Testemunhas dizem que polícia prendeu inocentes
Câmeras de segurança e depoimentos de vizinhos indicam que suspeitos estavam longe do local do crime
Thaís Nunes, no Diário de São Paulo, sugerido pelas Mães de Maio (Mães de Maio é uma entidade criada pelas mães de bairros populares de São Paulo em maio de 2006, quando da matança de centenas de jovens nas periferias da capital paulista, como resposta da polícia aos ataques do PCC - Primeiro Comando da Capital). Matéria reproduzida do blog Vi o Mundo, postagem de hoje, 19/abril.
A cela 34 do Centro de Detenção Provisória de Guarulhos, na Grande São Paulo, é a nova casa de Márcio Almeida dos Santos, 24 anos, e Diego Cardoso de Souza, de 19, há 43 dias. A dupla foi presa pelo roubo de um BMW em São Bernardo do Campo, no ABC. Inconformadas, as mães dos jovens obtiveram imagens de câmeras de segurança e depoimentos de 20 pessoas que fragilizam a história contada pela polícia e acatada pela Justiça.
De acordo com o boletim de ocorrência, a PM foi avisada sobre o roubo às 15h08 e imediatamente passou a perseguir os assaltantes na Rodovia Anchieta. Os PMs afirmam que os dois presos estavam no BMW.
Mas as imagens de câmeras de um supermercado mostram que Márcio estava na Estrada das Lágrimas, em Heliópolis, Zona Sul, às 15h20. Ele passeava com um amigo numa motocicleta Hornet.
Isso significa que se Márcio participou do roubo, ele teve apenas 12 minutos para fugir do ABC até Heliópolis, abandonar o BMW em uma viela, livrar-se da arma, guardar o dinheiro e cartões da vítima, deixar Diego, trocar de roupa e encontrar o amigo dono da Hornet.
“É absurdo. Nossos filhos trabalham desde criança, nunca encostaram em armas. Ao contrário do que todos pensam, ser morador da favela não é sinônimo de ser bandido”, diz Ivanice de Souza, mãe de Diego.
O dono da Hornet, que pediu para ter o nome preservado, comemorava o aniversário naquela tarde em um churrasco na casa de Diego. A festa começou às 13h e as testemunhas que deram depoimento estavam no local com os suspeitos. “Como é possível que eles estivessem em dois lugares?”, questiona o aniversariante.
No momento da prisão, às 15h40, Diego e Márcio tinham saído para dar uma volta na Hornet. É costume do dono da motocicleta emprestá-la para os amigos darem breves passeios. Naquela tarde, eles bateram em um ônibus. E foi após o acidente que foram presos. Segundo a PM, a batida aconteceu durante a perseguição. Mas o motorista do ônibus conta que a viatura chegou bem depois. “E a moto não estava em alta velocidade”, garante.
Rodrigo Castello, advogado dos suspeitos, enviou as imagens e os depoimentos para o juiz, apelando para que eles respondam ao processo em liberdade. Mesmo com os indícios de que pode ter havido confusão no flagrante, o juíz Davi Capella informou que não revogaria a prisão porque “os averiguados não comprovaram ter ocupação lícita”. Márcio é funcionário da Controlar. Diego é auxiliar financeiro e universitário. A ficha criminal de ambos é limpa. O juíz Capella informou que não se manifestaria sobre sua decisão. O caso tramita pela 21ª Vara Criminal.
As vítimas reconheceram os suspeitos, mas informaram que os ladrões usavam bonés e roupas diferentes das de Márcio e Diego. O delegado titular do 83ºDP (Parque Bristol), Enjolras Araújo, não soube explicar como os donos da BMW reconheceram os presos em outro roubo, o de um Corolla do qual não foram vítimas. O crime foi em 26 de agosto. O ponto eletrônico comprova que Márcio e Diego estavam trabalhando.
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