(Reprodução de Carta Maior) |
Manifestação começou no Cemitério da Consolação, na região central de São Paulo (Foto: Mgambrosio/vc repórter/portal Terra) |
São Paulo - Era o dia 1º de abril. O Dia da Mentira foi comemorado nas ruas do centro de São Paulo, lembrando a mentira do 1º de abril de 1964, o golpe militar que foi comemorado por 21 anos no dia 31 de março para disfarçar que não era mentira. O Cordão da Mentira, manifestação política e cultural, buscou mostrar, por meio de sambas, marchinhas, poemas, protestos, manifestos e intervenções teatrais, que a ditadura ainda não acabou no Brasil. “Nos contaram uma mentira há 27 anos. A ditadura não acabou!”, afirma o manifesto do movimento.
Cerca de 500 manifestantes, de sobreviventes do Araguaia a crianças de colo, levantaram cartazes reivindicando o resgate da memória e justiça do país. “Nós temos um abismo de idade imenso”, diz José Luiz Del Roio, do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça. “Mas é justamente esse abismo que me faz estar extremamente satisfeito, feliz, agradecido. São jovens que estão preocupados com a nação, com a história dessa nação. A história não tem uma ruptura, é uma continuação, eu espero que os jovens estejam contentes em ver a nossa presença, assim como nós estamos agradecidos a eles. Eu incluo essa manifestação molecular, pequena, na construção de uma pátria livre, verdadeira e igualitária”.
(Foto: Fora do Eixo/Flickt/site da Carta Capital) |
(Foto: Cris Faga/AE/Band.com.br) |
Débora Maria da Silva, líder do Movimento Mães de Maio (que reivindicam o julgamento e a reparação do massacre de 493 filhos, pais, amigos e parentes em maio de 2006 por agentes estatais), que participou assiduamente da formação do Cordão, afirma que hoje vivemos uma ditadura continuada, mas não se sabe quem é o inimigo. “A ditadura não acabou na periferia. Matam nossos filhos. Só vai haver democracia quando houver justiça.” Diz ainda que a alegação “resistência seguida de morte” é uma mentira contada pelos policiais para livrá-los dos crimes cometidos nas periferias de São Paulo.
O trajeto da manifestação rubro-negra passou por pontos emblemáticos do período da ditadura e por regiões que representam a continuidade das práticas cometidas nos “anos de chumbo”: a sede da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), a Rua Fortunato (onde foi feita uma homenagem ao militante da ANL, Marcos Antônio Braz de Carvalho, fuzilado no local por agentes do DOPS), o prédio da Folha de S. Paulo (o veículo de imprensa é conhecido por ceder seus carros para repressão aos opositores do regime militar) e terminou na antiga sede do DOPS, na estação Pinacoteca.
Para os presentes, a implantação da Comissão da Verdade representa uma iniciativa de suma importância para o resgate da memória histórica e a consequente punição dos crimes cometidos no período ditatorial. É por meio da implantação dela que haverá uma política de transição e a consolidação de uma democracia, como conta Adriano Diogo, deputado estadual pelo PT-SP. Mas deixa um alerta à população: “A Comissão da Verdade não pode ser entendida como uma coisa acadêmica, ela é uma peça de mobilização popular. Se essa história da necessidade da recuperação da memória histórica do Brasil não se multiplicar, a Comissão não será efetiva”.
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