Frei Justo Venture (Acervo Iraci - reprodução: Smitson Oliveira) |
Gravação do vídeo em frente ao Santuário do Bom Jesus (Fotos: Smitson Oliveira) |
(Para
ler depois de assistir ao vídeo “Um abraço de Seabra”, postado logo abaixo)
De
Salvador (Bahia) - Era uma vez um frei capuchinho que cativou
a população de Seabra, município do interior da Bahia, na Chapada Diamantina. Era
italiano (na verdade, é, pois está hoje, aos 86 anos, curtindo sua
aposentadoria lá na sua terra). Mas os seabrenses pensam nele assim no passado,
porque um dia ele se foi e não voltou nunca. Ficaram uma tremenda saudade e as
lembranças, fortes lembranças.
Frei Justo Venture era o seu nome. Veio para o Brasil em
1963, com 37 anos. Trabalhou em Itabuna, no sul da Bahia, região que era famosa
pela produção de cacau. Chegou a Seabra em 1967 e ficou até janeiro de 1987.
Depois esteve ainda em Xique-Xique, em seguida no bairro de Valéria, em
Salvador, e, finalmente, uma nova temporada em Itabuna. Daí, retornou para
Itália.
Mas o que importa para nossa história são os quase 20
anos de Seabra, onde revelou-se um incansável construtor de prédios, de
igrejas, de catedral, de hospital (vamos lhe dar o título de “construtor de
catedrais”) “...e dezenas de capelas”, como menciona no vídeo a professora
Marilane Queiroz, mestra de gerações. E como falou Alda, filha de Iraci e João
Athayde, parece que nasceu para ser engenheiro e não padre. (Veja abaixo a
relação das principais construções).
E construtor de almas. No fundo, no fundo, talvez isso
tenha sido o seu mais formidável legado, não tão visível como, por exemplo, a
bela igreja de Bom Jesus, a “igreja de pedras”, como diz o povo. Sua atenção
especial dedicada à juventude, sua descontração, sua convivência cativante. Que
o digam Maria Rúbia (da família Oliveira dos Fabrício) e os(as) de sua turma,
então bem jovens, que não se cansam de recordar seus ensinamentos e, sobretudo,
suas travessuras:
Professora Marilane Queiroz dando seu depoimento |
Rúbia (a quinta, rindo) com grupo, a maioria da família Oliveira dos Fabrício |
Conta Rúbia: vínhamos nós em companhia do Frei Justo por
uma das ruas largas de Seabra e cruzamos com um pequeno grupo de senhoras. O
frei não perdeu a oportunidade: “Que anda fazendo e falando esse bando de
velhas fofoqueiras pelas ruas da cidade?” Dona Morena Mendes, que é conhecida
por não levar desaforo pra casa, respondeu na bucha: “Bando de velhas
fofoqueiras porque você não acha uma delas pra dormir com você”. E todo mundo
caía na gargalhada.
Um
dia o frei se foi e ficou um mistério
Assim e assado se passaram quase 20 anos e um dia o frei
foi embora. E deixou um buraco no coração de muita gente. Se foi esbravejando:
saio daqui e jogo fora minhas sandálias para que o pó de Seabra não me
acompanhe, nunca mais volto aqui. Uma vez – contam – ele transitou pela BR-242
(Bahia-Brasília) e o ônibus parou “lá encima na BR”, no posto de gasolina.
Dizem que nosso frei não quis nem descer um pouco do ônibus. Alguns souberam da
novidade e foram até a BR para vê-lo.
Que houve para que Frei Justo rompesse
assim com Seabra? Mistério.
Quando perguntam, ele desconversa. Ivo Matos, ex-gerente
do antigo Baneb (Banco do Estado da Bahia), seu amigão de vôlei, de pescaria e
de brincadeiras, comenta o caso e deixa no ar algumas pistas, embora não se
aventure a conclusões. Quando soube da transferência do frei foi tirar
satisfação do superior da Ordem dos Capuchinhos em Seabra. O cara não
esclareceu nada, disse que a cidade ia estar muito bem, pois ganhou um frei que
era também médico, o qual prestaria ótimos serviços à comunidade.
Ivo Matos (gravando dentro da "igreja de pedras"): "Uma injustiça!" |
Ivo não se conformou, ameaçou levantar a cidade contra a
saída do frei benfeitor. Tudo em vão. Ele diz que falou com um, falou com
outro, mas confessa que as lideranças de Seabra não demonstraram sensibilidade
para a causa. Com seu jeitão franco e desassombrado, fica indignado: “Uma
injustiça! Nossa terra (é assim que ele se refere a Seabra, terra que adotou e
onde fez questão de morar após aposentado) nunca agradeceu ao Frei Justo”.
Há alguns consolos: por iniciativa do então vereador
Smitson Oliveira, a Câmara dos Vereadores lhe concedeu o título de Cidadão
Seabrense, o que não serviu de motivo para que ele fosse à cidade recebê-lo
pessoalmente. Também a Câmara aprovou a feitura de uma estátua, mas a
prefeitura não se dignou a executar a decisão dos “nobres” representantes dos
munícipes.
Bem, resta o consolo maior: o amor de boa parte dos
seabrenses que conviveu com o frei e sabe reconhecer seus méritos. Uma singela
expressão desse amor é o vídeo parido por alguns amadores, sob a inspiração e
os esforços de Maria Rúbia (amadores socorridos pela generosidade de amigos
profissionais da Portfolium – Laboratório de Imagens).
