Do blog Sem Juízo, por Marcelo Semer, postagem de 23/05/2012 (Destaques na abertura do blog: A justiça vista por dentro. O direito além da lei. "Ser de esquerda hoje é preferir a desordem à injustiça", de Bernard Henry-Lévi, filósofo francês)
Sugestão do companheiro Geraldo Guedes, de Brumado-Bahia
De que adianta o Estado tutelar a dignidade humana se ela é violada todo dia às seis da tarde em rede nacional?
Corre pelas redes sociais o vídeo de uma entrevista abusiva e constrangedora do programa Brasil Urgente, da Band Bahia, que indigna quem quer que tenha estômago para assisti-la.
Se usar a situação indefesa de um preso algemado e desassistido para constrangê-lo a assumir a prática de um crime em rede nacional já não fosse suficientemente abusiva, a jornalista ainda gasta mais da metade da “entrevista” para humilhá-lo em razão de sua ignorância.
O jovem confunde exame de corpo de delito, que implora seja feito na vítima para provar sua inocência, com o exame de próstata. E a jornalista o faz repetir o erro várias vezes, apenas para usufruir, com fartos risos, da falta de cultura alheia. Como se o desprezo pelo ser humano à sua frente fosse algum demonstrativo maior de cultura ou de educação.
Mas a verdade é que, tirando as proporções humilhantes do episódio, o constrangimento e o desprezo pela dignidade humana são corriqueiros em programas sensacionalistas de fim de tarde como esse.
Nem o direito à informação pode justificar tamanho abuso.
O estímulo à punição desenfreada, o linchamento midiático, o apelo repressor, enfim, são a tônica dos programas que, desde o sucesso de “O Povo na TV”, nos anos oitenta, se reproduzem em quase todas as emissoras.
Pouco importa se traduzem ou escondem realidades, se provocam consequências nocivas aos envolvidos, se expõem situações vexatórias à vista de todos.
Como programas supostamente jornalísticos, nem sequer sofrem limitações de horário, estando liberados para exibição de suas violações a crianças adolescentes. Mas isso será mesmo jornalismo?
É preciso repensar o tratamento de situações que claramente afrontam limites éticos, regras constitucionais para as empresas concessionárias e as condições impostas à polícia para a custódia legal de presos.
Sugestão do companheiro Geraldo Guedes, de Brumado-Bahia
De que adianta o Estado tutelar a dignidade humana se ela é violada todo dia às seis da tarde em rede nacional?
Corre pelas redes sociais o vídeo de uma entrevista abusiva e constrangedora do programa Brasil Urgente, da Band Bahia, que indigna quem quer que tenha estômago para assisti-la.
“Paulo Sérgio estuprador”,
grita a repórter Mirella Cunha, brandindo o microfone em direção a um
jovem negro, preso em flagrante, e exposto às câmeras.
De
pouco adiantou o fato de o rapaz tentar se defender da “acusação” da
jornalista. A emissora já tinha desde logo o seu veredito. A alegação do
preso, cuja face não escondia marcas recentes de agressão, vinha
tabulada como “chororô” pelo letreiro do programa.
Se usar a situação indefesa de um preso algemado e desassistido para constrangê-lo a assumir a prática de um crime em rede nacional já não fosse suficientemente abusiva, a jornalista ainda gasta mais da metade da “entrevista” para humilhá-lo em razão de sua ignorância.
O jovem confunde exame de corpo de delito, que implora seja feito na vítima para provar sua inocência, com o exame de próstata. E a jornalista o faz repetir o erro várias vezes, apenas para usufruir, com fartos risos, da falta de cultura alheia. Como se o desprezo pelo ser humano à sua frente fosse algum demonstrativo maior de cultura ou de educação.
A repórter foi severamente criticada nas redes sociais e recebeu até o repúdio por escrito de jornalistas baianos.
Mas a verdade é que, tirando as proporções humilhantes do episódio, o constrangimento e o desprezo pela dignidade humana são corriqueiros em programas sensacionalistas de fim de tarde como esse.
Nem o direito à informação pode justificar tamanho abuso.
Trata-se,
na verdade, de usar o ser humano, em um momento de absoluta fraqueza,
como forma de entretenimento, coisa que os imperadores romanos já sabiam
muito bem como fazer.
A promiscuidade da imprensa com a
polícia deturpa o trabalho de ambos –no programa em questão, por
exemplo, um jornalista menos preocupado com a humilhação talvez buscasse
indagar sobre as marcas de agressão estampadas no rosto do preso.
O estímulo à punição desenfreada, o linchamento midiático, o apelo repressor, enfim, são a tônica dos programas que, desde o sucesso de “O Povo na TV”, nos anos oitenta, se reproduzem em quase todas as emissoras.
Seus apresentadores viram celebridades, quando
não políticos, e seus índices de audiência recompensam os
estratosféricos salários.
Pouco importa se traduzem ou escondem realidades, se provocam consequências nocivas aos envolvidos, se expõem situações vexatórias à vista de todos.
Nada
disso interessa mais do que atiçar a curiosidade mórbida do espectador,
resgatar no ser humano o que ele tem de mais perverso, e, enfim, jogar a
culpa nele mesmo por sucumbir a este apelo.
Como programas supostamente jornalísticos, nem sequer sofrem limitações de horário, estando liberados para exibição de suas violações a crianças adolescentes. Mas isso será mesmo jornalismo?
É preciso repensar o tratamento de situações que claramente afrontam limites éticos, regras constitucionais para as empresas concessionárias e as condições impostas à polícia para a custódia legal de presos.
Afinal,
de que adianta que o Estado tenha, entre seus principais objetivos, a
promoção da dignidade humana, se ela pode ser violada todos os dias às
seis da tarde?
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