LAMARCA E ZEQUINHA NA III CESTA CULTURAL DE SEABRA

Muitos seabrenses viram no telão, armado na Praça de Eventos, a verdadeira história da luta dos dois patriotas no semi-árido baiano (Todas as fotos são de Smitson Oliveira)             
Goiano (José Donizette), Olderico Barreto e Reizinho Pereira dos Santos
De Salvador (Bahia) – Foi uma Cesta Cultural extraordinária, no último dia 28, uma sexta-feira, quando a juventude seabrense, na Chapada Diamantina, a 460 quilômetros de Salvador, teve a oportunidade de ver o documentário “Do Buriti à Pintada – Lamarca e Zequinha na Bahia”, de Reizinho Pereira dos Santos. E começar a entender melhor umas histórias nebulosas contadas pelos mais velhos falando de uma “guerra” acontecida por aquelas bandas há 40 anos atrás, ali perto, em Brotas de Macaúbas, a 130 quilômetros de Seabra.

As tropas da ditadura militar passaram também por Seabra em agosto de 1971 e assassinaram o capital do Exército Carlos Lamarca e seu companheiro de militância política Zequinha (José Campos Barreto) em 17 de setembro de 1971. E só agora, graças à promoção cultural e política do Projeto Velame Vivo, os jovens começam a compreender que eram dois patriotas que lutavam pela democracia e pelo socialismo, contra as injustiças sociais, inimigos jurados da ditadura instaurada no Brasil em 1964. É o resgate da memória e da história que tanto tarda em nosso país.

Estava lá, junto com cerca de 400 pessoas sentadas diante do telão e espalhadas pela Praça de Eventos, um sobrevivente dessa “guerra”: Olderico Barreto, irmão de Zequinha, ferido, torturado e preso na época, quando tinha 23 anos. Deu seu testemunho logo após a exibição do filme. Ele está presente no documentário e é o principal personagem de uma das matérias deste blog – “Ele esteve frente a frente com o carrasco Fleury” -, matéria impressa num “jornal” chamado Evidentemente, distribuído durante o evento pelos ativistas do Velame Vivo.

Litercílio Júnior, prefeito de Brotas de Macaúbas
Sirlene Souza (Linda), do Projeto Velame Vivo e editora da revista Noite e Dia (ao fundo, o belo painel pintado por Pedro Lima)
Cerca de 400 pessoas sentadas e espalhadas pela praça assistiram o filme documentário, participando assim do processo de resgate da memória e da verdade sobre os crimes da ditadura militar
Estava lá também o Reizinho, diretor e roteirista do belo filme, poeta e professor de Ibotirama, cidade beiradeira do Rio São Francisco a 190 quilômetros de Seabra. Estava ainda o prefeito de Brotas, Litercílio Júnior, do PT, que desde que assumiu a prefeitura, em 2009, engrossou o trabalho de resgate da verdade histórica sobre os crimes da ditadura, trabalho que já vinha sendo realizado na região pela Igreja Católica, a partir da Diocese de Barra, e também pelo Instituto Zequinha Barreto.

E Goiano (batizado com o nome José Donizette de Sousa, o principal coordenador do Velame Vivo), ao homenagear figuras maiores como Lamarca, Zequinha e Olderico, aproveitou para lembrar nomes de seabrenses que contribuíram também na militância contra a ditadura, inclusive de forma “organizada”, ou seja, participando das fileiras de organizações clandestinas, alvo prioritário da repressão ditatorial.  

Todos eles militaram a partir da década de 1970 em Salvador no sindicalismo bancário. Goiano lembrou de Edelson Ferreira, que já foi candidato a presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia e a prefeito de Seabra; lembrou de Smitson Oliveira, ex-vereador de Seabra; lembrou de José Fernandes Neto, conhecido como Mita, infelizmente falecido ainda jovem; de Irênio Filho, originário de Iraporanga (Parnaíba), município vizinho de Iraquara; lembrou do seu próprio nome, militante de movimentos sociais e populares até hoje; e ainda o deste repórter/blogueiro, que busca cobrir a política com o olhar mais à esquerda.

O documentário foi o prato principal dessa III Cesta Cultural. Mas, como nas duas primeiras, houve mostras das diversas facetas da cultura local: artesanato, culinária, artes plásticas, teatro, dança, brincadeiras, apresentação de fanfarras e de muitos dos valores musicais da terra, a maioria jovens. O Projeto Velame Vivo vem atuando há anos em Seabra (a partir do distrito de Velame, daí o nome) e municípios vizinhos da Chapada. Mantém 14 bibliotecas funcionando na região e organiza eventos como o Festival de Violeiros e o encontro de seabrenses em Salvador. Ultimamente começou a promover as “cestas culturais”.

(Sobre temas relacionados com Lamarca/Zequinha e o filme do Reizinho, este blog já publicou: “Resgate da memória de Lamarca nos 40 anos de seu assassinato”, postada em 04/08/11; “Lamarca e Zequinha: de ‘terroristas’ a heróis do povo brasileiro”, de 21/09/11; e a matéria mencionada acima, postada em 29/09/11. Outras matérias estão no prelo, como se dizia antes da Internet).

Segue uma seleção de fotos da III Cesta Cultural:
Lidjone Ribeiro (primeira à esquerda), da coordenação do Velame Vivo
Esta foto não é de Smitson, ele está aí entre Goiano e Júnior
 

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