Álvaro: "Não sou acomodado, nem sempre as posições radicais são as melhores para o movimento sindical e popular" (Fotos: Jadson Oliveira) |
Abre a imagem: centenas de professores, eufóricos, invadem o prédio central da Assembleia Legislativa, no Centro Administrativo (CAB). Tinham iniciado a greve que na próxima sexta-feira, dia 11, completa um mês. A ocupação foi no dia 18/abril e o acampamento, no salão que fica pegado ao plenário, continua até hoje. O deputado, talvez fiel à sua longa ficha de contumaz grevista e manifestante de rua, apareceu numa das sacadas do Legislativo, justamente no momento da euforia da invasão: e foi recebido com uma arrasadora vaia, com gritos de “traidor... traidor... traidor...” Pouco antes, durante a passeata dos grevistas, vinda da Governadoria, ele já tinha sido agraciado com este epíteto, relacionado junto a quatro dezenas de colegas deputados - petistas e base aliada do governo, incluídos aí os pecedobistas (ao todo são 63 parlamentares no Legislativo baiano).
- Sou sindicalista, estou deputado, mas, antes de tudo, sou sindicalista, estou agora cumprindo uma tarefa parlamentar, diz Álvaro Gomes do alto dos seus 53 anos, a maioria deles vividos realmente como sindicalista: eleito cinco vezes presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, mais algumas vezes dirigente da federação da categoria, preso duas vezes durante protestos de rua, condenado a seis meses de prisão (sentença derrubada em seguida), alvo preferencial de inquéritos e processos na época. (Tinha se incorporado ao grupo de militantes de esquerda que enfrentou a ditadura na década de 70 e coroou sua luta com a derrubada da pelegada em 1981).
Quem não se lembra, entre os militantes de movimentos sociais do final da década de 70 para cá, da imagem de Álvaro (Alvinho para os íntimos) sendo fisgado por policiais em manifestações dos bancários?
Álvaro: "É preciso não só enxergar a árvore, mas também a floresta" |
- Não sou acomodado, não me sinto em posição desconfortável, nem sempre as posições radicais são as melhores para o movimento sindical e popular, desabafa. Explica que a abstenção foi uma posição decidida pela bancada do PC do B (ele e mais Fabrício Falcão e Kelly Magalhães) e a direção do partido. (Detalhe: o presidente da APLB-Sindicato, entidade do professorado, Rui Oliveira, e o presidente na Bahia da Central dos Trabalhadores do Brasil, CTB, Adilson Araújo, que apoia a greve, são também do PC do B). Crê que desde o início das discussões havia propostas e espaço para uma negociação satisfatória e que a greve e o acirramento do conflito não foram o melhor caminho. Relembra a velha lição do marxismo de que cada situação tem que ser vista e analisada de acordo com a realidade concreta e defende com ênfase a autonomia do movimento sindical – “não atrelamento a governos, a partidos, a religiões, etc”.
E detalha incansavelmente a sua participação, antes e agora, sempre na busca de uma saída negociada que beneficie os professores, sem prejudicar o estado. Mesmo reconhecendo que, agora, tal saída está difícil. (Seria um exemplo das “contradições no seio do povo”, no dizer de Lênin, o líder da revolução russa de 1917?).
- Álvaro, a posição de se abster se coaduma com sua história e com os princípios do PC do B, um partido que, pelo menos formalmente, defende o avanço do movimento popular, rumo a uma democracia mais participativa e ao socialismo? Ou o deputado está mais ocupado e preocupado com sua reeleição?
O curtido sindicalista não pareceu constrangido com a pergunta, um tanto quanto agressiva:
- Seria hipocrisia minha dizer que não tenho preocupações com a reeleição. Tenho convicções políticas e ideológicas, tenho propostas e tenho um papel a cumprir como parlamentar do meu partido. Mas, jamais abrirei mão de meus princípios por causa da reeleição. Se me cobrarem esse preço, pagarei serenamente com a minha não reeleição, discursa, lembrando que na sua primeira reeleição passou na rabeira, foi o último da coligação (talvez por seus méritos e não pelos defeitos, digo eu).
- É preciso não só enxergar a árvore, mas também a floresta, acrescenta Álvaro e procura se explicar andando pelo fio da navalha: apesar de reconhecer que os professores merecem uma atenção especial quanto a salários e condições de trabalho, argumenta que o estado tem um conjunto de segmentos e situações que contam na hora das decisões, “é necessário equilibrar as necessidades”. E repete como um refrão: “Nesta situação concreta, temos que ter uma posição equilibrada, temos que nos empenhar na busca de uma saída negociada”.
(No vídeo postado logo abaixo, Álvaro responde a esta última pergunta da entrevista).
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