Dênis de Moraes: é fundamental o apoio à mídia comunitária (Fotos: Manoel Porto) |
De Salvador
(Bahia) –
Os blogueiros chamados progressistas estão de olho nas eleições venezuelanas,
no próximo 7 de outubro. A provável reeleição do presidente Hugo Chávez –
atacado diariamente pela mídia a serviço do império dos Estados Unidos e
enfrentando um tratamento contra o câncer - representa muito para a consolidação
das mudanças na América Latina. Sim, porque o governo da Venezuela é “a
vanguarda do avanço” na luta pela soberania e pelos interesses populares na
região. Um dos maiores exemplos dessa posição é a firmeza com que combate os
monopólios da comunicação, com um programa arrojado de apoio à mídia
comunitária. (Este blog já produziu algumas matérias a respeito. Clique aqui
para ler ou reler uma delas).
Tais aspectos foram destacados pelo professor Dênis de Moraes, da
Universidade Federal Fluminense (UFF), autor do livro A Batalha da Mídia, durante
um dos mais concorridos painéis (“A mídia e as eleições na Venezuela”) do III
Encontro Nacional de Blogueiros, realizado em Salvador nos dias 25, 26 e
27/maio. Ele começou sua palestra lembrando a situação desoladora do Brasil no
particular, dando passos iniciais e vacilantes em defesa do marco regulatório
da mídia, um dos temais mais discutidos no encontro. Isto é, “talvez seja o
país mais atrasado da América do Sul”, diante da concentração da chamada grande
imprensa nas mãos de meia dúzia de famílias, ao contrário do estágio de luta de
países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, que já contam inclusive
com novas legislações.
Além do apoio à mídia comunitária, Dênis de Moraes citou outras ações
ofensivas do governo para democratizar as comunicações e se contrapor aos monopólios
privados, como a instalação de seis emissoras estatais (cada uma voltada para
determinado espectro); não renovação da concessão da RCTV (funciona hoje apenas
como TV por assinatura), emissora privada envolvida no golpe de Estado de 2002;
investimento em redes digitais; nova lei de incentivo à comunicação popular;
Renato Rovai, Maximilien Arvelaiz, Igor Felippe, Dênis de Moraes e Jaime Amorim |
“O Ministério das Comunicações do Brasil é um cartório do capital”
E nova lei de responsabilidade dos meios de comunicação, deixando
claro que as concessões não são propriedade de pessoas ou empresas particulares
e não são renováveis automaticamente, como acontece no Brasil, onde o
Ministério das Comunicações é simplesmente “um cartório do capital”, como
frisou o professor. Ou seja, quem detém concessão de rádio e TV é obrigado a
respeitar o interesse público e a diversidade informativa e cultural.
O embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz,
participou dos debates. Ele falou da descoberta da expressão PIG (Partido da
Imprensa Golpista, referente à direita que predomina na grande maioria dos
veículos da velha mídia, expressão popularizada pelo blog Conversa Afiada, de
Paulo Henrique Amorim). Comentou que seu alcance é internacional: a ação do PIG
lhe chega logo pela manhã com os jornais do dia: é só notícia sobre a escassez
de alimentos e a insegurança no seu país. “Parece que eles falam de um outro
país”, disse. Não há nenhuma referência ao fim do analfabetismo, ao fim da
miséria extrema, o presidente é chamado de ditador e não é lembrado que ele
venceu 16 eleições democráticas nesses 13 anos que está no poder (contando com
consultas, plebiscitos, etc).
Sobre o candidato presidencial da direita, de oposição ao governo,
Henrique Capriles (as pesquisas de opinião lhe dão quase 30% das intenções de
voto contra 50% a 60% de Chávez), os jornais passaram a divulgar que ele é de
centro-esquerda e que tem como modelo o ex-presidente Lula. Não dizem aos seus
leitores – contesta Arvelaiz – que Capriles foi um ativo golpista em 2002,
episódio durante o qual participou da invasão à Embaixada de Cuba. Pediu então
a vigilância dos blogueiros brasileiros para a eleição em seu país, alertando
que o sonho da direita e do império é desestabilizar o governo bolivariano.
Baluarte da luta contra-hegemônica
Já Jaime Amorim, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), outro dos palestrantes, fez o apelo: “O povo venezuelano está na
obrigação de ganhar as eleições (reeleger Chávez) e nós temos a obrigação de
ajudar”. Para ele, a Venezuela é um baluarte da luta contra-hegemônica nas
comunicações e é fundamental para as forças da esquerda e dos movimentos
populares a vitória do presidente.
Jaime Amorim: "A vitória contra a Alca só foi possível depois de Chávez" |
- A vitória contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) só
foi possível depois que Hugo Chávez chegou à presidência, lembrou Amorim,
discorrendo que, a partir daí, com a eleição também de outros presidentes da
região, como Lula no Brasil, houve uma real mudança na correlação de forças. “Antes
a integração da América Latina era com os Estados Unidos, hoje podemos dizer
que somos a Pátria latino-americana”, festejou.
Outro que participou da mesa foi Renato Rovai, do Blog do Rovai,
editor da revista Fórum e dirigente da AlterCOM (Associação Brasileira de Empresas e
Empreendedores da Comunicação). Baseado nas várias visitas feitas à Venezuela
nos últimos 10 anos, ele alertou para as manipulações da mídia contra os
avanços democráticos e populares do povo venezuelano. Os debates foram
coordenados por Igor Felippe, editor da Página do MST.
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