De Salvador (Bahia) - Entrevista do professor Fernando Larrea, antropólogo equatoriano, mestre em Ciências Sociais, com experiência em temas relacionados aos movimentos indígenas e camponeses do Equador e da América Latina.
A conversa foi logo após seminário promovido pela Oposição Operária, articulação de militantes da esquerda que edita a revista Germinal, no sábado, dia 24, na Faculdade de Arquitetura da Ufba, em Salvador.
O artigo a que me refiro na primeira pergunta é uma entrevista do sociólogo belga François Houtart, publicada no jornal Brasil de Fato (parte reproduzida aqui no Evidentemente, em 14/02/2012, com o título “América Latina é o único continente do mundo onde temos tido alguns avanços” – quem quiser ler ou reler, clique aqui).
Houtart divide os países latino-americanos em três grupos: o Brasil está entre os de modelo que “não transforma profundamente a sociedade”, enquanto a Venezuela “é um país que avança para um novo modelo, onde as mudanças são mais aprofundadas”.
No vídeo, Larrea discute o assunto, falando sobre o neodesenvolvimentismo de governos considerados progressistas na América do Sul e também sobre a falta de mobilização do povo brasileiro.
“Há países em que as classes dominantes estão muito contentes”
Alguns trechos da entrevista: ele faz referência a “alguns elementos comuns” em governos latino-americanos e identifica aí o neodesenvolvimentismo, “que se expressa muito fortemente com os mega-empreendimentos (o Brasil faz parte disso), com a mineração, a dinâmica extrativista (...) Esse neodesenvolvimentismo tem, talvez, algumas diferenças, como no caso da Venezuela, do governo de Hugo Chávez (...)
“Eu desconfio um pouco quando se trata de estabelecer as diferenças de governos mais para a esquerda que estariam promovendo mudanças estruturais e outros adotando políticas mais assistencialistas ou emergenciais, como no caso do Brasil, como uma diferença substantiva”.
“Porque, na verdade, governos considerados mais à esquerda, muitas vezes usam uma retórica mais à esquerda, mas, na prática, estão desenvolvendo uma política muito favorável a algumas classes dominantes específicas nos diversos países e favorável à direita”.
“Se você olha, por exemplo, como estão os lucros dos bancos (...) em países como Equador, Bolívia, Brasil, Argentina, as classes dominantes estão muito contentes, porque esses governos estão favorecendo seus lucros e, ao mesmo tempo, evitando processos de mobilização e luta social, via políticas assistencialistas”.
Em seguida, ele comenta os casos específicos da Bolívia, do Equador e da Argentina, defendendo a necessidade de se verificar o processo concreto de cada país.
Na segunda questão, o estudioso equatoriano, que está no Brasil há três anos, confessa ter ficado surpreso com as dificuldades de mobilização popular no país, concluindo que “o protagonismo do PT na política brasileira, com o discurso progressista de esquerda, termina desmobilizando as lutas dos trabalhadores”.
(Este blog fará outras postagens a partir do seminário da Oposição Operária/revista Germinal)
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