Chávez: "Estamos dispostos a defender a democracia, a institucionalidade e a paz" (Foto: AVN) |
De Caracas (Venezuela) -
Leio no sítio da TV Telesur (Telesul) que Andrés López Obrador, candidato da
aliança de esquerda no México, de oposição (um dos três aspirantes a presidente
com chances de ganhar), acabou de declarar que está disposto a assinar qualquer
documento garantindo respeitar o resultado da eleição no próximo dia primeiro.
(Obrador – lembremos – tinha se insurgido contra a lisura do pleito anterior
quando perdeu por diferença mínima para o atual presidente Felipe Calderón).
Aqui na Venezuela, o presidente Hugo
Chávez, que vai disputar a segunda reeleição em 7 de outubro, já fez juramento
semelhante, solenemente, ao inscrever sua candidatura, no último dia 11, no
Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao nosso TSE).
Já o candidato oposicionista (há
outros seis inscritos, mas este é o único que, em tese, teria alguma chance)
Henrique Capriles Radonski - que está em campanha pelo país no
chamado “furacão do progresso” - surfa nas ondas da ambiguidade e se recusa a
declarar: respeitarei o resultado da votação e apuração a cargo do CNE (que é
considerado aqui mais um dos poderes da República Bolivariana, o Poder
Eleitoral).
Capriles faz campanha pelo país no chamado "furacão do progresso" (Foto: sítio lapatilla.com) |
(Por falar em ambiguidade: seria
risível se não fosse estarrecedor o grau de atrevimento no ato de mentir da
velha mídia brasileira (e internacional), que insiste em classificar Capriles
como de centro-esquerda – “o jovem candidato oposicionista de centro-esquerda”,
é demais; e daí, por derivação lógica, insiste em colá-lo como inspirado num
modelo exitoso que poderia ser chamado de “Brasil de Lula”. O ex-presidente
Lula pode ter máculas políticas e ideológicas – e as tem com certeza -, mas,
pelo que se sabe, nunca foi pego invadindo a Embaixada de Cuba, ou participando
de golpe de Estado, ou sendo ponta de lança de oligarquias aliadas ao império.
Façamos justiça ao nosso Lula).
Ambiguidade gera um clima de suspeitas
Quer dizer, recusa-se a declarar o
que seria o óbvio: ele se inscreveu como candidato no CNE e não confia no órgão
para dirigir o processo eleitoral? É o mesmo órgão – lembremos - que dirigiu a
eleição interna entre os líderes da oposição para definir o candidato que iria
enfrentar Chávez, pleito do qual o próprio Capriles saiu vencedor (aqui o CNE
se encarrega de outras eleições, como internas de partidos políticos, sindicais,
etc, e não somente as escolhas de membros do Legislativo e Executivo, como aí
no Brasil).
Capriles e seus aliados do chamado
Comando Venezuela (de campanha) alegam, sem explicitar muito claramente seus
argumentos e acusações, que o CNE age com parcialidade, ou seja, conduz o
processo eleitoral de maneira a favorecer o chavismo. Os líderes chavistas
cobram provas do suposto favorecimento, mas, pelo visto, elas ficam no terreno
movediço das insinuações.
Isso gera um clima de suspeitas,
fundadas ou não. Lideranças ligadas ao governo – do comando de campanha chamado
Carabobo (nome de uma batalha famosa na luta pela independência do domínio
espanhol) e do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) – têm sustentado a
tese de que a candidatura de Capriles não seria para valer e o objetivo da
oposição seria, como sempre tem sido, a busca de caminhos obscuros para
desestabilizar o governo bolivariano.
Daí até se pensar em ameaça de golpe
de Estado é um pulo só, mesmo porque as lembranças da última tentativa estão
ainda bem frescas, pouco mais de 10 anos: o golpe de 11 de abril de 2002,
sufocado pelo contra-golpe dois dias depois (passou a ser ditado popular: “Cada
11 tem seu 13”).
Chávez denuncia “plano oculto da ultradireita”
Nessa linha, Chávez denunciou na
segunda-feira, dia 18, a existência de um “plano oculto da ultradireita” para
boicotar os resultados do pleito de 7 de outubro. “Se incursionam por esse
caminho, vão se arrepender. Responderíamos com muito vigor, aprofundando a revolução
socialista, como o fizemos em 11 de abril e depois da sabotagem petroleira. Essa
seria nossa resposta (...). Sairíamos desde a rua, os campos, estamos dispostos
a defender a democracia, a institucionalidade e a paz do país”, disse o presidente.
Ele falou por telefone durante uma
entrevista coletiva de dirigentes do PSUV (a estatal Venezuelana de Televisão – VTV estava transmitindo ao vivo). Na sua
fala, Chávez confirmou que se recusava a debater com o adversário, lembrando
que Capriles escondia o seu próprio programa de governo: “Um debate me daria muita
vergonha porque aí o que há é nada (...). Aí não há nada que debater, não há
ideias, não há nada”, atacou. (A recusa em debater por certo teve repercussão nos
monopólios da mídia, embora já tenha se tornado praxe que candidato com grande
margem de frente nas pesquisas não vai a debate).
Para concluir: certamente o que dá
sustentação a todo esse clima de desconfiança é a crença da maioria – onde está
incluída também gente da oposição – de que, mais uma vez, Chávez vai vencer a
disputa. O raciocínio que faz jus à história do antichavismo seria: se eu digo
que acatarei o resultado como justo, que discurso terei após a derrota?
Em pesquisa divulgada no último
domingo, dia 17, da empresa Hinterlaces, 60% dos entrevistados afirmaram
acreditar na vitória de Chávez; 25% disseram que Capriles vence; e 15% disseram
que não sabem.
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