Fernando Lugo com a faixa presidencial |
Só a MOBILIZAÇÃO e
ORGANIZAÇÃO POPULAR sustenta governos que querem impulsionar um projeto de
transformação social
Por Atilio Boron, de 22/06/2012 (Traduzido
de seu blog)
Há uns minutos acaba de se consumar a farsa: o presidente do Paraguai Fernando Lugo foi destituído de seu cargo num julgamento sumaríssimo no qual o Senado mais corrupto das Américas - e isso quer dizer muito!- o achou culpado de "mal desempenho" de suas funções devido às mortes ocorridas no despejo de uma fazenda em Curuguaty.
Há uns minutos acaba de se consumar a farsa: o presidente do Paraguai Fernando Lugo foi destituído de seu cargo num julgamento sumaríssimo no qual o Senado mais corrupto das Américas - e isso quer dizer muito!- o achou culpado de "mal desempenho" de suas funções devido às mortes ocorridas no despejo de uma fazenda em Curuguaty.
É difícil saber o que pode ocorrer daqui para
frente. O certo é que, como diz o artigo
de Idilio Méndez que acompanha esta matéria, a matança de Curuguaty foi uma armação
montada por uma direita que desde que Lugo assumira o poder estava
esperando o momento propício para acabar com um regime que pese não haver afetado
seus interesses abria um espaço para o protesto social e a organização popular
incompatível com sua dominação de classe.
Apesar das múltiplas advertências de
numerosos aliados dentro e fora do Paraguai, Lugo não assumiu a tarefa de
consolidar a grande porém heterogênea força social que com enorme entusiasmo o levou
à presidência em agosto de 2008.
Sua influência no Congresso era absolutamente
mínima, um ou dois senadores no máximo, e somente a capacidade de mobilização
que pudesse demonstrar nas ruas era o único fator que poderia dar governabilidade
à sua gestão.
Mas não o entendeu assim e durante seu
mandato se sucederam múltiplas concessões à direita ignorando que por mais que a
favorecesse ela jamais iria aceitar sua presidência como legítima.
Gestos de concessão a favor da direita resultam
unicamente em torná-la mais agressiva, não apaziguá-la. Apesar das concessões
Lugo sempre foi considerado um intruso incômodo, por mais que promulgasse ao
invés de vetá-las as leis antiterroristas que, a pedido de "a Embaixada",
aprovava o Congresso, o mais corrupto das Américas.
Uma direita que, com certeza, sempre atuou irmanada
com Washington para impedir, entre outras coisas, o ingresso da Venezuela no
Mercosul. Tarde se deu conta Lugo do quanto "democrática" era a
institucionalidade do estado capitalista, que o destitui num tragicômico
simulacro de julgamento político violando todas as normas do devido processo.
Uma lição para o povo paraguaio e para todos os
povos da América Latina e do Caribe: só a MOBILIZAÇÃO e ORGANIZAÇÃO POPULAR sustenta
governos que querem impulsionar um projeto de transformação social, por mais
moderado que seja, como tem sido o caso de Lugo.
A oligarquia e o imperialismo jamais cessam
de conspirar e atuar, e se parece que estão resignados esta aparência é inteiramente
enganosa, como acabamos de comprovar há
uns minutos em Assunção.
Atilio A. Boron é
cientista político e sociólogo argentino de nascimento e latino-americano por
convicção.
Reação de presidentes da América do Sul (conforme noticiário do sítio da TV Telesul):
Dilma Rousseff/Brasil - Sugeriu expulsar o Paraguai do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da União das Nações Sul-americanas (Unasul). Disse que os dois organismos têm cláusulas em seus estatutos que exigem respeito às regras democráticas.
Cristina Fernández/Argentina – Declarou que seu país “não vai validar o golpe de Estado no Paraguai" e adiantou que se decidirá um "curso de ação" com os países da região.
Rafael Correa/Equador - Rechaçou como "ilegítima" a destituição de Lugo, e disse que seu governo não reconhecerá um novo mandatário no país (assumiu o vice Federico Franco): “Equador não reconhecerá nenhum presidente paraguaio que não seja o presidente legitimamente eleito, Fernando Lugo”. Qualificou o julgamento político no parlamento como “uma patranha com embalagem legalista”.
Evo Morales/Bolívia - Declarou que não "reconhece um governo que não surja das urnas e do mandato do povo"
Hugo Chávez/Venezuela – Lugo foi “defenestrado de maneira ilegítima, ilegal e inconstitucional (…) assim são as burguesias. Igual o que fizeram a (Manuel) Zelaya (ex-presidente hondurenho) e o que trataram de fazer aqui (em 2002)”, disse. Ressaltou que com tal ação não só “se golpeia a história paraguaia”, como também se golpeia a Unasul, que defende o respeito à democracia e à ordem constitucional.
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