VENEZUELA: BOMBEIROS FRUSTAM OS ESFORÇOS DA IMPRENSA E APAGAM O INCÊNDIO DA REFINARIA


Jornais falam da ampliação do fogo, enquanto desde 7:15 da manhã o incêndio está debelado (Fotos: Jadson Oliveira)
O único diário privado chavista foi quem acertou na manchete
Os jornalões alardearam nas manchetes desta terça, dia 28, o fogo num terceiro tanque e “esconderam” que por volta da meia-noite o incêndio já estava quase todo debelado: é mais uma manifestação do terrorismo midiático contra a chamada revolução bolivariana

De Caracas – A incansável imprensa anti-chavista bem que se esforçou, mas em vão: cumprindo a previsão anunciada na véspera pelo ministro da Energia e Petróleo e presidente da Pdvsa (a estatal do petróleo), Rafael Ramírez, às 7:15 horas da manhã desta terça-feira, dia 28, os bombeiros terminaram de apagar o último dos três tanques com nafta que queimavam no dia anterior. Desde a explosão em torno de 1 hora da madrugada de sábado, dia 25, no gigantesco complexo de refinação de Amuay (no estado ocidental de Falcón), ardiam em chamas dois tanques.

Aconteceu que na tarde da segunda-feira, dia 27, apesar do trabalho dos 222 bombeiros no local, o vento acabou jogando as chamas para um terceiro tanque. O ministro Ramírez explicou então que o fato não representava aumento de riscos, garantiu que a situação estava sob controle e, mais ainda, previu que “amanhã”, na terça, o fogo estaria extinto completamente em todos os três tanques.
Anunciou um incêndio no título e "escondeu" a extinção de outro no "rabo" da chamada
Outro (La Calle - A Rua) que foi na onda do "Arde terceiro tanque"
Não adiantou nada a previsão do ministro. Os aguerridos jornais da direita venezuelana, ávidos por mais fogo – na tentativa de torrar a reeleição tida como certa do presidente Hugo Chávez em 7 de outubro -, se fartaram com o incêndio no terceiro tanque. Foi a manchete da capa de quase todos os diários privados editados em Caracas, parte deles de circulação nacional. Repetiu-se à exaustão, com variações de praxe: “Arde terceiro tanque”.

Quase todos menos um: o Diário Veja (“Vea”), o único privado chavista, foi o  único a exibir nas bancas uma manchete condizente com a realidade do dia, ou seja, o incêndio estava completamente debelado a partir das 7:15 horas da manhã. O título era tirado das declarações de Ramírez: “Nas próximas horas extinguirão fogo em Amuay”.

Até o Últimas Notícias, considerado o mais lido da rede privada e que tem um noticiário mais equilibrado do que os tradicionais El Nacional e El Universal, e do que uma dezena de outros, entrou na dança: deu o terceiro tanque com certo destaque na capa e deu na manchete principal das páginas internas.

Notícia positiva para o governo sai “escondida”

E tem um detalhe que pode ser considerado mais grave e revelador do partidarismo: a redação do Últimas Notícias tinha a informação de que perto da meia-noite só faltava apagar um tanque e, mesmo assim, este último tanque já estava quase apagado – cerca de 75%. Tanto tinha a informação que a publicou “escondida” no “rabinho” (como a gente falava no meu tempo de redação lá na Bahia) da principal matéria da cobertura nas páginas internas.
O considerado mais lido e mais equilibrado mostrou também partidarismo
Olha aí onde o Últimas Notícias "escondeu" o Twitter de Chávez
Está lá no “rabo” da matéria, “escondida”, sem qualquer título, sem nenhuma menção na primeira página. Foi inserida com base na mensagem difundida por Chávez na sua conta do Twitter (chavezcandanga) antes da meia-noite. A estimativa do percentual de 75% é da mensagem do presidente, baseado no informe do seu ministro Ramírez.

Pelo horário do Twitter de Chávez, pode haver a possibilidade de alguns dos jornais já estarem nessa hora “fechados”, isto é, com o trabalho de edição concluído. Mas, além do Últimas Notícias, pude constatar que pelo menos mais um jornalão publicou a notícia: El Nacional. Também “escondida” no “rabinho” da chamada da capa. Só isso: “À meia-noite, o presidente disse que se conseguiu extinguir o fogo no tanque 200”. (Numa avaliação profissional-cínica, é compreensível o tratamento dado a esta informação, já que ela contraria a manchete do jornal e o espírito de toda a edição).
"Negligência criminosa" e "Mais de cem mortos": vale tudo contra Chávez
Para vocês terem um painel mais amplo dos jornais do dia: estão aí o El Nuevo País, que sempre consegue radicalizar um pouco mais: de 41 mortes confirmadas até agora, ele joga para “mais de cem” e mete os “médicos cubanos” no jogo: são sempre referidos aqui pelos anti-chavistas como vilões. São cerca de 20 mil que certamente cometem algum tipo de crime por trabalharem na Missão Bairro Adentro, que presta serviço de saúde gratuito aos pobres; e o Tal Cual, que sai com “Negligência criminosa” e costuma encher a primeira página com o início de um textão tipo editorial.

Já os diários chavistas considerados públicos (ou estatais) – Correo Del Orinoco, do governo federal, e Ciudad CCS, da prefeitura de Caracas (município de Libertador) -, preferiram destacar nas capas desta terça as ações do governo para ajudar as vítimas da tragédia: pensões para as viúvas, bolsas de estudo para filhos dos policiais e trabalhadores mortos, criação de um fundo para custear moradias e reparos (moradores vizinhos da refinaria tiveram casas destruídas e danificadas), assistência a familiares, etc.

Para se ter ideia do gigantismo do complexo de refinação onde ocorreu a tragédia (na imprensa aqui ela é referida como a maior do mundo): se falou muito dos dois tanques de nafta queimando, depois de um terceiro; pois bem, Rafael Ramírez comentou que a explosão causou problemas em nove tanques. Sabe quantos tanques existem no tal complexo? 608, informou ele.

Sobre as suspeitas de sabotagem (objeto de postagem deste blog), as autoridades governamentais dizem que só tratarão do assunto depois da conclusão das investigações. Por enquanto, o episódio continua sendo tratado oficialmente como acidente. Uma comissão de 50 investigadores está encarregada do caso.

Comentários