As
construções mais notáveis:
- Belíssima catedral de pedras “Santuário do Bom Jesus”,
na Praça da Bandeira (conhecida como Praça do Tomate);
- Instalações do Hospital Frei Justo Venture, na mesma
praça;
- Casa das Madres, onde ficam as freiras e onde funciona
o Projeto Vida e Esperança, que cuida de crianças pobres de bairros populares;
- Casa Paroquial;
- Centro Catequético;
Igreja de N.S.Aparecida, no Alto da Boa Vista |
Rosalvinho lembrou a ação do frei na expansão da cidade |
- Centro de Treinamento de Líderes (CTL), no bairro Alto
da Boa Vista, onde funciona atualmente o campus da UNEB (Universidade do Estado
da Bahia);
- Igreja de Nossa Senhora Aparecida, também no Alto da
Boa Vista;
- Capelas de São José, de Nossa Senhora das Graças e de
Santa Luzia, todas na sede do município (além de outras espalhadas por
distritos e povoados);
- Igreja de São Francisco, no povoado de Saquinho;
- Igreja de São João Batista, no povoado de Vão das
Palmeiras;
- Reforma da igreja de Nossa Senhora da Soledade, no
distrito de Baraúnas (Jatobá);
- Início da abertura da Rua Claudionor Queiroz
(continuidade da Rua Horácio de Matos), no distante bairro de Nossa Senhora das
Graças, quando da expansão da cidade de Seabra, conforme foi destacado por
Rosalvo Alves (conhecido por Rosalvinho) em depoimento que, por questões
técnicas, deixou de ser incluído no vídeo.
Veja resposta do Frei Justo
Veja resposta do Frei Justo
Comentários
Obrigado pela oportunidade!
Com Carinho ,
Perina Maria Lobo
Conversei com ele dia 24, quando viu o video, e prometeu uma resposta.Rubia
Conversei com ele dia 24, quando viu o video, e prometeu uma resposta.Rubia
Não tive a oportunidade de conhecer Frei Justo, mas tive a felicidade de morar em Seabra e testemunhar a grandiosidade da obra realizada. O Frei foi um líder e "gente que faz". Estamos carentes disso...
Abs.,
Dilton Aécio
mariafmf disse...
Como se dizem por aí uma Banda de Seabra, nosso saudoso e grande Frei Just, não conheci,mas, conheço sua história de vida dedicada a Seabra e realmente é uma BANDA DE SEABRA, banda que perdemos em questão de distância porque tenho certeza que está sempre no coração até de quem não o conheceu pessoalmente ......Confesso que tenho vontade de conhecer lo.....Que Deus continue passando uma vida de muita saúde ao PADRE FREI JUST e que ele nós abençoe junto com o PAI.
29 de maio de 2012 12:34
Anônimo disse...
O PADRE FREI JUSTO CONSTRUIU O HOSPITAL DE SEABRA BA, POR SINAL TEM SEU NOME "HOSPITAL FREI JUSTO VENTURE"
E A LINDA E EXCLUSIVA IGREJA DA REGIÃO TAMBÉM NA CIDADE DE SEABRA BA DO BOM JESUS.
FELIZ SEABRA COM ESSES PATRIMÔNIOS, E INFELIZ NÓS PADRE QUE NÃO PODEMOS USUFRUIR DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DO HOSPITAL NORMALMENTE, POIS VIVE EM SEM ABANDONO.....MEU FILHO MESMO CAMINHOU 3 DIAS PARA O HOSPITAL SOFRENDO DE DOR E NÃO ATENDERAM, QUANDO O DEDO JÁ ESTAVA PRETO E INCHADO, INFORMARAM QUE O MEDICO ATENDIA,MAS, A CONSULTA SERIA PARTICULAR E AO VOLTAR COM O PAGAMENTO O MESMO MÉDICO DE PLANTÃO INFORMOU QUE NÃO IA ATENDER MAIS, FOI ESSA A RESPOSTA QUE RECEBEMOS.....AÍ EM UMA CLINICA OUTRO FILHO DE DEUS O ATENDEU E QUASE ELE PERDIA O DEDO, FOI PRECISO FAZER UMA CIRURGIA......
29 de maio de 2012 13:02
"Complimenti per il bellissimo regalo fatto a Padre Giusto, ha emozionato anche tutti noi per cui immagina quello che lui ha provato dentro il cuore.Saluti da Pierpaolo"
Muito emoncionada em saber, ainda que de forma resumida, quem foi esse homem, cujo nome carrego com muito orgulho. Isso mesmo, por ter sido a primeira criança a nascer no hospital Frei Justo Venturi, "herdei" o Justo, que ficou ELMA JUSTINE XAVIER
Como eu gostaria de ter participado desse vídeo!!! Frei Justo faz parte da minha vida, da minha história. Depois de meus pais, foi ele o responsável pela minha educação religiosa...hoje, se eu canto as maravilhas de Deus agradeço a eles que me ensinaram o caminho da verdade...Falar de Frei Justo não é difícil, porque ele é um seguidor fiel de Nosso Senhor Jesus Cristo e isto já diz tudo. Quando ele esteve em Valéria, ainda fretamos um ônibus e com todos os componentes do Coral Amor Divino fomos passar um final de semana ao lado do Frei Justo e o pedido de cada um era o mesmo: "Volta pra Seabra Frei" e ele nos respondia: "A ponte de Seabra está quebrada pra mim" e eu insistia ..."não tem problema, eu jogo uma corda e o senhor se apoia nela" e ele deu risada e mudou de assunto.
Só quem não tem coração não sente falta de Frei Justo.
Zaldair Paiva