De Salvador (Bahia) – Esse talvez tenha sido o grande consenso, mas se pode apontar um outro: de alguma maneira, eles quiseram e ainda querem – alguns agora com menos fervor e alguma descrença – mudar o Brasil, mudar o mundo. Fora isso reinaram muitas divergências. Os sete velhos militantes políticos se reuniram na noite de segunda-feira, dia 3, no Farol da Barra, num papo informal de mesa de bar (beberam chope e água). Rever amigos, revisitar antigos companheiros e, por que não? falar das nossas imorridas inquietações. Todos transitaram ou transitam, em momentos e circunstâncias às vezes diferentes, assim ou assado, pelo movimento sindical bancário, pelo PC do B e pelo PT.
Mesmo com visão crítica, uns continuam atuando a partir das estruturas oficiais do PT, buscando falar para a sociedade, fazer política independentemente das fases e aspectos eleitorais. Outros estão em outros extremos, já aventam a utilização do protesto do voto nulo e um chegou a pedir, nada mais nada menos do que a prisão do ex-presidente Lula, alarmado com os malefícios causados ao movimento popular pelo afamado líder metalúrgico. Uns outros preferem se manter firmes trabalhando através de movimentos sociais, incluindo a área cultural, buscando não se comprometer com agremiações partidárias e candidatos a cargos eletivos, mesmo porque as poucas investidas neste sentido foram decepcionantes.
- Atuo com um grupo ligado a instâncias dirigentes do PT, promovemos debates abrangendo diversos temas e abertos à participação de forças extra-partidárias, queremos fazer política ampla, ajudar na conscientização da sociedade, visando avançar rumo a um modelo de desenvolvimento compatível com mais justiça social e distribuição da riqueza. Sei que estamos longe de um sistema que nos aponte o horizonte do socialismo, como perseguimos principalmente em nossa juventude, mas vamos em frente, aproveitando inclusive os avanços da política de inclusão social detonada a partir de 2003, com altos e baixos, pelo então presidente Lula.
“É hoje um partido dedicado inteiramente à politicona eleitoreira”
- Eu discordo da possível eficácia de atuação no PT, um partido que não oferece hoje nenhuma perspectiva revolucionária, nenhuma perspectiva de mudança, é hoje um partido dedicado inteiramente à politicona eleitoreira, com alianças subordinadas unicamente ao jogo oportunista, justificadas por essa coisa terrível chamada de governabilidade, um jogo totalmente divorciado dos interesses do povo brasileiro. Tenho votado em candidatos do PT, mas atualmente questiono se não seria mais eficaz trabalhar pelo voto nulo, um voto de protesto buscando ilegitimizar o processo eleitoral. Pensei até que se acertasse na megasena, poderia mandar fazer uns out-doors pregando o voto nulo.
- Tem algum sentido votar nulo diante de tanta safadeza na política e no governo, acho que fico à vontade para criticar porque eu também sempre votei em gente do PT, aquele negócio de votar no menos pior, faltam alternativas confiáveis. Há poucos dias me encontrei com um deputado petista e ele me disse que eu tinha sumido, ‘nunca mais apareceu’, disse. Pois é – eu respondi –, a gente vota em vocês e, depois de eleitos, não atendem nem um telefonema da gente. Você queria o que?
- Eu recentemente passei por uma experiência incômoda. Depois de tantos anos de militância, fui submetido a uma sabatina por uma instância de direção do PT, já que pretendia me filiar novamente ao partido. O pessoal jovem, que não me conhece, queria saber qual era a minha. Fiquei chateado. Depois de duas perguntas e duas respostas, me mandei e desisti da refiliação. Na verdade, sinto falta de discutir política com os companheiros de militância, como fiz muito e estamos fazendo agora, por exemplo.
“Os oito anos de Lula foram bons ou ruins para a mobilização popular?”
- No meu caso pessoal, como sinto demais a falta de protagonismo do povo nos assuntos políticos brasileiros, tenho curiosidade de discutir se os oito anos de Lula foram bons ou foram ruins do ponto de vista da necessidade de mobilização popular. O povo, de modo geral, se mobiliza somente para votar, mas não vai às ruas defender seus interesses, não acredita na sua própria força. Como sair desse marasmo, especialmente levando em conta a fraqueza das forças de esquerda mais afinadas com os ideais de mudança e o direitismo avassalador dos monopólios dos meios de comunicação?
Muito mais foi debatido naquela noite de saudáveis reencontros, como – não poderia, óbvio, faltar – se as ferramentas teóricas do marxismo ainda estão de pé diante de tantas feições novas no mundo do trabalho. Um tema por demais complexo, apropriado para seletos grupos acadêmicos. E rolaram outras conversas, lembranças pessoas, brincadeiras, amenidades, promessa de outros papos, uma certa nostalgia na emoção daqueles que já estão perto ou já ultrapassaram a faixa dos 60 (um, dos mais idosos, lembrou que é preciso tomarmos o depoimento de antigos lutadores do povo, frente à dura realidade: a cada dia um se vai).
No final, algumas trocas de e-mails, o convite para um debate na noite da próxima sexta-feira, dia 7, numa das sedes do PT, no Largo de Santana (Rio Vermelho), e uma despedida bastante comum: “Precisamos nos ver mais, companheiro”.
Comentários
Abraços a todos!
Goiano.
O Clandestino
Lustosa