COPA/2014 E OLIMPÍADA/2016: ESTADO DE EXCEÇÃO À VISTA


Raimundo Nascimento: “A sociedade brasileira foi construída
 a partir da violência e do racismo cruel" (Foto: Jadson Oliveira)
De Salvador (Bahia) – A expressão “Estado de Exceção” (ou “Estado de Emergência”), própria para os sistemas políticos adotados em épocas de guerra ou de calamidades, é sempre mencionada quando se fala da legislação especial e da situação de fato durante os preparativos (e futura realização) da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, megaeventos esportivos que serão sediados no Brasil. Em especial quando se trata de defender a maioria do povo brasileiro, ou seja, os segmentos mais pobres, vitimados em duas áreas cruciais: a violência policial e a expulsão de suas moradias situadas em bairros centrais de grandes cidades.


Ela voltou a ser lembrada na quinta-feira, dia 24, na Faculdade de Administração da UFBa, em Salvador, durante o Seminário Sociedade Civil e Segurança Pública, quando movimentos sociais baianos e de outros estados discutiram sobre a polícia comunitária, com foco na implantação das Bases Comunitárias de Segurança, na Bahia, também referidas como Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), denominação mais popularizada porque usada no Rio de Janeiro.


A maioria dos participantes era ligada aos movimentos sociais de bairros
populares de Salvador (Foto: Jadson Oliveira)
A expressão foi mencionada por Raimundo Nascimento, representante do Comitê Popular da Copa 2014 – Salvador, ao falar sobre “o impacto da realização da Copa 2014 no êxodo urbano, na intervenção policial e na formulação de estratégias de segurança pública”. Usando o bordão “Se a Copa é boa eu também quero”, ele recordou o know-how dos Jogos Pan-americanos de 2007 no Rio, o dinheiro público gasto e a repressão e prejuízos para os mais pobres.


“A sociedade brasileira foi construída a partir da violência e do racismo cruel. As vítimas são sempre negros e jovens, homens de até 24 anos, até 29 anos... somos vistos (Raimundo é negro) como quem não tem capacidade de se organizar, de produzir a cidade, de contribuir para a construção da cidade”, discursou.


E citou altas cifras de dinheiro público que vão engordar ainda mais megaempresas como as construtoras originalmente baianas OAS e Odebrecht. Esta última – observou para assinalar o ridículo – se credencia para empreendimentos milionários através de supostos projetos sociais com a inclusão de apenas 26 meninos de rua e 16 apenados. Disse que a previsão é se empregar 700 milhões de reais nas obras do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, 80% recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No total, nas 12 capitais que sediarão jogos da Copa, serão gastos em torno de 27 bilhões de reais, conforme previsões atuais – sem esquecer que, no final das obras, tais previsões têm um poder de elasticidade espantoso.


(Sobre o assunto, ver ampla matéria produzida por este blog em São Paulo, com o mesmo título acima, postada em novembro do ano passado, clicar aqui).


(O seminário foi realizado pelo Instituto Fatumbi, que tem um trabalho social com crianças e adolescentes no Alto das Pombas, bairro popular de Salvador, em parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço -CESE, a Associação Brasileira de ONGs, o Fórum em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Centro de Educação e Cultura Popular – CECUP. Este blog publicará outras matérias sobre o encontro).






LOUCO


(Notinha de primeira página do jornal argentino Página/12, de 22/11/2011)


“Qualquer movimento que se inicia o faz com os que estão dispostos a correr riscos e são imediatamente ridicularizados pelos que dizem ‘olha este louco ou maluco’, mas todos os grandes movimentos começam dessa maneira. Neste Estados Unidos corporativo, os 400 estadunidenses mais ricos do país contam com a riqueza de 150 milhões de estadunidenses juntos. Como podemos realmente nos chamar uma democracia, uma sociedade igualitária, onde cuidamos para que todos possam participar e ter voz e voto, quando 400 possuem mais que 150 milhões?”


Do cineasta Michael Moore (foto) na 28ª. Feira Internacional do Livro de Miami, onde lançou seu último livro Here Comes Trouble (tentando traduzir: “Aí vem problema”).

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