De Salvador (Bahia) - No último sábado, dia 24/março, foi feriado na Argentina, Dia da Memória pela Verdade e a Justiça. A data assinala o 36º. aniversário do golpe militar que deu partida à sangrenta ditadura, a última ditadura, como dizem os argentinos – 1976-1983 -, que deixou a marca assombrosa de 30.000 desaparecidos/assassinados.
Do alto do inquestionável êxito da política de direitos humanos (especialmente se se compara com a situação do Brasil, às voltas com as dificuldades da tímida Comissão Nacional da Verdade), com o número de condenados já se aproximando de 300 e mais de 800 repressores arrolados atualmente em processos, a militância argentina mira na punição dos cúmplices civis do regime militar: grandes empresários, inclusive do ramo das comunicações, e integrantes do Poder Judiciário.
É um dos itens que compõem o receituário de entidades do movimento popular alinhadas com o peronismo-kirchnerismo (Néstor e Cristina Kirchner), que não se cansam de reclamar a necessidade de “aprofundar o modelo”, ou seja, avançar rumo a políticas cada vez mais comprometidas com os interesses populares e uma efetiva democracia participativa.
Uma das pistas da larguíssima Avenida 9 de Julho, no centro da capital portenha |
A Praça de Maio, coração político da Argentina, tomada por manifestantes |
O texto refere-se à “ditadura cívico-militar” e cita líderes empresariais, como “alguns dos responsáveis civis pelo terrorismo de Estado”. O primeiro da lista é Martínez de Hoz, o todo-poderoso ministro da Economia da ditadura, um tipo que lembra o poderoso Delfim Neto da ditadura brasileira. Segue citando a Sociedade Rural, onde estão entrincheirados os pesos pesados do agronegócio, e “também grupos econômico com nome e sobrenome foram cúmplices da repressão contra as organizações do nosso povo, do desmantelamento do Estado e do saque da nossa Pátria”.
E continua: “Foram os que colonizaram o Ministério da Economia e setores essenciais do gabinete ministerial nacional e de muitos governos provinciais (estaduais): Mercedez Benz, Grupo Ledesma, Ford, Loma Negra, Techint, Papel Prensa e Clarín (maior monopólio privado de comunicação, uma espécie de Organizações Globo) e Acindar são alguns dos casos emblemáticos de cumplicidade dos Grupos Econômicos na repressão e tortura dos militantes populares”.
E vem a conclamação de praxe no texto convocatório: “Porque temos Memória, porque queremos Verdade e Justiça, Nem Esquecimento Nem Perdão. Temos que seguir avançando no julgamento dos responsáveis materiais e intelectuais pelo terrorismo de Estado”.
(O portal Carta Maior publicou várias matérias sobre o 24/março deste ano. Faço aqui link para uma delas: “Ditadura, democracia e sociedade civil”).
(Eu estava em Buenos Aires no 24/março do ano passado e escrevi algumas matérias para este meu blog. Faço aqui link para uma delas: “Civis que foram cúmplices da ditadura estão na mira dos argentinos”).
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
(Notinha da capa do jornal argentino Página/12, edição de 23/03/2012)
“O ataque dos meios de comunicação aos governos que pensam primeiro no povo e não nos interesses dos poderosos de sempre não é casual, está articulado a nível internacional com os meios de comunicação monopólicos que representam o poder econômico. Temos que alertar a população que leia bem, mas não acredite em tudo que lê nos veículos de imprensa, que têm o costume de difamar e não dizer a verdade. Vejo que por trás sempre está o poder do dinheiro. O que lhes preocupa é isso: o bolso”.
(Da presidenta de Abuelas de Plaza de Mayo – Avós da Praça de Maio -, Estela de Carlotto (foto), à agência equatoriana de notícias Andes. “Abuelas” é a organização mais atuante hoje na Argentina em defesa dos direitos humanos, pela punição aos crimes da ditadura. Tem grande reconhecimento internacional, juntamente com Madres de Praza de Mayo – Mães da Praça de Maio).
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