MOVIMENTO DESOCUPA SALVADOR AMPLIA MOBILIZAÇÃO


Os manifestantes concentrados em frente da prefeitura, cujos acessos estavam
tomados por homens da PM e da Guarda Municipal (Fotos: Jadson Oliveira)
Momento de tensão: intervenção de policiais para impedir que a passeata
seguisse com carros de som a partir da Praça Castro Alves
De Salvador (Bahia) - O movimento Desocupa Salvador, que concentra seus ataques na administração do prefeito João Henrique (PP), amplia a mobilização. Na sua 3ª. manifestação nas ruas da capital baiana, na quarta-feira, dia 1º., reuniu cerca de 2.000 pessoas. (A primeira, em Ondina, bairro da orla marítima, aconteceu no dia 14/janeiro, juntando em torno de 500 manifestantes). Desta vez os protestos deram-se no circuito mais tradicional do centro da cidade: Campo Grande, Avenida Sete de Setembro, Praça Castro Alves, Rua Chile, desembocando na Praça Municipal, em frente ao Palácio Thomé de Souza, sede da prefeitura.

Houve um momento de tensão com policiais, chegando a haver gritos de “abaixo a repressão”. Parecia que a Polícia Militar tentava barrar a passeata na Praça Castro Alves, como era praxe na gestão do prefeito anterior, o tucano Antonio Imbassahy, atualmente deputado federal. Na verdade, a ameaça de enfrentamento originou-se na intervenção da PM para que os manifestantes não seguissem a partir dali com os carros de som. Há um decreto municipal determinando que as passeatas somente podem usar os carros de som até a Praça Castro Alves. Foi o que ocorreu: o pessoal seguiu sem o som até o palácio de despacho do prefeito.

Os rápidos discursos prosseguiram na Praça Municipal,
mas já sem a utilização dos carros de som
Famílias ameaçadas de despejo fazem apelo ao governador Jacques Wagner
 e à presidenta Dilma
No percurso e na concentração final em frente à prefeitura – o prédio estava com grades na entrada e os acessos impedidos por homens da PM e da Guarda Municipal –, o que se ouviu foram críticas duríssimas contra o prefeito (inclusive o “Fora João”), que ostenta um forte desgaste depois de sete anos de mandato (veja vídeo postado logo abaixo). As acusações mais repetidas estão ligadas ao predomínio dos interesses econômicos, com destaque para o ramo imobiliário, em detrimento do interesse público, orientação que teria ficado patente nas mudanças do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), através da aprovação da nova Lei de Ordenamento e Uso do Solo (LOUS).

O nome “desocupa” vem dessa constatação de que a cidade está ocupada por construções que desrespeitam o meio ambiente e os cidadãos; por edifícios cada vez mais altos projetando sombras pelas praias; por projetos imobiliários que invadem os restos de Mata Atlântica, a exemplo do Parque Ecológico Municipal do Vale Encantado, em Patamares, que inclui terreno considerado sagrado pelos praticantes do Candomblé, religião de origem africana com muitos adeptos na Bahia; e por camarotes para o Carnaval que ocupam áreas públicas, especialmente no bairro de Ondina (privatização dos espaços públicos).

“Ocupa” e “Desocupa”: semelhanças e diferenças


Este último item (camarotes) foi muito enfatizado pelos jovens que iniciaram o movimento Ocupa Salvador, em 15 de outubro, o chamado 15-O, quando houve manifestações, muitas delas seguidas de ocupações, em cerca de 800 cidades pelo mundo, na esteira da chamada Primavera Árabe e dos “indignados”, com destaque para a ocupação da praça Porta do Sol, em Madri (Espanha), e do Occupy Wall Street (Nova Iorque). Um grupo pequeno de jovens chegou a acampar em Ondina, justamente num trecho da orla (perto da chamada “praça das gordinhas”) hoje tomado por camarotes para o Carnaval, explorados por empresa privada.

O “Ocupa”, cujas atividades hoje parecem restritas às redes sociais da Internet, tinha na sua agenda temas locais, a exemplo dos camarotes, mas mantinha aquele corolário geral dos “indignados”: subserviência dos governos aos interesses do capital financeiro e falência da democracia representativa.

Everaldo Augusto, ex-vereador de Salvador pelo PC do B e dirigente
sindical dos bancários
Hilton Coelho (segundo da esq. para dir.), da direção do PSOL na Bahia
Já o “Desocupa” centra suas baterias contra a desgastada atuação do prefeito João Henrique. Outra diferença é que ele já nasceu bem maior e cresceu rapidamente. Nos protestos do dia 1º. contou com a participação, dentre outras organizações, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada ao PC do B, atualmente a central sindical de maior visibilidade na Bahia; do Sindae, sindicato dos trabalhadores do setor de água e abastecimento que tem muito prestígio na Bahia; e do PSOL, um partido de diminuta presença no estado. (Entre os manifestantes, estava o professor Ordep Serra, conhecido antropólogo baiano, distribuindo manifesto do Movimento Vozes de Salvador com pesadíssimas críticas ao prefeito, assinado por ele na condição de coordenador do MVS).

Os dois movimentos têm, portanto, alguns pontos em comum – como também surgirem sem patrocínio de organizações já institucionalizadas e utilizarem as redes sociais da Internet -, mas têm, como vimos, diferenças marcantes. E enquanto o Ocupa Salvador perdia visibilidade, o Desocupa Salvador apareceu e vem crescendo (não esquecer um detalhe significativo: o primeiro protesto do “Desocupa” foi em Ondina, junto aos camarotes do Carnaval, exatamente no local onde estava o pequeno acampamento dos jovens do “Ocupa”, dos “indignados”).

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