OCCUPY LONDON: A RESISTÊNCIA CONTINUA


Acampamento dos "indignados" no pátio da Catedral de Saint Paul, nas
proximidades da City londrina, o coração financeiro da capital inglesa
Por Sue Iamamoto – Especial para Caros Amigos (o texto é reproduzido do sítio da revista Caros Amigos e as fotos são exclusivas deste blog, de autoria da baiana Deta Maria, que está fazendo uma temporada europeia).


O plano inicial era ocupar a bolsa de valores, a London Stock Exchange, em solidariedade ao movimento de Occupy Wall Street e às acampadas espanholas. Contudo, no dia 15 de outubro, centenas de manifestantes se encontraram com uma barreira policial intransponível e acabaram acampando no pátio da catedral de Saint Paul, a poucos metros da bolsa.


De lá para cá, nesses quase cinquenta dias do Occupy Londres, as escadarias da igreja se tornaram sinônimo de debate político e o combate às corporações financeiras deixou de ser uma palavra de ordem abstrata para se tornar uma atividade cotidiana.


99%


O slogan global “nós somos 99%” foi se transformando em uma batalha objetiva, materializada em uma conjuntura local que combina a nata dos interesses financeiros internacionais com um brutal recorte de verbas sociais promovido pelo governo conservador de David Cameron.


A catedral se localiza em meio ao distrito financeiro, a City de Londres, cuja administração é bastante peculiar. Apesar de ser percebido como um governo local como qualquer outro, a City elege seus representantes em um sistema de tons medievais, que inclui o voto corporativo das empresas sediadas no local. Uma das principais funções da sua autoridade máxima, o Lord Mayor, é viajar pelo mundo para promover os “valores da liberalização”, defendendo os interesses da comunidade empresarial e promovendo a City como “uma liderança global em finanças internacionais e negócios”. A City de Londres é um dos exemplos mais extremos de apropriação literal de entidades públicas pelos interesses corporativos.


Reflita: "Grande riqueza sem grande trabalho é roubo de vidas"; "Comércio
sem ética é opressão"; "Políticas sem princípios adequados é o caminho
para a revolta". Pense... Ocupe
Segredos de alcova


Assim, quando a City de Londres começou a pressionar os manifestantes com ações legais de despejo, eles estabeleceram como condição inicial de diálogo maior transparência, demandando que a City: 1) publicasse minuciosamente suas movimentações financeiras; 2) se submetesse à Lei de Liberdade de Informação, que é aplicável a todas as entidades públicas britânicas com exceção da City; e 3) detalhasse “todos os serviços de advocacy empreendidos em nome das indústrias financeiras e banqueiras desde a crise financeira de 2008”. A City não respondeu a estas demandas e entrou com medidas legais contra a ocupação.


Recentemente, o movimento atacou um novo alvo: o banco suíço UBS. Um grande edifício pertencente ao banco e abandonado há anos foi ocupado na madrugada de 17 de novembro. A ação foi chamada de “repossessão”: “enquanto os bancos repossuem casas de família, as propriedades vazias dos bancos precisam ser repossuídas pelo público”, disse o apoiador do movimento Jack Holburn, em uma declaração logo após a ocupação. Nos últimos três meses, 9 mil famílias foram expulsas de suas casas por não conseguirem pagar hipotecas. O UBS, em particular, esteve envolvido em um esquema controvertido de venda de hipotecas a idosos pensionistas. Além disso, o banco foi um dos socorridos por dinheiro público (60 bilhões de dólares) durante a crise de 2008.


Fazer melhor


“Aprendemos que o governo falhou em criar benefícios públicos a partir da falência dos bancos. Nós podemos fazer melhor. Esperamos que esta seja a primeira de uma onda de ‘repossessões públicas’ de propriedades pertencentes às companhias que acabaram com a economia global”, continua Holburn.


Se criminosos não podem imprimir dinheiro, por que os bancos podem?
O edifício foi rebatizado de “Banco das Ideias”. Na sua primeira semana de funcionamento, o espaço foi sede de diversas atividades culturais e espaços de formação política. Segundo a ativista Sarah Layler, a ideia é “disponibilizar espaços para aqueles que perderam creches, centros comunitários e juvenis graças à selvageria dos cortes governamentais”.


No dia 30 de novembro está marcada uma grande greve do serviço público, em repúdio aos recortes sociais promovidos pelo governo de David Cameron. Sindicatos indicam a paralisação de 3 milhões de trabalhadores. Para promover as atividades de protesto, o movimento de ocupação percorreu Londres durante essa semana levando o seguinte cartaz: “Resgatem o povo, não os bancos! Vejo você em 30 de novembro”.

Mais algumas fotos (a última é de Manuela Soares):


Comentários

Anônimo disse…
http://www.eltiempo.com/mundo/latinoamerica/la-celac-no-sustituira-a-la-oea_10874406-4 y mientras tanto los dirijentes de nuestra amada AmericaLatina firman "tratados para apoyar la democracia", que solo sirven para llenar los bolsillos de la burocracia y luego decir que firmaron tratados importantes.. ArmandoViveros. Colombia
Companheiro, estive no Occupy de Londres com a fotografa Deta. Foi bom ver tudo isso de perto. Os indignados de Genebra continuam resistindo, tiveram somente que mudar mais uma vez por causa de uma maratona famosa. Mudaram somente para um pouco mais distante mas, sempre dentro do mesmo parque. Beijos, Lena de Paulo Afonso