Chávez em ato de campanha, quarta, dia 26, na cidade de Coro, estado de Falcón (noroeste do país): "Temos que ganhar em 7 de outubro de maneira esmagadora" (Foto: AVN) |
Seria o meio mais eficaz de enfraquecer as denúncias de
fraude que a oposição fará após a divulgação dos resultados, através do
poderoso esquema midiático internacional
De Caracas (Venezuela)
- A 10 dias das eleições, com entusiástica mobilização popular e pesquisas de
opinião apontando, de forma estável, uma vitória folgada, o grande problema do
presidente Hugo Chávez não é ganhar, mas ganhar com uma grande margem. Só assim
– acreditam os chavistas – as denúncias de fraude que a oposição fará logo após
o anúncio dos resultados – noite do dia 7 e 8 de outubro - poderão cair no
descrédito, mesmo contando com o poderoso esquema internacional do chamado
terrorismo midiático, sob a batuta da CIA (agência de inteligência do império
estadunidense).
Os institutos de pesquisa
considerados confiáveis não têm deixado dúvida: desde o início do ano, quando
os partidos oposicionistas escolheram seu candidato, vêm despejando números que
indicam uma preferência indiscutível pelo “candidato da Pátria” sobre o
principal opositor, Henrique Capriles Radonski, governador do estado de
Miranda. Na quarta-feira, dia 26, a Hinterlaces, uma das empresas pesquisadoras
de maior credibilidade, divulgou sua última safra de números antes do pleito (pesquisas
só podem ser divulgadas até 30/setembro).
O diretor da Hinterlaces, Oscar
Schemel, apresentou dois cenários: num Chávez ganha com diferença entre 14% e
16%; num segundo entre 10% e 12%, dependendo do nível de abstenção, estimado em
25% (na Venezuela o voto não é obrigatório). Destacou que um terceiro cenário
seria “absurdo”, pois é “uma obrigação profissional” mostrar as previsões mais
prováveis: “Não temos um cenário em que ganhe Henrique Capriles”, frisou,
segundo amplo noticiário da imprensa chavista.
Schemel: "Não temos um cenário em que ganhe Henrique Capriles" (Foto: AVN) |
Já a Internacional Consulting
Services (ICS), com base na sua última sondagem, revelou na terça-feira, dia
25, que o chefe da chamada revolução bolivariana conta com 55,1% das intenções
de voto, frente a 35,4% do aspirante da direita - uma diferença de 19,7%; 6,4%
disseram que não votarão e 3,1% não sabem ou não responderam (margem de erro
para mais ou para menos 2%). Outro instituto, Consultores 30.11,
divulgou sondagem nesta semana: Chávez – 57,2%; Capriles – 37,5%.
A direita vai “cantar fraude”, sabe que vai perder e maneja
seu “plano B”
Até empresas de pesquisa tidas como afinadas
com a oposição, como é o caso da Datanálisis, adotam agora dados considerados
mais realistas. Sua última sondagem, divulgada também na terça, prevê 49% para
Chávez e 39% para Capriles, conforme noticiou Últimas Notícias, o jornal mais lido do país e de política
editorial mais ou menos equilibrada. Mas o dirigente da Datanálisis, Luis
Vicente León, apresentou cenários menos desfavoráveis ao postulante da direita,
comentando que “o único candidato que tem crescido é Henrique Capriles
Radonski”.
De qualquer forma, para além das
paixões e interesses políticos, um mínimo de sensatez recomenda que se acredite
na vitória iminente dos bolivarianos. E as lideranças chavistas não só
acreditam, como garantem que o comando oposicionista também acredita. Daí o
empenho para atingir um patamar nunca antes alcançado: 70% dos votos e 10
milhões de votos, num eleitorado hoje em torno de 18 milhões (Na eleição de
2006, o “comandante” conseguiu 7,3 milhões de votos - 63%, enquanto o opositor
Manuel Rosales ficou com 4,3 milhões – 37%; a abstenção foi 26%).
Porque assim enfraqueceriam o
esperneio da direita quando sua derrota for anunciada, provavelmente na
madrugada de 7 para 8 de outubro, com total respaldo da mídia “amiga”, conforme
raciocinam os chavistas. Eles não têm dúvidas e repetem – eles e o próprio
Chávez – todo santo dia nas entrevistas e nos discursos: a direita vai desconhecer
os resultados e “cantar fraude”, a direita sabe que vai perder e maneja seu
“plano B”, a direita busca provocar com atos violentos um cenário de
desestabilização, de caos e de medo.
Há mais um detalhe nesse ambiente
carregado de ameaças e suspeitas: líderes governistas vêm denunciando que está
em marcha a pretensão da oposição de fazer uma suposta totalização paralela dos
votos, de maneira a poder anunciar supostos resultados da votação antes do
anúncio oficial do Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso TSE,
que já definiu que só vai anunciar o primeiro boletim da apuração,
provavelmente na noite de 7 de outubro, quando os números já indiquem uma
tendência irreversível). Imaginem a confusão: as corporações da mídia
alardeando pelo mundo afora uma suposta vitória de Capriles, com base na
“totalização paralela” do comando oposicionista!
O sistema venezuelano tem o que tanto Brizola reclamava: o papelzinho para comprovar o voto (Foto: Internet) |
De Jimmy Carter, Leonel Brizola, votação eletrônica e
nacionalismo
No “cantar fraude” está incluída a
campanha de descrédito que a direita vem fazendo contra o CNE, que estaria,
como “árbitro da partida”, beneficiando o chavismo. Ora, o órgão vem sendo
agraciado com índices acima dos 70% de aprovação em pesquisas de opinião entre
os venezuelanos. Não por acaso uma personalidade como o ex-presidente dos
Estado Unidos, Jimmy Carter, que não pode ser “acusado” de esquerdista, nem tampouco
de chavista, declarou recentemente que o sistema eletrônico de votação da
Venezuela é o mais confiável do mundo (o Centro Carter, fundado por ele nos
EUA, tem experiência com o trato de eleições em 92 países).
Por que será que Carter fez
avaliação tão lisonjeira para o Poder Eleitoral venezuelano? Simplesmente
porque o sistema fornece uma prova material do voto, um papelzinho, onde o
eleitor pode conferir se o voto que ele marcou na maquininha corresponde ao que
está no papel. Ou seja, a votação pode ser auditada, verificada, checada,
recontada. No Brasil, por exemplo, tido como um sistema moderno, ágil e
confiável, isso não é possível, não existe o tal do papelzinho.
Leonel Brizola, o velho guerreiro
nacionalista perseguido pela Rede Globo de Televisão - quem se lembra? -, nunca
confiou nas maquininhas do TSE brasileiro, não deixava passar uma oportunidade
para denunciar a insegurança que representa a falta do comprovante do voto. Daí
que o nosso Brizolão, se lhe fosse dado a ventura de acompanhar hoje os avanços
da revolução bolivariana contra o imperialismo, estaria certamente apoiando-a e
exaltando, com entusiasmo, o sistema eletrônico automatizado da Venezuela.
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