo, a uns 500 metros: me ficou a lembrança do asfalto sem área para o pedestre, bem desconfortável. Taí registrado.
Grupo de jovens que fizeram um encontro em Caracas para apoiar a reeleição de Chávez e debater seus assuntos. A maioria era da América Latina e Caribe, inclusive, claro, do Brasil. Passavam aí, à noite, depois do encerramento das discussões, barulhentos e festivos, por uma das laterais da Praça Simón Bolívar (sempre ela!).
Manifestação para marcar os 39 anos da derrocada de Salvador Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973. Foi na Praça da Candelária, a uns 20 minutos do centro, de ônibus, organizada pelo radialista Luis Salazar (no microfone), aqui chamado comunicador popular, pois atua nos meios de comunicação alternativos e comunitários, uma rede aqui fortíssima de apoio à Revolução Bolivariana. 

(As TVs e rádios comunitárias aqui - bem ao contrário do Brasil, onde são perseguidas pelo Ministério das Comunicações, pela Anatel, pela Polícia Federal e, claro, pelos monopólios da mídia privada - são beneficiadas por amplo programa de incentivo por parte do governo de Chávez. Este blog tem abordado em muitas oportunidades este tema, mas sempre estou frisando este aparente absurdo que acontece nos governos de Lula/Dilma).

A experiência pioneira de Allende de implantação do socialismo, por via pacífica e "eleições burguesas", é muito reverenciada pelos venezuelanos, que seguem um caminho semelhante, até agora exitoso, embora aqui não se trate de uma "revolução desarmada" como a dos chilenos, como sempre enfatiza o próprio Chávez.
Uma foto pretensiosa deste amador (me desculpem Manuel Porto e os profissionais do clique). É bem no miolo de Caracas: pega a Avenida Baralt e o viaduto (onde passa a Avenida Urdaneta - o nome é Puente Llaguno, a uns 200 metros do Palácio Miraflores, sede do governo), mostrando o monumento em homenagem aos 19 adeptos do chavismo assassinados pelos golpistas de 11/12 de abril de 2002 (postos a correr no dia 13).
Duas fotos que peguei na Internet e terminei não usando em matérias. Estão aí, gostei delas: uma é construção da "Gran Misión
Viviendas Venezuela", moradias para o povo carente, "não é barraco, é casa digna", diz Chávez; a outra é fila para votar logo cedinho no 7 de outubro.
Fechando com a "cachapa": bolo de uma massa grossa de milho assado na hora na chapa quente (redondo, veja três aí na foto), com um pedaço de queijo branco e um pouco de presunto. Uma beleza e mais barato que um almoço. Costumava comer uma metade e guardar a outra para mais tarde. É coisa típica daqui e mais um derivado gostoso do milho (sou chegado ao milho, inclusive pra todo lugar que viajo carrego sempre um cuscuzeiro pequeno e também um estoque mais ou menos calculado de massa para cuscuz).

Outro troço daqui, do milho, é a "arepa", creio que pode ser considerada o acepipe nacional. É muito mais consumida do que a "cachapa". Na verdade, é consumidíssima pelos venezuelanos: no café da manhã, servindo de entrada no almoço e substituindo o pão na sopa. Não gosto muito: leva muita farinha de trigo, não tem sabor de milho. Mas como, na realidade eu como tudo (ou quase tudo).

(Fim da série "nas ruas de Caracas". Fiz uma "limpa" nos meus arquivos. Agora as que sobraram sobraram. Vamos em frente. Como diz um personagem de um primo meu, Ivan Guanaes, "vou em frente, sou um rompedor!")


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