OBEDECER, PRODUZIR E CONSUMIR: A ESSÊNCIA DA VIDA DO ESCRAVO MODERNO (blog também é cinema)

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=B7hSxm67izU

De Salvador (Bahia) – Assistiu ao filme? Pois então, estamos no reino do anarquismo, uma proposta política que teve seu apogeu no Brasil no sindicalismo do início do século 20. E ultimamente vem reaparecendo assim ou assado no rastro do movimento dos jovens “indignados”, cujos símbolos maiores são a chamada Primavera Árabe e os protestos na Porta do Sol, em Madri (Espanha), e do Occupy Wall Street, em Nova Iorque.


É isto aí. “Obedecer, produzir e consumir”, mesmo porque “desobedecer, aventurar, mudar é muito arriscado” e “é o medo que nos fez escravos e que nos mantém nesta condição”. E vai daí que nos ensinaram que a violência revolucionária, uma onda que já esteve em alta nos anos 60 e 70 do século passado, está errada. Violência não, é coisa de terrorista, quer dizer, quando usada pelos oprimidos, porque o sistema e os governos a usam a granel, mas, claro, neste caso é para defender o charmoso eufemismo do Estado Democrático de Direito (assim, tudo com a inicial maiúscula).


Quem viu as belas imagens e ouviu a bela trilha sonora do documentário acima sabe que estou pegando carona no filme. Vi no Vi o Mundo, o que você não vê na mídia, blog de Luiz Carlos Azenha. O pessoal lá chamou de “Manifesto dos Anarquistas” e utilizou o título “Quando as palavras nos condenam à impotência”. O título original é “Da servidão moderna” (52 minutos), de Jean-François Brient e Victor León Fuentes, tudo com cheiro da visão europeia.


As palavras – reforçadas pelas imagens e pelas músicas - são como chibatas no lombo de quem foi adestrado para apanhar resignadamente: “A servidão moderna é uma escravidão voluntária aceita por essa multidão de escravos que se arrastam pela face da terra”. “Eles mesmos compram as mercadorias que lhes escravizam cada vez mais”. “Eles mesmos correm atrás de um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado generosamente se estão suficientemente domados”. A rebelião, que seria “a única reação legítima dos explorados”, nem pensar.


“Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e pelos poderes”.


A insegurança é a tônica dominante da ordem. As cidades modernas são cenários de prisões, jaulas, estão em toda parte muros, grades, barreiras e fronteiras. Os servos pagam para morar em “cavernas”: “Cada parcela deste mundo é propriedade de um Estado ou de um particular”. “O mundo se torna cada dia mais sujo e barulhento, como uma usina”.


A cultura mercantil, a felicidade medida pelo acúmulo de mercadorias, o consumismo: “As coisas que se possuem acabam por possuir-nos”. E a alimentação? “O escravo moderno é obrigado a engolir rápido o que a indústria agroquímica produz”. E enquanto o crescimento econômico não pode parar (“é preciso produzir, produzir e reproduzir mais ainda”), a miséria e a fome campeiam por todos os lados.


As grandes corporações multinacionais que mais poluem se apresentam na mídia como campeãs da defesa do meio ambiente e continuam a poluir inclusive nossos espíritos.


O trabalho é como uma tortura e o lazer, com as férias programadas, uma outra: escravo em tempo integral. Para as doenças, o estresse, está aí a medicina mercantil: trata os efeitos e não as causas, tudo é mercadoria, incluindo nosso corpo. O misticismo em favor da propriedade privada, o deus dinheiro, um pedaço de papel: “É em nome desse novo deus que ele estuda, que ele trabalha, que ele luta e se vende”. “Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e pelos poderes”. O certo é sonhar com a fortuna semanal das loterias.


“O poder não é para ser conquistado, ele tem que ser destruído”.


E tome entretenimento, aqui, acolá e na TV, se divertir, não pensar: “Os escravos modernos confundem essas imagens com cultura e, às vezes, com arte”. Em seguida, a suprema ilusão dos que imaginam que decidem votando em eleições na viciada e decadente democracia representativa, democracia parlamentar. E o uso das palavras como meio de dominação através da chamada grande imprensa.


Ao cabo, o fecho triunfal dos anarquistas: “O poder não é para ser conquistado, ele tem que ser destruído”. Criticam então o sistema mercantil totalitário, experiências fracassadas do liberalismo (de olho nos modelos europeus, onde poderíamos lembrar as experiências “socialistas”) e o totalitarismo de matriz soviética, propondo: “Unir todas as forças revolucionárias”.


“Trata-se de inventar novas formas de organização e de luta”. E pregam: autogestão nas empresas; democracia direta (participativa) na escala comunal; e nova organização anti-hierárquica.


E o filme termina com bonitas imagens de destruição (uma bateria de telas de TV explodindo lindamente), protestos de rua e choques com policiais.


(Sugestão de debate: na minha modesta opinião, o anarquismo, muito atraente no terreno da denúncia, começa a claudicar quando entra no terreno da organização e da estratégia: Como fazer? Onde queremos chegar?)


Clique aqui, se quiser ler todo o texto do vídeo, ilustrado com fotos.



Filosofando


Não é o sistema democrático, estúpido! É o sistema capitalista.

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